O zinco (Zn) é um microelemento essencial que está presente em todos os tecidos e fluidos corporais, principalmente na via intracelular. A quantidade total de zinco no corpo humano é estimada em 2–3g, e menos de 0,2% dela é encontrada no plasma, onde sua concentração é de cerca de 15 µmol/L (100 µg/dL).
O status do zinco em humanos depende do sexo, idade, condição fisiológica e ingestão alimentar. Muitos alimentos diferentes contêm zinco, mas os de origem animal (órgãos e carne de mamíferos, peixes, ovos e laticínios) são a fonte mais rica de zinco bem absorvível. Alimentos de origem vegetal, como cereais, grãos, nozes e leguminosas, contêm quantidades menores e menos eficientes na absorção deste elemento.
A biodisponibilidade do zinco depende de sua forma química, de sua solubilidade e da presença de outras substâncias nos alimentos, que influenciam a eficiência de sua absorção. O principal inibidor desse processo é o fitato, que está presente em muitos alimentos vegetais e se liga irreversivelmente ao zinco no lúmen intestinal, perturbando sua absorção. Geralmente, sua absorção aumenta com a ingestão de proteínas. As proteínas animais melhoram a biodisponibilidade do zinco de fontes alimentares de origem vegetal (neutralizando o efeito inibitório dos fitatos). Ligantes solúveis ou quelantes de zinco (por exemplo, aminoácidos e ácidos orgânicos) têm um efeito positivo em sua absorção, aumentando a solubilidade.
O zinco desempenha um papel muito importante na manutenção da homeostase. Faz parte de cerca de 3.000 proteínas humanas, nas quais atua como íon catalítico, estrutural ou regulador; além de desempenhar um papel crucial no bom funcionamento das células (incluindo sua diferenciação, crescimento e divisão), sistema endócrino e imunológico, transcrição, síntese de proteínas, RNA e DNA; e na replicação de DNA.
O zinco também é fundamental para manter o equilíbrio redox. Demonstra ação antioxidante e efeitos protetores contra espécies reativas de oxigênio (ROS) que são sinérgicas com outros antioxidantes (por exemplo, vitamina E). O nível de zinco influencia a atividade de muitas enzimas antioxidantes, incluindo Cu/Zn superóxido dismutase (SOD1), que protege, entre outros, contra danos ao DNA.
No hipocampo, o zinco influencia as funções cognitivas, melhora a memória e minimiza o risco de depressão. Além disso, reduz a fadiga, as alterações de humor e a hiperatividade psicomotora. É bem conhecido que o zinco é crucial para auxiliar na produção de células do sistema imunológico e no aumento da sensibilidade celular à insulina.
O zinco também é necessário para o crescimento da pele, cabelos e unhas, pois está envolvido na formação adequada dos tecidos conjuntivos e na síntese de colágeno.
A deficiência de zinco pode levar a mudanças graves no funcionamento do corpo, incluindo o sistema reprodutivo.
Uma revisão publicada em 2020 investigou estudos controlados e randomizados em populações de mulheres reprodutivas, pré e pós-menopausa e pesquisas que tentam explicar o impacto potencial do zinco e sua suplementação na etiologia de doenças relacionadas ao sistema reprodutor feminino.
Dos 36 artigos incluídos na revisão, 17 artigos são relacionados à síndrome dos ovários policísticos, 6 artigos são referentes à dismenorreia primária, (incluindo um artigo que descreve cinco relatos de caso), 8 sobre endometriose e 5 sobre pré e pós-menopausa.
Zinco e síndrome dos ovários policísticos (SOP)
A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é considerada o distúrbio endócrino e metabólico mais comum em mulheres em idade reprodutiva. A SOP é um distúrbio heterogêneo conectado a sintomas relacionados a desequilíbrios hormonais (especialmente aumento na concentração de andrógenos) e disfunção ovariana.
A patogênese dessa doença ainda permanece obscura, mas a SOP se manifesta por: desregulação do ciclo menstrual, hiperandrogenismo, resistência à insulina e comprometimento do equilíbrio hormonal e lipídico.
Alguns dos estudos analisados mostraram uma concentração sérica de zinco reduzida em mulheres com SOP, comparado a mulheres saudáveis, e a maioria dessas alterações foram estatisticamente significativas. Apenas Kurduglu et al. (2012) observaram uma concentração de zinco sérico significativamente maior.
As alterações mais frequentemente observadas em mulheres com SOP foram distúrbios do equilíbrio hormonal, lipídico e redox, além da resistência à insulina. O zinco, devido ao seu efeito multidirecional, pode contribuir para o desenvolvimento de muitas dessas anormalidades.
