A fibromialgia é uma condição caracterizada por dor crônica generalizada, juntamente com fadiga, sono perturbado e uma combinação de memória fraca e concentração insuficiente.
Há também uma alta prevalência de comorbidades em pacientes com fibromialgia, incluindo: ansiedade, depressão, distúrbio da articulação temporomandibular, síndrome da fadiga crônica, enxaquecas e/ou dores de cabeça e síndrome do intestino irritável. A combinação exata e a gravidade dos sintomas e comorbidades variam substancialmente entre os indivíduos.
A etiologia e a fisiopatologia da fibromialgia permanecem obscuras, entretanto, a literatura atual apoia a hipótese de que o sistema nervoso central esteja envolvido. Apesar disso, a fibromialgia é uma condição que afeta cada indivíduo de uma maneira única.
Não existe um tratamento padrão-ouro para a fibromialgia. As condutas de tratamento podem e devem variar significativamente de pessoa para pessoa, dependendo de seus sintomas. Apesar desta variabilidade, os indivíduos normalmente recebem uma combinação entre medicamento, fisioterapia e terapia cognitivo-comportamental (TCC).
Intervenções nutricionais ou mudanças na dieta são comumente usadas como abordagens alternativas de tratamento para muitas doenças, incluindo condições de dor crônica, como artrite reumatóide. A ingestão alimentar como um todo influencia muitos sistemas e processos fisiológicos, portanto, médicos, nutricionistas e pacientes devem estar cientes dos perigos de seguir evidências anedóticas em relação às intervenções dietéticas.
Atualmente, não há dados conclusivos sobre quaisquer intervenções nutricionais para a fibromialgia, e por isso, um artigo publicado em 2020 teve como objetivo revisar sistematicamente a literatura existente e explorar mudanças dietéticas, incluindo o uso de suplementos nutricionais, como uma intervenção no tratamento da fibromialgia e seus diversos sintomas.
Os 22 estudos incluídos na revisão recrutaram 806 participantes, incluindo 17 homens (2,06%) e 789 mulheres (97,94%). Dos 22 estudos, 15 (68%) recrutaram exclusivamente mulheres. O número médio de participantes nos estudos foi de 37 (variação de 8 a 102) e a faixa etária dos participantes foi de 39 anos 6 meses a 58 anos.
Sete estudos investigaram populações que vivem nos Estados Unidos da América; cinco da Espanha, dois da Itália e um de Portugal, Paquistão, Finlândia, Áustria, França, Brasil, Turquia e Reino Unido.
Entre os 22 estudos, houve 17 intervenções dietéticas diferentes: coenzima Q10, vitamina D, probióticos, chlorella, dieta vegana, suco de cereja, dieta com baixo teor de FODMAPs, soja, azeite de oliva extra-virgem, cafeína, eliminação de glutamato monossódico e aspartame, vitamina C, E e sementes de nigella sativa (cominho negro), vitaminas C e E, creatina e acetil-L-carnitina. Dois estudos investigaram suplementos baseados em fitoterapia que incluíam diferentes extratos de plantas e um estudo investigou um suplemento baseado em fitoterapia junto com uma dieta de eliminação.
Um total de 20 dos 22 estudos (91%) avaliaram especificamente o sintoma de dor, e melhorias significativas foram observadas na escala visual analógica para dor após o consumo de chlorella, uma dieta com baixo teor de FODMAPs, consumo de coenzima Q10 ou o consumo de um suplemento que incluiu vitamina C, E e sementes de Nigella sativa.
A suplementação com acetil-L-carnitina e o consumo de uma dieta vegana também resultaram em melhorias significativas na escala visual analógica para dor, mas as pontuações exatas ou alterações percentuais nas pontuações não foram publicadas.
A suplementação de vitamina D levou a uma diminuição consistente na escala visual analógica para dor em comparação com pontuações relativamente constantes com o grupo placebo, porém após o término da suplementação, não houve diferença significativa entre os grupos.
Um total de 13 dos 22 estudos (51%) mediu a gravidade geral da fibromialgia. As pontuações do questionário de impacto da fibromialgia melhoraram significativamente após o consumo de azeite de oliva extra-virgem vs. azeite refinado, e a suplementação de coenzima Q10 resultou em uma melhora significativa na pontuação avaliada por esse mesmo questionário.
O consumo de uma dieta com baixo teor de FODMAPs também levou a melhoras no escore do questionário de impacto da fibromialgia, e essa pontuação não piorou significativamente após a reintrodução de FODMAPs.
Apesar dos resultados encontrados nesta revisão, ela concluiu que não há evidências suficientes para recomendar qualquer intervenção dietética particular no tratamento dos sintomas da fibromialgia.
Isso se deu pela maioria dos estudos carecer de melhores análises estatísticas e também pelo pequeno número de participantes. Existe também heterogeneidade generalizada em toda a metodologia do estudo, particularmente no que diz respeito ao protocolo de intervenção e medidas de resultados, tornando as comparações entre os estudos muito difíceis.
A qualidade dos estudos incluídos foi relativamente boa, no entanto, a maioria tinha um alto risco de viés, com vários também sem cegamento e/ou randomização. Por fim, vários artigos não publicaram valores específicos para medidas de resultados, dificultando as comparações com outras intervenções.
Por causa dessas limitações, os resultados estatisticamente significativos devem ser interpretados com cautela, especialmente em termos de seu significado clínico. Esses achados estão de acordo com uma recente revisão sistemática conduzida por Silva e colegas em 2019.
Referências:
1) Bellato, E.; Marini, E.; Castoldi, F.; Barbasetti, N.; Mattei, L.; Bonasia, D.E.; Blonna, D. Fibromyalgia syndrome: Etiology, pathogenesis, diagnosis, and treatment. Pain Res. Treat. 2012;
2) Arranz, L.I.; Canela, M.Á.; Rafecas, M. Dietary aspects in fibromyalgia patients: Results of a survey on food awareness, allergies, and nutritional supplementation. Rheumatol. Int. 2012, 32, 2615–2621;
3) Silva, A.R.; Bernardo, A.; Costa, J.; Cardoso, A.; Santos, P.; de Mesquita, M.F.; Patto, J.V.; Moreira, P.; Silva, M.L.; Padrão, P. Dietary interventions in fibromyalgia: A systematic review. Ann. Med. 2019, 51, 2–14;
4) Lowry, Ethan, et al. “Dietary interventions in the management of fibromyalgia: A systematic review and best-evidence synthesis.” Nutrients 12.9 (2020): 2664.