Nas últimas décadas a prevalência da obesidade aumentou consideravelmente. Em 1975, 5% da população mundial era obesa, em contrapartida, em 2016, 13% da população mundial apresentava o quadro de obesidade, segundo o banco de dados da OMS.
A obesidade é definida como um acúmulo excessivo de gordura corporal que leva a complicações de saúde. O desenvolvimento da obesidade é agravado por uma dieta hipercalórica, rica em açúcar e lipídios, contribuindo para elevação da glicemia e acúmulo de gordura.
Uma revisão sistemática concluiu que o jejum intermitente pode fornecer um benefício metabólico significativo, melhorando o controle glicêmico, a resistência à insulina e a concentração de adipocina, bem como uma redução no índice de massa corporal em adultos.
Geralmente, o jejum intermitente restringe a janela de alimentação de 6 – 10 horas por dia. Entretanto, nem todos os estudos mostram os mesmos resultados positivos. Um dos motivos que poderiam explicar os resultados controversos das práticas de jejum é que esses métodos não
consideram a importância de combinar o tempo de ingestão de alimentos com o relógio circadiano.
Os organismos estão sujeitos a ritmos circadianos (oscilações que ocorrem em um período de aproximadamente 24 horas), que são úteis para facilitar o desempenho de processos fisiológicos nos horários ideais do dia.
O relógio circadiano é essencial para a saúde e fornece os ritmos de funcionamento para muitos sistemas orgânicos, como por exemplo, o sistema digestivo, cardiovascular, endócrino e reprodutivo.
Evidências crescentes mostram que a interrupção do relógio circadiano é a causa de muitas doenças metabólicas, como obesidade, diabetes ou doenças cardiovasculares.
A alimentação em tempo restrito precoce, onde a ingestão de alimentos ocorre entre 8h e 18h, facilitou a perda de peso e a redução do apetite em pessoas com sobrepeso e obesidade.
Pacientes pré-diabéticos e diabéticos, caracterizados por uma tolerância diminuída à glicose, apresentaram níveis de insulina mais baixos e uma melhor sensibilidade à insulina quando restringiram sua janela alimentar diária para 8 horas por dia. Além disso, a restrição da janela alimentar induziu alterações nos marcadores cardiovasculares ao diminuir a pressão arterial e os níveis de LDL.
As mudanças observadas entre os participantes deste estudo são benéficas para saúde metabólica. Uma diminuição no peso corporal e perda de gordura corporal estão associadas a uma melhoria na qualidade de vida relacionada à saúde, redução nos riscos de obesidade e desenvolvimento de comorbidades.
Apesar de seus inúmeros benefícios, o jejum intermitente tem suas desvantagens e limitações, que por vezes, restringem sua aplicação. Um dos pontos mais restritivos é janela de alimentação de 6 horas ao invés de 10 horas por dia, o que pode ser difícil de ser sustentado ao mesmo tempo que se mantém uma vida familiar, social ou profissional.
O trabalho noturno torna o jejum intermitente difícil de ser respeitado devido aos horários de trabalho dessincronizados que perturbam a rotina da vida cotidiana.
Como as pesquisas sobre alimentação em tempo restrito são limitadas, estudos futuros devem ser realizados para estabelecer claramente o tempo ideal e a duração da janela alimentar, a fim de propor protocolos de alimentação com restrição de tempo seguros e eficientes.
Referências:
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