Um dos principais sinais bioquímicos da SOP é a resistência à insulina, com hiperinsulinemia compensatória afetando cerca de 70% dos pacientes com SOP, e está associado ao fato dessas mulheres apresentarem risco aumentado de desenvolver diabetes mellitus tipo 2, doença cardiovascular, hipertensão e diabetes gestacional.
O zinco é importante para síntese, liberação, ação e armazenamento da insulina em condições normais e de diabetes mellitus, devido a sua ação reguladora na sinalização da fosforilação da insulina e seu efeito no estresse oxidativo.
Observou-se que a suplementação de zinco parece ser benéfica para pacientes com SOP, diminuindo significativamente a concentração de insulina e o índice HOMA-IR.
Intimamente relacionada a resistência à insulina está a dislipidemia, caracterizada na SOP por lipoproteínas ricas em triglicerídeos, bioacumulação do colesterol LDL e diminuição do colesterol HDL.
Oito semanas de suplementação com sulfato de zinco diminuíram significativamente as concentrações de triglicerídeos, colesterol total, colesterol LDL e colesterol VLDL.
Mulheres com SOP geralmente também apresentam distúrbios hormonais, como hiperandrogenismo. Essas anormalidades foram observadas pelos autores de muitos estudos por meio do aumento significativo na concentração de testosterona total, testosterona livre e dehidroepiandrosterona (DHEA), em comparação com mulheres sem SOP. Entretanto, o efeito da suplementação de zinco sobre o equilíbrio hormonal em mulheres com SOP, especialmente nas concentrações de testosterona, ainda não está claro.
Um dos efeitos do hiperandrogenismo é o hirsutismo, que também foi observado em mulheres com SOP. No entanto, nenhuma associação foi encontrada entre o hirsutismo e a concentração sérica de zinco.
Mudanças nas concentrações de LH, FSH e prolactina também foram associadas a desequilíbrios hormonais entre mulheres com SOP, embora a direção dessas mudanças não fosse tão óbvia e, em alguns estudos, estatisticamente insignificante, mesmo após a suplementação com sulfato de zinco.
O zinco é considerado um dos cofatores de enzimas antioxidantes, como a catalase (CAT) e a superóxido dismutase 1 (SOD1). Embora os estudos descritos nesta revisão não tenham mostrado quaisquer alterações na atividade de SOD1, alterações na concentração de zinco sérico, concentração de cobre sérico, bem como a razão cobre/zinco foram observadas em mulheres com SOP.
A geração mais elevada de espécies reativas de oxigênio é pressuposta como um dos fatores envolvidos na etiopatogênese da SOP, pois resulta em peroxidação lipídica e dano aos lipídios da membrana celular. O desequilíbrio redox é manifestado por um mecanismo antioxidante prejudicado, ou seja, diminuição da atividade de catalase e glutationa peroxidase e aumento de biomarcadores de estresse oxidativo. Em mulheres com SOP, a diminuição da peroxidação lipídica (indicada por menores concentrações de malondialdeído) foi observada após a suplementação de zinco.
Os estudos resumidos mostram o efeito positivo da suplementação de zinco em mulheres com SOP em comparação com aquelas sem suplementação. Isto foi confirmado por um aumento na capacidade antioxidante total com uma diminuição simultânea nas concentrações de proteína carboxila e malondialdeído. Além disso, vários índices de resistência à insulina foram documentados (isto é, concentração diminuída de insulina), bem como concentrações reduzidas de lipídios, como colesterol total e triglicerídeos. Também foi demonstrada uma diminuição na concentração dos hormônios testosterona e deidroepiandrosterona. Porém, não se pode afirmar que apenas o zinco pode ser responsável por essas alterações, pois em alguns estudos também foi utilizada uma suplementação simultânea de zinco com magnésio ou cálcio e vitamina D.
Referências:
1- Nasiadek, Marzenna, et al. “The Role of Zinc in Selected Female Reproductive System Disorders.” Nutrients 12.8 (2020): 2464.
2- Brown, K.H.; Wuchler, S.E.; Peerson, J.M. The Importance of Zinc in Human Nutrition and Estimation of the Global Prevalence of Zinc Deficiency. Food Nutr. Bull. 2001, 22, 113–125;
3- Roohani, N.; Hurrell, R.; Kelishadi, R.; Schulin, R. Zinc and its importance for human health: An integrative review. J. Res. Med. Sci. 2013, 18, 144–157;
4- Chasapis, C.T.; Ntoupa, P.-S.A.; Spiliopoulou, C.A.; Stefanidou, M.E. Recent aspects of the effects of zinc on human health. Arch. Toxicol. 2020, 94, 1443–1460;