Os fitoterápicos são medicamentos que têm a sua origem a partir de plantas medicinais e são utilizados há séculos em diversas culturas para tratar doenças e promover a saúde. No entanto, sua prescrição requer habilitação, conhecimento e cuidado, para que sejam utilizados de forma segura e eficaz.
Pensando nisso, separamos algumas dicas para Nutricionistas na prescrição de fitoterápicos.
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Conheça a legislação
Antes de prescrever qualquer fitoterápico, é importante que o Nutricionista conheça a legislação vigente que regula o uso desses produtos no Brasil.
O registro do fitoterápico na Anvisa é obrigatório e é preciso observar as recomendações de uso e restrições de cada planta. Além disso, também é importante estar atualizado sobre as normas que regem a prescrição de fitoterápicos, como as Resoluções CFN nº 656/2020, nº 680/2021 e nº 731/2022.
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Indique laboratórios de confiança
A qualidade da matéria-prima utilizada na preparação do fitoterápico pode interferir na eficácia e na segurança do produto. Por isso, é importante escolher laboratórios confiáveis e que utilizem plantas de qualidade.
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Considere a interação com medicamentos
Alguns fitoterápicos podem interagir com medicamentos prescritos, potencializando ou diminuindo seus efeitos, por isso o Nutricionista deve avaliar o histórico de medicamentos do paciente antes de prescrever um fitoterápico.
É importante estar atento a possíveis interações, que podem ser verificadas em sites especializados ou em publicações científicas.
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Indique a dosagem correta
A dosagem do fitoterápico pode variar de acordo com a planta e a forma de preparo. Sendo assim, é importante seguir as recomendações da planta e avaliar a necessidade de ajustar a dose de acordo com as características do paciente, como idade, peso, altura, histórico de doenças e condições de saúde.
A dosagem excessiva pode levar a efeitos tóxicos, enquanto a dose insuficiente pode comprometer a eficácia do tratamento.
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Esteja atento às contraindicações
Algumas plantas podem ter efeitos tóxicos em doses elevadas ou em pacientes com condições específicas de saúde. Por isso, é importante avaliar as contraindicações antes de prescrever um fitoterápico.
Algumas plantas podem ser contraindicadas para gestantes, lactantes, crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, insuficiência renal e hepática.
Há, ainda, aquelas plantas que não há dados suficientes para determinados grupos, o que torna um risco a prescrição.
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Atente-se aos efeitos colaterais
Alguns fitoterápicos podem ter efeitos colaterais, como irritação gastrointestinal, alergias e insônia. O Nutricionista deve orientar o paciente sobre esses possíveis efeitos e orientar a interrupção do uso em caso de reações adversas. É importante que o paciente relate qualquer sintoma ou reação que surgir.
Em resumo, o uso de fitoterápicos é uma abordagem terapêutica importante para a saúde e bem-estar dos pacientes e Nutricionistas habilitados podem prescrever fitoterápicos baseados em evidências científicas para ajudar a tratar ou prevenir doenças. Entretanto, é importante lembrar que essa prescrição deve ser personalizada para cada paciente, levando em conta as suas condições de saúde e eventuais interações medicamentosas.
Além disso, é fundamental enfatizar a importância do uso responsável de fitoterápicos, respeitando as doses recomendadas e a duração do tratamento.
É também essencial que os Nutricionistas estejam atualizados sobre as evidências científicas mais recentes relacionadas aos fitoterápicos e estejam preparados para discutir as opções terapêuticas com seus pacientes, esclarecendo dúvidas e fornecendo informações adequadas.
APLICAÇÃO DE FITOTERÁPICOS PARA CONTROLE GLICÊMICO
Os fitoterápicos têm sido cada vez mais utilizados como uma alternativa ou complemento aos tratamentos convencionais para controle glicêmico em pacientes com diabetes, já que algumas plantas apresentam compostos que podem ajudar a melhorar a sensibilidade à insulina, aumentar a secreção de insulina pelas células beta pancreáticas ou reduzir a absorção de glicose pelo intestino.
Abaixo estão alguns exemplos de fitoterápicos que auxiliam na melhora do controle glicêmico:
Canela
A canela (Cinnamomum spp.) tem demostrado ajudar a melhorar a sensibilidade à insulina e reduzir os níveis de glicose no sangue em pacientes com diabetes tipo 2.
Em um estudo randomizado controlado por placebo, foi observado que a suplementação de canela por 90 dias (1g por dia, dividido em duas doses diárias de 500mg cada) reduziu significativamente os níveis de HbA1c (Redução de 8.47 ±1.8 para 7.64 ±1.7, p<0,001).
Outro estudo também mostrou que a suplementação com extrato de canela (120 e 360mg/dia) por 90 dias reduziu significativamente a HbA1c (−0.67 com 120mg e −0.93 com 360mg) em pacientes com diabetes tipo 2.
Além disso, uma revisão sistemática e meta-analise de 16 ECRs demonstrou que a suplementação reduziu glicemia em jejum (−0,54, p < 0,05), HbA1c (−0,63, p< 0,05), insulina (−0,66, p < 0,05) e HOMA-IR (−0,80, p < 0,05), em comparação ao placebo. A maioria dos estudos utilizaram dosagens de 1 – 3g/dia por 6 a 12 semanas.
Ginseng
O ginseng (Panax ginseng) também demonstrou melhora na sensibilidade à insulina e redução da glicemia em pacientes com diabetes tipo 2.
Em revisão sistemática, foi demonstrado que a suplementação tem um forte potencial positivo para o metabolismo da glicose. Os estudos utilizaram doses de 0,2g a 9g em dose única ou por 12 semanas. Já em um revisão sistemática e meta-analise atual foi demonstrado redução significativa na glicemia em jejum (−7,03 mg/dL; p < 0,001), principalmente em doses até 2g por até 8 semanas.
Berberina
A berberina, um composto encontrado na berberis (Berberis vulgaris), tem mostrado auxiliar na melhora da sensibilidade à insulina e na redução dos níveis de glicose no sangue.
Em um estudo randomizado controlado por placebo, foi observado que a suplementação de berberina (0,5 g três vezes ao dia) por 3 meses reduziu significativamente os níveis de HbA1c (de 9,5% para 7,5%, p<0,001). Em outro, demonstrou redução significativa na glicemia em jejum com 1g durante 3 meses (p<0,0001; de 7,0 para 5,6 mmol/l, ou, aproximadamente 127mg/dl para 101mg/dl)
Além desses fitoterápicos, outras plantas como a Gymnema sylvestre, a Momordica charantia (melão amargo) e a Trigonella foenum-graecum (fenugreco) também têm sido estudadas pelos seus efeitos sobre o controle glicêmico em pacientes com diabetes.
É importante ressaltar que o uso de fitoterápicos para controle glicêmico deve ser feito com cautela e acompanhado por um profissional de saúde qualificado. O uso inadequado pode levar a efeitos colaterais e interações medicamentosas.
Em resumo, os fitoterápicos apresentam algumas evidências científicas para auxiliar no controle glicêmico em pacientes com diabetes tipo 2. No entanto, é importante ressaltar que o uso desses fitoterápicos precisa ser feito com orientação de um profissional de saúde capacitado e de acordo com as necessidades individuais de cada paciente.
Referências:
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