Zinco e Dismenorreia
A dismenorreia é classificada em primária e secundária. A dismenorreia primária (DP) é definida como uma menstruação dolorosa resultante de espasmo uterino na ausência de patologia pélvica. É caracterizada por dores abdominais inferiores recorrentes e com cólicas durante a menstruação.
A patogênese da dismenorreia primária tem sido associada, principalmente, à atividade das prostaglandinas e leucotrienos. O zinco reduz a síntese de prostaglandinas por meio de sua capacidade de atuar como um catalisador antioxidante endógeno e um agente anti-inflamatório que pode melhorar a microcirculação do tecido endometrial. Também participa da regulação do estado inflamatório crônico por meio da redução das citocinas inflamatórias.
Além disso, pacientes com sinais de síndrome pré-menstrual demonstraram concentrações mais baixas de zinco na fase lútea do que em outras fases do ciclo menstrual, em comparação com os controles, o que pode indicar deficiência de zinco.
Com base nos estudos randomizados avaliados, é possível que a suplementação de zinco possa ser usada na prevenção da dismenorreia primária. As mulheres foram suplementadas com zinco em doses de 20 a 126 mg/dia, por 3-6 dias, geralmente por dois ou três ciclos menstruais. O alívio da dor foi observado no primeiro ciclo de suplementação de zinco, mas o efeito mais significativo foi observado no segundo ou terceiro ciclo. A redução da intensidade da dor foi observada independentemente da dose de zinco (em todas as doses usadas e sem quaisquer efeitos adversos) administrada por 3-6 dias, começando antes ou durante o ciclo menstrual. No entanto, em contraste com a dose, o alívio significativo da dor menstrual provavelmente depende da regularidade da suplementação de zinco.
Os melhores resultados foram obtidos quando o zinco foi administrado para cada ciclo menstrual por 3-6 dias antes e durante a menstruação. No entanto, em um estudo, o alívio da dor menstrual foi obtido quando o zinco foi administrado por 4 dias antes da menstruação. Esse efeito também parece depender do tempo de administração.
Infelizmente, a concentração plasmática de zinco não foi avaliada como um biomarcador de suplementação nos estudos descritos, o que impede a determinação precisa da dose efetiva de zinco. Além disso, a interação potencial entre o zinco e o cobre não foi levada em consideração.
Zinco e Endometriose
A endometriose é uma doença ginecológica debilitante caracterizada pela implantação de tecido endometrial em locais ectópicos, incluindo o peritônio pélvico, ovários e intestino.
É uma das principais causas de infertilidade associada à inflamação e diminuição da qualidade do oócito e receptividade endometrial à implantação embrionária. Apesar da alta prevalência da doença, pouco se sabe sobre sua etiologia, sobre possíveis fatores de risco, ou sobre uma terapia adequada e satisfatória.
Entre muitos fatores implicados na fisiopatologia da endometriose, foi proposto que o estresse oxidativo, produção de prostaglandinas, citocinas e metaloproteinases de matriz (MMPs) desempenham um papel fundamental.
Sugere-se que o zinco possa ter um papel na endometriose devido a sua função como antioxidante, anti-inflamatório e fator de regulação imunológica. Alguns estudos clínicos relatam concentrações reduzidas de zinco sérico em mulheres com endometriose, sugerindo que o zinco pode estar envolvido na patogênese multifatorial dessa doença.
Além disso, foi notado que mulheres com endometriose podem apresentar aumento dos parâmetros de estresse oxidativo. Foi relatado uma redução significativa de superóxido dismutase (SOD1) e aumento de peroxidases lipídicas no plasma dessas mulheres.
É possível que o zinco desempenhe um papel importante na endometriose porque também é um inibidor de metaloproteinases de matriz. As concentrações elevadas de MMP-2 e MMP-9 foram relatadas em mulheres com endometriose em relação ao controle.
Existem apenas alguns estudos que apoiam a eficácia clínica da suplementação de zinco e outros antioxidantes na endometriose, mas para fornecer evidências fortes são necessários mais ensaios clínicos randomizados e controlados por placebo.
Zinco na pré e pós-menopausa
Os efeitos do zinco no sistema reprodutivo nos períodos da pré e pós-menopausa são desconhecidos.
Takcas et al. (2020) não identificaram qualquer relação entre a suplementação oral diária de zinco (30 mg) e a concentração de zinco no fluido de lavagem cervicovaginal em mulheres pré e pós-menopausa.
Outro estudo piloto descobriu que o zinco contido no gel hidratante vaginal induz uma melhora significativa dos sintomas vulvovaginais da pós-menopausa. No entanto, esses achados precisam ser confirmados em estudos maiores.
Além disso, Sunar et al. (2008) não demonstraram qualquer efeito significativo na concentração sérica de estradiol e progesterona entre mulheres na pós-menopausa após duas semanas de suplementação com baixas doses de zinco (15mg/dia de sulfato de zinco).
Apesar das evidências, os autores concluem ainda ser cedo para tirar conclusões, e recomendam mais estudos que expliquem e avaliem o impacto potencial do zinco e sua suplementação no sistema reprodutor feminino.
Conclusão
Concluindo, o zinco é importante tanto no sistema reprodutor masculino quanto no feminino. Desempenha um papel crítico no funcionamento deste sistema ao desempenhar uma função protetora, por exemplo, como um antioxidante.
A suplementação de zinco parece melhorar os sintomas da SOP, particularmente entre mulheres com resistência à insulina desregulada e equilíbrio lipídico. Além disso, níveis reduzidos de zinco na SOP são acompanhados por comprometimento do metabolismo hormonal, lipídico e de glicose e aumento das concentrações de biomarcadores de estresse oxidativo.
Na dismenorreia primária, o zinco administrado de uma a quatro doses diárias de 20-30 mg, antes e durante cada ciclo menstrual, pode reduzir a intensidade da dor que acompanha a menstruação. Por outro lado, o possível envolvimento do zinco na patogênese da endometriose precisa ser esclarecido, assim como seu papel no alívio desse distúrbio.
Ainda é muito cedo para tirar conclusões mais explícitas e mais estudos, explicando o impacto potencial do zinco e sua suplementação no sistema reprodutor feminino, seriam altamente aconselháveis e valiosos. O papel do zinco na endometriose e em mulheres na pós-menopausa é uma questão emergente que também requer mais atenção e pesquisa científica.
Referências:
1- Chasapis, C.T.; Ntoupa, P.-S.A.; Spiliopoulou, C.A.; Stefanidou, M.E. Recent aspects of the effects of zinc on human health. Arch. Toxicol. 2020, 94, 1443–1460;
2- Brown, K.H.; Wuchler, S.E.; Peerson, J.M. The Importance of Zinc in Human Nutrition and Estimation of the Global Prevalence of Zinc Deficiency. Food Nutr. Bull. 2001, 22, 113–125;
3- Roohani, N.; Hurrell, R.; Kelishadi, R.; Schulin, R. Zinc and its importance for human health: An integrative review. J. Res. Med. Sci. 2013, 18, 144–157;
4- Nasiadek, Marzenna, et al. “The Role of Zinc in Selected Female Reproductive System Disorders.” Nutrients 12.8 (2020): 2464.