A amenorreia hipotalâmica funcional (AHF) é uma condição muito comum que aflige mulheres em idade reprodutiva. O diagnóstico é baseado na exclusão de outras causas de não menstruação, incluindo fatores orgânicos e anatômicos.
Os fatores predisponentes incluem baixa disponibilidade energética, deficiências de nutrientes, atividade física excessiva, falta de regeneração do endométrio, sono anormal, tensão emocional, estresse crônico ou grave incontrolável e comportamento disfuncional, sendo a coexistência de muitos componentes uma ocorrência comum na amenorreia hipotalâmica funcional.
Em resposta aos fatores mencionados, a secreção pulsátil do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) no hipotálamo é bloqueada, o que resulta na secreção anormal de hormônios tróficos pela glândula pituitária. Como consequência, a produção de estrogênio é reduzida, não ocorrendo ovulação, e a progesterona também está ausente porque a ovulação está completamente bloqueada. Dessa maneira, todo o ciclo mensal é desregulado e, com o tempo, torna-se totalmente ausente.
Além de ser um distúrbio associado a funções reprodutivas, a amenorreia hipotalâmica funcional está intimamente relacionada com o sistema endócrino e com neurotransmissores. Um exemplo disso é a diminuição de níveis de TSH e T4 na tireoide, levando a uma diminuição de T3 e acarretando, também, em prejuízos na conversão de T4 em T3.
Outras alterações características são reduções nos níveis de leptina, glicose, insulina, fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-1), kisspeptina, e níveis elevados de cortisol.
Na literatura científica, o perfil psicológico de mulheres com distúrbios funcionais da menstruação é bem caracterizado. Este perfil inclui perfeccionismo, altas exigências para si e para os outros, baixa autoestima, introversão, medo de julgamento, uma forte necessidade de aceitação social, problemas de comunicação, medo da maturidade e da sexualidade, incapacidade de lidar com o estresse e problemas diários e incapacidade de definir as próprias emoções. Ademais, foram observados altos níveis de ansiedade, depressão e distúrbios do sono.
Além das disfunções cognitivas, o estresse relacionado a vida cotidiana e uma incapacidade de lidar com esse estresse, padrões de sono anormais, exercício físico excessivo e uma escassez de energia e nutrientes se combinam para formar um mecanismo de “bola de neve” e reatividade aprimorada.
Um determinante importante para o desenvolvimento da amenorreia hipotalâmica funcional é a baixa disponibilidade de energia. Esse problema se deve a falta de adaptação às necessidades de consumo alimentar e/ou ao aumento do gasto energético vinculado ao exercício físico, com ambos os componentes frequentemente ocorrendo juntos. Independentemente do substrato, essa condição gera um déficit de energia que se traduz em estresse metabólico no corpo, sendo a deficiência de micronutrientes um potencial fator agravante adicional.
Em um estudo usando uma preparação de 360 kcal para aumentar o fornecimento energético, sem mudanças na atividade esportiva por um período de seis meses, foi observada menstruação com ovulação. Este estudo também observou um aumento mínimo de 1,6 kg do peso corporal, o que foi adequado dadas as calorias dos produtos utilizados.
Outro estudo usou uma intervenção de 3 meses para aumentar o fornecimento de energia e melhorar os hábitos alimentares. Como resultado, foram geradas 234 kcal de energia extra, acompanhadas por um aumento no fornecimento de macronutrientes, vitaminas e minerais. A menstruação regular não foi retomada. No entanto, o aumento do nível de LH e o aumento do nível da razão de FSH para LH foram observados e correlacionados positivamente com a disponibilidade energética. Esses parâmetros fornecem uma indicação promissora de uma recuperação gradual do equilíbrio e funções corretas do organismo.
Estudos sugerem que mais atenção também deve ser dada à redistribuição de energia ao longo de 24 horas para evitar um déficit latente. Um intervalo muito grande entre as refeições leva a quedas significativas na glicose, portanto, o jejum ou jejum intermitente não é aconselhável.
Minerais e vitaminas também desempenham um papel importante. Atenção especial na literatura é dada a vitamina D3 e ao cálcio. Os estudos também sugerem a possibilidade de deficiência de magnésio, zinco, ferro e ácido fólico, vitaminas A, E, K e C.
O primeiro passo para o tratamento dessa condição deve ser sempre consultar um ginecologista ou endócrino para obter um diagnóstico completo e excluir outras doenças, e assim, controlar o estado atual do corpo. Uma revisão detalhada da dieta do paciente, atividade física, sentimentos de estresse, sono, atitudes em relação a nutrição e perfil psicológico também são cruciais.
Deve-se ter atenção se o paciente apresenta características típicas de AHF e se algum transtorno alimentar está presente. Dados suficientes podem ajudar a localizar a causa principal do problema, e as causas primárias mais destrutivas devem ser tratadas primeiro.
As diretrizes de endocrinologia recomendam enfaticamente focar na solução dos problemas comportamentais que contribuíram para o problema, com o tratamento farmacológico não sendo encorajado para o tratamento de primeira linha.
Ao que parece, a individualização das intervenções é fundamental, e uma abordagem multidisciplinar parece ser a melhor solução para promover um prognóstico promissor para essa condição.
Referências:
1- Gordon, C.M.; Ackerman, K.E.; Berga, S.L.; Kaplan, J.R.; Mastorakos, G.; Misra, M.; Murad, M.H.; Santoro, N.F.; Warren, M.P. Functional Hypothalamic Amenorrhea: An Endocrine Society Clinical Practice Guideline. J. Clin. Endocrinol. Metab. 2017, 102, 1413–1439;
2- Sowi ´nska-Przepiera, E.; Andrysiak-Mamos, E.; Jarz ˛abek-Bielecka, G.; Walkowiak, A.; Osowicz-Korolonek, L.; Syrenicz, M.; K ˛edzia, W.; Syrenicz, A. Functional Hypothalamic Amenorrhoea–Diagnostic Challenges, Monitoring, and Treatment. Endokrynol. Pol. 2015, 66, 252–268;
3- Lania, A.; Gianotti, L.; Gagliardi, I.; Bondanelli, M.; Vena, W.; Ambrosio, M.R. Functional Hypothalamic and Drug-Induced Amenorrhea: An Overview. J. Endocrinol. Investig. 2019, 42, 1001–1010;
4- Kyriakidis, M.; Caetano, L.; Anastasiadou, N.; Karasu, T.; Lashen, H. Functional Hypothalamic Amenorrhoea: Leptin Treatment, Dietary Intervention and Counselling as Alternatives to Traditional Practice-Systematic Review. Eur. J. Obstet. Gynecol. Reprod. Biol. 2016, 198, 131–137;
5- Ryterska, Karina, Agnieszka Kordek, and Patrycja Załęska. “Has Menstruation Disappeared? Functional Hypothalamic Amenorrhea—What Is This Story about?.” Nutrients 13.8 (2021): 2827.