Efeito da ingestão aguda de cafeína na taxa de oxidação de gordura durante o exercício

A cafeína está naturalmente presente nas folhas, frutos e sementes de várias plantas (café, chá, mate, etc.) e é habitualmente consumida por meio de infusões dessas plantas.
A alta presença de cafeína em vários alimentos, bebidas e suplementos a transformou no psicoestimulante mais utilizado do mundo. Em ambientes esportivos, a cafeína é amplamente consumida, com dados revelando que 76% das amostras de urina de atletas de elite obtidas após competições esportivas continham concentrações mensuráveis de cafeína.
Além de sua popularidade, devido aos seus efeitos ergogênicos no exercício, a cafeína também se tornou popular entre pessoas que buscam perder peso e melhorar a composição corporal pelo seu potencial efeito de otimizar a taxa de oxidação de gordura.
Uma série de estudos foram elaborados para determinar o efeito da ingestão aguda de cafeína na taxa de oxidação de gordura durante o exercício. No entanto, essas investigações têm mostrado resultados contraditórios, devido às diferenças nos protocolos de exercícios utilizados ou, à co-ingestão de cafeína com outras substâncias.
A fim de encontrar um consenso, um trabalho publicado em 2020 teve o objetivo de realizar uma revisão sistemática seguida por metanálise para estabelecer o efeito da ingestão aguda de cafeína (variando de 2 a 7 mg/kg de massa corporal) na taxa de oxidação de gordura durante o exercício de intensidade sub-máxima.
A amostra total foi composta por 203 indivíduos (147 homens, 56 mulheres), com média de idade de 24,9 anos. Na metanálise, apenas 199 indivíduos foram incluídos devido a falta de dados de 4 participantes para algumas das variáveis delineadas por Clark et al. Os estudos envolveram atletas de resistência, praticantes de exercícios recreativos, indivíduos sedentários e indivíduos não treinados.
Dos 19 artigos incluídos na revisão e metanálise, 16 administraram cafeína por via oral com base na massa corporal de cada participante, enquanto uma dose absoluta foi fornecida para todos os participantes nos três estudos restantes. No geral, a dose média de cafeína administrada foi de 4,56 ± 1,37 mg/kg. Em dois estudos, a dosagem de cafeína foi inferior a 3 mg/kg, em três estudos foi de 3 mg/kg, em nove estudos foi entre 4,7 e 5 mg/kg, em quatro estudos a dose foi de 6 mg/kg, e em um estudo as doses foram de 7 mg/kg.
Em relação a forma de administração, nove estudos usaram cápsulas de cafeína e dez estudos usaram diferentes bebidas contendo cafeína. Todos os estudos administraram a cafeína de 30 a 75 minutos antes do início do teste de exercício, com a maioria usando um período de 60 minutos entre a ingestão e o teste. Os participantes passaram por um período de jejum de 5h a 12h (em dez dos estudos) ou foram solicitados a jejuar durante à noite.
Dentre os resultados encontrados, a metanálise revelou que a cafeína aumentou significativamente a taxa de oxidação de gordura. Este incremento foi consistente com uma redução significativa da razão de troca respiratória e um aumento no consumo de oxigênio.
Em relação a quantidade de cafeína administrada, a metanálise dos estudos que administraram ≤3,0 mg/kg de cafeína revelou um efeito não significativo na taxa de oxidação de gordura durante o exercício em comparação com o placebo. No entanto, nos estudos com doses acima de 3,0 mg/kg até 7,0 mg/kg, houve um efeito estatisticamente significativo da ingestão aguda de cafeína na taxa de oxidação de gordura durante o exercício de intensidade sub-máxima.
Em relação aos níveis de atividade física dos participantes, a metanálise dos estudos revelou um efeito significativo da cafeína na taxa de oxidação de gordura durante o exercício apenas em participantes sedentários ou não treinados, enquanto o efeito da cafeína não foi significativo em atletas treinados ou em atletas recreativos.
Em qualquer caso, embora a ingestão aguda de cafeína aumente a taxa de oxidação de gordura em alguns indivíduos, o seu uso pode não ser eficaz para todos. A variabilidade interindividual em resposta à ingestão aguda de cafeína sugere que a cafeína deve ser recomendada de forma individualizada e continuada apenas naqueles indivíduos que apresentem benefícios com baixa prevalência de efeitos colaterais.
Referências:
1- Reyes, C.M.; Cornelis, M.C. Caffeine in the Diet: Country-Level Consumption and Guidelines. Nutrients 2018, 10, 1772;
2- Aguilar-Navarro, M.; Muñoz, G.; Salinero, J.J. Urine Caffeine Concentration in Doping Control Samples from 2004 to 2015. Nutrients 2019, 11, 286;
3- Grgic, J.; Trexler, E.T.; Lazinica, B.; Pedisic, Z. Effects of caffeine intake on muscle strength and power: A systematic review and meta-analysis. J. Int. Soc. Sports Nutr. 2018, 15, 11.;
4- Salinero, J.J.; Lara, B.; Del Coso, J. Effects of acute ingestion of caffeine on team sports performance: A systematic review and meta-analysis. Res. Sports Med. 2019, 27, 238–256;
5- Collado-Mateo, Daniel, et al. “Effect of acute caffeine intake on the fat oxidation rate during exercise: A systematic review and meta-analysis.” Nutrients 12.12 (2020): 3603.

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