Associação do uso de ômega-3 com sintomas de ansiedade

A ansiedade é o sintoma psiquiátrico mais comumente vivenciado. Ela é marcada por preocupação e medo excessivos e, muitas vezes, coligada a sintomas depressivos, estando associada a uma menor qualidade de vida relacionada à saúde e ao aumento do risco de mortalidade por todas as causas.
As opções de tratamento incluem tratamentos psicológicos, como terapia cognitivo-comportamental e tratamentos farmacológicos, principalmente com inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS).
Indivíduos com ansiedade e transtornos relacionados tendem a se preocupar mais com os potenciais efeitos adversos dos tratamentos farmacológicos (por exemplo, sedação) e podem relutar em se envolver em tratamentos psicológicos, que podem ser demorados e caros, e por vezes, limitados em disponibilidade. Assim, tratamentos baseados em evidências e com maior segurança são necessários, especialmente para pacientes ansiosos com comorbidades.
Ácidos graxos poliinsaturados ômega-3 (PUFAs), como o ácido eicosapentaenóico (EPA) e o ácido docosahexaenóico (DHA), são nutrientes essenciais que têm potenciais efeitos preventivos e terapêuticos em transtornos psiquiátricos como ansiedade e depressão.
Vários estudos revelaram que os PUFAs ômega-3 podem reduzir a ansiedade em situações de estresse grave. Estudos de caso-controle mostraram baixos níveis periféricos de PUFA ômega-3 em pacientes com transtornos de ansiedade. Um estudo de coorte descobriu que níveis elevados de EPA sérico foram associados a proteção contra transtorno de estresse pós-traumático.
Além disso, um ensaio clínico randomizado salientou que os PUFAs ômega-3 tiveram efeitos adicionais na redução dos sintomas depressivos e de ansiedade em pacientes com infarto agudo do miocárdio, e um outro ensaio clínico randomizado demonstrou que os PUFAs ômega-3 poderiam reduzir a inflamação e a ansiedade entre adultos jovens saudáveis enfrentando uma prova estressante. Apesar dos achados amplamente positivos desses estudos, a aplicação clínica é, infelizmente, limitada por seus pequenos tamanhos de amostra.
Em 2018, uma metanálise foi publicada no JAMA (The Journal of the American Medical Association) e teve como objetivo investigar os efeitos ansiolíticos dos PUFAs ômega-3 em participantes com sintomas de ansiedade elevados. Até esse estudo, nenhuma revisão sistemática e metanálise haviam sido conduzidas sobre esse tópico.
Os autores dessa investigação realizaram uma pesquisa de ensaios clínicos avaliando o efeito ansiolítico de PUFAs ômega-3 em humanos, em projetos controlados por placebo ou não controlados por placebo. Dos 104 artigos selecionados, 19 entraram na etapa final de extração de dados para o estudo.
Nos 19 estudos recrutados, havia um total de 1.203 participantes com tratamento de PUFA ômega-3 (idade média: 43 anos e 7 meses; proporção feminina média: 55,0%; dosagem média de PUFA ômega-3: 1605,7 mg/d) e 1.037 participantes sem tratamento com PUFA ômega-3 (idade média: 40 anos e 6 meses; proporção feminina média: 55,0%).
No total, 19 artigos com 19 conjuntos de dados revelaram os principais resultados da metanálise, ou seja, que houve uma associação significativamente melhor na redução dos sintomas de ansiedade em pacientes recebendo tratamento com PUFA ômega-3 do que naqueles que não o receberam.
De acordo com o teste trim-and-fill, não houve necessidade de ajuste para viés de publicação. Os resultados da metanálise permaneceram significativos após a remoção de qualquer um dos estudos incluídos, o que indicou que os resultados significativos não são devidos a nenhum estudo único em específico.
Cinco estudos com 7 conjuntos de dados recrutaram participantes sem condições clínicas específicas. Os principais resultados revelaram que não houve diferença significativa na associação da redução dos sintomas de ansiedade entre pacientes recebendo tratamento com PUFA ômega-3 e aqueles que não estão recebendo.
Já os outros quatorze estudos com 14 conjuntos de dados recrutaram participantes com diagnósticos clínicos específicos. Os principais resultados revelaram uma associação significativamente maior de redução dos sintomas de ansiedade em pacientes recebendo o tratamento com PUFAs ômega-3 do que naqueles que não o receberam.
Além disso, de acordo com o teste de interação, a associação do tratamento com PUFA ômega-3 com redução dos sintomas de ansiedade foi significativamente mais forte em subgrupos com diagnósticos clínicos específicos do que em subgrupos sem condições clínicas específicas.
A análise de subgrupos demonstrou que o efeito ansiolítico dos PUFAs ômega-3 foi significativamente melhor do que o dos controles apenas nos subgrupos com uma dosagem mais alta (pelo menos 2.000 mg/d) e não nos subgrupos com uma dosagem mais baixa (< 2.000 mg/d).
Apesar dos resultados promissores dessa revisão demonstrando melhora nos sintomas de ansiedade com o uso de ômega 3, os autores destacam que os resultados devem ser interpretados com cautela devido a algumas limitações do estudo, que incluem as pequenas amostras dos estudos, a população de participantes muito heterogênea (devido aos critérios de inclusão) e também a heterogeneidade dos estudos incluídos.
Referências:
1- Kessler RC, Petukhova M, Sampson NA, Zaslavsky AM, Wittchen HU. Twelve-month and lifetime prevalence and lifetime morbid risk of anxiety and mood disorders in the United States. Int J Methods Psychiatr Res. 2012;21(3): 169-184;
2- Tolmunen T, Lehto SM, Julkunen J, Hintikka J, Kauhanen J. Trait anxiety and somatic concerns associate with increased mortality risk: a 23-year follow-up in aging men. Ann Epidemiol. 2014;24(6):463-468;
3- Su KP, Shen WW, Huang SY. Effects of polyunsaturated fatty acids on psychiatric disorders. Am J Clin Nutr. 2000;72(5):1241;
4- Sarris J, Logan AC, Akbaraly TN, et al. International Society for Nutritional Psychiatry Research consensus position statement: nutritional medicine in modern psychiatry. World Psychiatry. 2015;14(3):370-371;
5- Su KP, Matsuoka Y, Pae CU. Omega-3 polyunsaturated fatty acids in prevention of mood and anxiety disorders. Clin Psychopharmacol Neurosci. 2015;13(2):129-137;
6- Freeman MP, Hibbeln JR, Wisner KL, et al. Omega-3 fatty acids: evidence basis for treatment and future research in psychiatry.J Clin Psychiatry. 2006;67(12):1954-1967;
7- Su, Kuan-Pin, et al. “Association of use of omega-3 polyunsaturated fatty acids with changes in severity of anxiety symptoms: a systematic review and meta-analysis.” JAMA network open 1.5 (2018): e182327-e182327.

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