Clinicamente, a menopausa é caracterizada como suspensão definitiva da menstruação devido a perda da atividade folicular ovariana, e ocorre normalmente por volta dos 45-55 anos de idade.
A alteração hormonal está entre as principais alterações fisiológicas associadas à menopausa. O estrogênio, um hormônio sexual feminino primário, dita as características sexuais secundárias e afeta o desenvolvimento e o funcionamento do sistema reprodutor feminino.
Durante a vida fértil de uma mulher, o nível médio de estrogênio total é de 100-250 pg/mL. No entanto, a concentração de estradiol na circulação diminui até 10 pg/mL na pós-menopausa. Essa alteração hormonal está associada a síndromes patológicas, como distúrbios no sono/humor, sintomas vasomotores (incluindo ondas de calor e suores noturnos), atrofia urogenital, osteopenia e osteoporose, distúrbios psiquiátricos, disfunção sexual, lesões de pele, doenças cardiovasculares, câncer, distúrbios metabólicos e obesidade.
As mulheres correm um risco maior de desenvolver doença cardiovascular após a menopausa, devido à deficiência de estrogênio e ao metabolismo lipídico desregulado. O estrogênio, especialmente o tipo E2 (estradiol) exerce um papel protetor no sistema cardiovascular e é produzido principalmente nos ovários por meio de um processo que utiliza o LDL colesterol como substrato. No entanto, o LDL circulatório não pode ser utilizado para sintetizar estrogênio durante a menopausa, resultando na diminuição da produção de estrogênio, consequente aumento de LDL e risco para doenças cardiovasculares.
Alterações no metabolismo lipídico e o excesso de tecido adiposo desempenham um papel fundamental na síntese em excesso de ácidos graxos, adipocitocinas, citocinas pró-inflamatórias e espécies reativas de oxigênio, que causam peroxidação lipídica e resultam no desenvolvimento de resistência à insulina, adiposidade abdominal e dislipidemia em mulheres na pós-menopausa.
O manejo nutricional é fundamental antes e durante a menopausa para melhorar a qualidade de vida dessas mulheres e também para minimizar a ocorrência de distúrbios metabólicos.
Abaixo, separamos dois nutrientes, que não são únicos, mas que podem ser pensados e levados em consideração para auxiliar no controle do metabolismo lipídico anormal em mulheres na pós menopausa:
Vitamina D:
Uma análise transversal de 292 mulheres na pós-menopausa com idades entre 50-79 anos no estudo Women’s Health Initiative Calcium-Vitamin D revelou que níveis séricos mais elevados de 25(OH)D estavam inversamente correlacionados com adiposidade, IMC e relação cintura-quadril.
Um outro estudo transversal envolvendo 778 mulheres coreanas na pós-menopausa relatou que as mulheres no grupo de nível de 25(OH)D mais baixo do quartil (4,2-9,7 ng/mL) estavam associadas a um risco significativamente aumentado de síndrome metabólica em comparação com o grupo de mulheres no quartil mais alto de 25(OH)D (19,9-55,9 ng/mL).
Níveis séricos baixos de 25(OH)D também foram associados a alguns distúrbios metabólicos, especialmente pressão arterial elevada e nível alto de triglicerídeos. A Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição da Coréia (KNHANES 2008-2010) revelou que mulheres na pós-menopausa no grupo de nível sérico de 25(OH)D no quartil mais alto exibiram uma diminuição significativa na prevalência de pressão arterial elevada, triglicerídeos elevados e HDL reduzido, quando comparadas com as mulheres na pós-menopausa no grupo de nível sérico de 25(OH)D quartil mais baixo.
No entanto, o papel da suplementação de vitamina D na prevenção da alteração do metabolismo lipídico na transição da menopausa e em mulheres na pós-menopausa precisa ser melhor investigado.
Ácidos graxos ômega 3:
Os ácidos graxos ômega-3 exercem efeitos anti-inflamatórios, cardioprotetores e sensibilizadores de insulina. Um estudo de acompanhamento de 25 anos relatou que a suplementação de ácido graxo ômega-3 de cadeia longa está inversamente associada à incidência de síndrome metabólica. Um estudo de acompanhamento de 16 anos, envolvendo 84.688, enfermeiras relatou que as mulheres com uma maior ingestão de ácidos graxos ômega-3 tinham um risco menor de doença arterial coronariana.
Recentemente, foi relatado que os ácidos graxos ômega-3 protegem contra a obesidade e a síndrome metabólica, incluindo a alteração lipídica. Tardivo et al. relataram que a suplementação oral de 900 mg de ômega-3 por dia diminuiu significativamente o IMC, a circunferência da cintura, a pressão arterial, os triglicerídeos séricos, a interleucina 6 (IL-6) e a resistência à insulina em um ensaio clínico randomizado envolvendo 87 mulheres brasileiras na pós-menopausa.
Referências:
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