A epidemia de obesidade é um sério problema de saúde pública e sua prevalência dobrou na última década. Essa condição atinge, em média, um terço das mulheres em idade reprodutiva, sendo a obesidade materna um conhecido fator (de risco modificável) para resultados adversos na gravidez.
Tanto peso excessivo, quanto o baixo peso ao nascer, trazem muitas consequências adversas à saúde, tanto de curto como de longo prazo, o que determina uma pior transição de uma criança para a idade adulta. Estabelecer o papel da obesidade materna (o fator de risco modificável) é um pré-requisito para a implementação das intervenções benéficas para a promoção da saúde fetal/infantil.
Os neonatos macrossômicos (≥ 4000g) têm um risco significativamente maior de obesidade infantil (em 50%) e um risco maior de morte cardiovascular prematura (em 35%). A macrossomia também foi associada a distúrbios do desenvolvimento neurológico em crianças, e muitos estudos têm mostrado associações de obesidade materna com risco de macrossomia.
Os efeitos do baixo peso ao nascer (<2500g) também são graves e estão associados a maior mortalidade infantil. Além de distúrbios neuropsiquiátricos, desempenho educacional reduzido e baixa estatura. Recém-nascidos com baixo peso ao nascer também podem ter um risco maior de obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares na idade adulta.
Um trabalho publicado nesse ano teve como objetivo principal avaliar a relação entre a obesidade pré-gestacional e o risco de baixo peso ao nascer (BPN), restrição de crescimento fetal (FGR) e macrossomia, aplicando múltiplos métodos estatísticos e em uma coorte prospectivamente agrupada.
O mesmo trabalho teve também como objetivos adicionais: avaliar diferentes categorias de IMC, bem como avaliar o IMC como uma variável contínua e determinar um limiar de IMC para cada resultado. Além de avaliar toda a coorte, como também o subgrupo de mulheres com ganho de peso gestacional normal e o subgrupo de mulheres “saudáveis” (mulheres que não desenvolveram diabetes ou hipertensão durante a gravidez).
Os critérios de inclusão para este estudo foram os seguintes:
– Raça caucasiana;
– Residência na região de Wielkopolska;
– 10ª a 14ª semana de gestação (durante o recrutamento);
– Gravidez única;
– Idade da mãe de 18 a 45 anos (no momento da concepção);
– Ausência de quaisquer doenças crônicas (exceto peso anormal antes da gravidez), em particular a ausência de hipertensão ou diabetes mellitus pré-existentes, distúrbios imunológicos e doenças inflamatórias, doenças hepáticas e renais, distúrbios de coagulação ou distúrbios neurológicos;
– Ausência de defeitos fetais e o parto de uma criança fenotipicamente normal com idade gestacional maior ou igual a 25 semanas.
Na coorte, 593 mulheres tinham IMC normal (18,5−24,9 kg/m2), 5,2% tinham baixo peso (IMC <18,0 kg/m2), 19% tinham sobrepeso (25−29,9 kg/m2), 10,8% apresentaram obesidade (IMC ≥ 30 kg / m2), enquanto quatro mulheres (0,44%) apresentaram obesidade grau III (IMC ≥ 40 kg / m2), 338 (37,1%) participantes tiveram ganho de peso gestacional na faixa do “Institute of Medicine” (IOM), e 36,8% das mães tiveram ganho de peso gestacional acima do recomendado.
Os resultados das análises mostraram associações de obesidade pré-gestacional com maior risco de baixo peso ao nascer, restrição de crescimento fetal e macrossomia. Os resultados foram obtidos por meio de regressão logística múltipla e após exclusão dos efeitos do ganho de peso gestacional anormal, hipertensão e diabetes mellitus.
Uma análise do IMC como uma variável contínua (perfis de risco) confirmou que os maiores valores de IMC estavam associados a um maior risco desses três desfechos de recém-nascidos.
É importante ressaltar que o tamanho de alguns subgrupos deste estudo foi pequeno (alguns intervalos de confiança foram bastante amplos), mas as relações encontradas foram estatisticamente significativas, o que significa que os resultados obtidos não foram acidentais. As implicações clínicas de todos os resultados incluem a necessidade de buscar intervenções que visem a mudança de hábitos alimentares e a normalização do peso da mulher antes da gravidez.
Esse trabalho, apesar de possuir algumas limitações (por exemplo, peso pré-gestacional autorrelatado), mostrou que a obesidade pré-gestacional aumentou o risco de macrossomia e baixo peso ao nascer, bem como a restrição de crescimento fetal. Os perfis de risco mostraram que o risco de peso anormal ao nascer já aumentou para valores de IMC no limite superior da faixa de IMC normal.
Os resultados obtidos sugerem efeitos multidirecionais da obesidade no crescimento fetal e confirmam a necessidade contínua de buscar intervenções a fim de normalizar o estado nutricional de mulheres que planejam gravidez, para promover à saúde infantil.
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Referências:
1- Farpour-Lambert, N.J.; Ells, L.J.; Martinez de Tejada, B.; Scott, C. Obesity and Weight Gain in Pregnancy and Postpartum: An Evidence Review of Lifestyle Interventions to Inform Maternal and Child Health Policies. Front. Endocrinol. 2018, 9, 546.
2- Howell, K.R.; Powell, T.L. Effects of Maternal Obesity on Placental Function and Fetal Development. Reprod. Camb. Engl. 2017, 153, R97–R108.
3- Johnson, C.D.; Jones, S.; Paranjothy, S. Reducing Low Birth Weight: Prioritizing Action to Address Modifiable Risk Factors. J. Public Health Oxf. Engl. 2017, 39, 122–131.
4- Lewandowska, M. The Role of Maternal Weight in the Hierarchy of Macrosomia Predictors; Overall Effect of Analysis of Three Prediction Indicators. Nutrients 2021, 13, 801.
5- Lewandowska, M. Maternal Obesity and Risk of Low Birth Weight, Fetal Growth Restriction, and Macrosomia: Multiple Analyses. Nutrients 2021, 13, 1213.