Níveis mais baixos de vitamina D e resistência à insulina em mulheres brasileiras obesas

A obesidade é um dos principais problemas de saúde pública, com uma prevalência média mundial atingindo 13% dos indivíduos adultos, sendo as mulheres as mais afetadas. No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 30% dos brasileiros são obesos, sendo que as mulheres representam 60% dessa população.
Alguns trabalhos têm relacionado a obesidade com a deficiência de vitaminas e minerais essenciais, incluindo a vitamina D. A deficiência de vitamina D tem impacto direto na produção e sinalização das vias da insulina, podendo acelerar e contribuir para o estabelecimento da resistência à insulina (RI), que se justifica pelo fato dessa vitamina ter funções capazes de estimular a expressão de receptores na membrana celular e aumentar a secreção de insulina pelas células pancreáticas.
Neste ano foi publicado um estudo transversal onde foram avaliadas 103 mulheres com diagnóstico de obesidade, recrutadas entre 2009 e 2013, em um ambulatório de referência em obesidade na Bahia (Brasil).
As características laboratoriais e clínicas foram comparadas entre os grupos de acordo com o grau de obesidade (I, II e III), e os níveis de 25-hidroxivitamina D [25(OH)D] foram usados para definir o estado de vitamina D (insuficiência e sem insuficiência). Os pesquisadores também calcularam o HOMA-IR para avaliar a resistência à insulina nos grupos.
Primeiramente, estratificaram a coorte de acordo com a classe de obesidade: 32 mulheres com obesidade grau I, 40 com obesidade grau II e 31 com obesidade grau III. Em seguida, as pacientes foram agrupadas de acordo com o status de 25(OH)D: 76 sem níveis de insuficiência e 27 com insuficiência. Os grupos apresentaram características clínicas e laboratoriais semelhantes, exceto para o HOMA-IR variável, identificando níveis mais elevados no grupo com insuficiência, em contraste com sem insuficiência.
O perfil lipídico das pacientes do estudo foi semelhante, mas os valores do hormônio estimulador da tireoide (TSH) e da proteína C reativa (PCR) foram significativamente diferentes entre os grupos de estudo. É importante ressaltar que os níveis de TSH e PCR foram maiores em pacientes com obesidade grau III, e esses achados sugerem um estado pró-inflamatório mais pronunciado em pacientes com um grau mais grave de obesidade.
Os níveis de glicose de jejum e hemoglobina glicada (HbA1c) foram semelhantes entre os grupos, enquanto os valores de HOMA-IR e insulina foram diferentes, de forma que o grupo de pacientes com obesidade grau III apresentou o maior valor de HOMA-IR, e o grupo de pacientes com obesidade grau II apresentou o maior valor de insulina.
Realizaram uma análise de correlação de Spearman para avaliar diretamente as associações entre os níveis de 25(OH)D e a resistência à insulina de acordo com o HOMA-IR e com os níveis de insulina. Nos resultados encontrados, verificaram que o nível de 25(OH)D se associou negativamente aos valores do HOMA-IR, sendo o único parâmetro que apresentou significância estatística.
Avaliaram também as relações entre suficiência e insuficiência de 25(OH)D de acordo com o HOMA-IR e o IMC das pacientes. Observaram que aumentos graduais nos valores de HOMA-IR foram relacionados a aumentos notáveis nos valores de IMC em mulheres obesas com insuficiência de 25(OH)D; o mesmo comportamento não foi observado nas mulheres obesas sem insuficiência de 25(OH)D.
Esses achados indicam que a insuficiência de vitamina D foi diretamente associada a mudanças substanciais nas concentrações de parâmetros laboratoriais que se relacionam com a resistência à insulina.
Este estudo apresentou algumas limitações. O tamanho da amostra é pequeno (o que, segundo os autores, foi devido a dificuldade de se obter os parâmetros laboratoriais necessários em pacientes adequados), o desenho transversal do estudo não permite estabelecer um efeito causal entre os achados e por fim, a ausência de um grupo controle aumenta as chances de possíveis interferências nos achados.
Mais investigações com grupos amostrais maiores e acompanhamento dos pacientes são necessárias para que possamos melhor compreender a dinâmica estabelecida entre os níveis de 25(OH)D e a resistência periférica à insulina em pacientes obesos, e também para melhor compreender a relação entre vitamina D, obesidade, resistência à insulina e imunidade.
Referências:
1- McKay, J.; Ho, S.; Jane, M.; Pal, S. Overweight & obese Australian adults and micronutrient deficiency. BMC Nutr. 2020, 6, 12;
2- Via, M. The malnutrition of obesity: Micronutrient deficiencies that promote diabetes. ISRN Endocrinol. 2012, 2012, 103472;
3- Zakharova, I.; Klimov, L.; Kuryaninova, V.; Nikitina, I.; Malyavskaya, S.; Dolbnya, S.; Kasyanova, A.; Atanesyan, R.; Stoyan, M.; Todieva, A.; et al. Vitamin D Insufficiency in Overweight and Obese Children and Adolescents. Front. Endocrinol. 2019, 10, 103;
4- Szymczak-Pajor, I.; Sliwinska, A. Analysis of Association between Vitamin D Deficiency and Insulin Resistance. Nutrients 2019, 11, 794;
5- Schleu, Minna F., et al. “Lower Levels of Vitamin D Are Associated with an Increase in Insulin Resistance in Obese Brazilian Women.” Nutrients 13.9 (2021): 2979.

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