Terceira idade: necessidades nutricionais

Necessidades nutricionais na terceira idade

Nas últimas décadas, tem sido observado que os dados demográficos apresentam um crescimento exponencial da população idosa no Brasil, o que demanda uma atenção especializada em Nutrição para atender às necessidades nutricionais específicas desse público.

É válido ressaltar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece critérios para a classificação de idosos, considerando aqueles com mais de 65 anos em países desenvolvidos e com mais de 60 anos em países em desenvolvimento. De todo modo, a terceira idade, também conhecida como idade sênior, requer uma atenção especial à Nutrição devido às alterações fisiológicas que ocorrem nessa fase da vida.

O acompanhamento nutricional adequado é essencial para atender às necessidades nutricionais dos idosos, prevenir deficiências e melhorar sua qualidade de vida. Mudanças no metabolismo, dificuldades de mastigação e deglutição podem afetar a absorção de nutrientes e o apetite dos idosos, tornando importante a personalização das orientações alimentares por um nutricionista especializado em gerontologia. Além disso, a prevenção da perda de massa muscular e a promoção da saúde óssea são objetivos-chave para garantir um envelhecimento saudável e ativo.

Necessidades Nutricionais na Terceira Idade

Como já observado, as necessidades nutricionais dos idosos podem ser diferentes das de adultos mais jovens devido à mudanças metabólicas, fisiológicas e sociais que ocorrem nessa fase da vida. É essencial que os Nutricionistas compreendam essas mudanças e adaptem as orientações dietéticas de acordo com as necessidades individuais de cada idoso.

  • Consumo energético

Em relação ao consumo energético, é importante considerar que, em geral, os idosos têm uma diminuição na taxa metabólica basal, ou seja, a quantidade de calorias que o organismo necessita para realizar suas funções básicas em repouso.

Portanto, é comum que os idosos precisem de uma quantidade menor de calorias em comparação com adultos mais jovens. No entanto, é importante avaliar que essa redução calórica pode variar de acordo com fatores como: o nível de atividade física e o estado de saúde do indivíduo.

  • Proteínas

De acordo com as recomendações da Dietary Reference Intake (DRI), a ingestão mínima recomendada de proteína é de 0,8g por quilograma de peso corporal, mas essa demanda pode variar dependendo de fatores como doenças crônicas, diminuição da absorção e síntese proteica.

Alguns autores discutem a recomendação entre 1g/kg, até um máximo de 1,2 g/kg. Nos indivíduos com insuficiência renal ou diabetes mellitus, de 0,8g/kg a 1,0 g/kg pode ser mais apropriado.

Em um estudo controlado randomizado de 1 ano, com 184 participantes, sendo idosos saudáveis (> 65 anos), realizou uma avaliação de intervenção em relação à ingestão proteica (suplementada). Eles foram designados aleatoriamente para as intervenções. Sendo: o grupo 1, recebeu suplementação de carboidratos (CARB); o grupo 2, recebeu suplementação com proteína de colágeno (COLL); o grupo 3, suplementação de whey protein (WHEY); o grupo 4, realizou treinamento de resistência de intensidade leve. Sendo de 3-5 vezes/semana com suplementação de proteína de soro de leite (LITW) e o grupo 5 realizou treinamento pesado de resistência, sendo 3 vezes por semana, com suplementação de proteína de soro de leite (HRTW). Os suplementos de proteína continham 20 g de proteína + 10 g de carboidrato, cada, sendo consumidos 2x no dia. O grupo que apresentou o melhor resultado, foi o 5º (HRTW), apresentando uma boa preservação da massa muscular e no aumento da força.

  • Cálcio

Outro nutriente que merece atenção especial é o cálcio. A exigência dietética pode aumentar por causa da diminuição da absorção com o avanço da idade, o que pode levar ao enfraquecimento dos ossos e ao aumento do risco de osteoporose e fraturas.

Portanto, é essencial que os idosos consumam alimentos ricos em cálcio, como leite e derivados, vegetais verde-escuros e alimentos fortificados, e, quando necessário, recebam suplementação desse mineral. A recomendação diária para homens e mulheres com mais de 60 anos é de 1.200 mg.

  • Vitamina D

Com a recomendação diária, pela DRI, de 10 a 15 mcg/dia, a deficiência de vitamina D também é comum na terceira idade. Essa vitamina desempenha um papel crucial na absorção de cálcio e na saúde óssea.

O risco de deficiência de vitamina D aumenta quando a síntese dessa vitamina no organismo é menos eficiente. Além disso, com o avanço da idade, a capacidade da pele de responder à luz e à exposição solar diminuem, o que também afeta a produção da vitamina. Os rins, por sua vez, tornam-se menos capazes de converter a vitamina D3 em sua forma de hormônio ativo. Cerca de 30% a 40% das pessoas que sofrem fraturas de quadril têm níveis insuficientes de vitamina D, evidenciando a importância desse nutriente para a saúde óssea e prevenção de fraturas.

Portanto, a suplementação de vitamina D em idosos pode ser recomendada, especialmente em casos de deficiência diagnosticada.

Doenças que comprometem o Estado Nutricional na Terceira Idade

Além das mudanças fisiológicas relacionadas ao envelhecimento, existem algumas doenças comuns na terceira idade que podem comprometer o estado nutricional dos idosos. Uma delas é a sarcopenia, caracterizada pela redução da massa muscular esquelética e da função física, como força muscular e desempenho físico, que ocorre à medida que uma pessoa envelhece.

Além disso, condições como diabetes, hipertensão arterial, dislipidemias e doenças cardiovasculares são frequentemente observadas nessa fase da vida. O acompanhamento nutricional adequado pode auxiliar no controle dessas doenças, através da orientação de uma alimentação balanceada e adequada à cada condição.

A desnutrição também é uma preocupação comum na terceira idade. Diversos fatores, são considerados possíveis determinantes dessa condição. O apetite reduzido, presença de disfagia ou mesmo odinofagia, a falta de recursos sociais, a má função física, a percepção negativa da saúde, problemas sensoriais, comprometimento físico e cognitivo, depressão, uso de múltiplos medicamentos, presença de inflamação de baixo grau, baixo status socioeconômico, solidão, falta de opções alimentares, falta de aconselhamento ou educação dietética.

Conclusão

Nesses casos, é importante que o Nutricionista esteja atento e desenvolva estratégias para aumentar a ingestão alimentar, como oferecer refeições menores e mais frequentes, melhorar a palatabilidade dos alimentos e utilizar suplementos nutricionais quando necessário, além de atentar-se as condições socioeconômicas, ambientais e psicológicas para fazer os encaminhamentos necessários. A Nutrição comportamental também pode ser explorada nesse caso, utilizando ferramentas que deixem o processo alimentar mais leve e até divertido.

Portanto, acompanhamento nutricional na terceira idade desempenha um papel fundamental na manutenção da saúde e na promoção da qualidade de vida dos idosos. Compreender as necessidades nutricionais específicas dessa fase da vida e adaptar as orientações dietéticas de acordo com as características individuais de cada idoso é essencial para prevenir deficiências, tratar doenças e melhorar o estado nutricional. Através de uma alimentação equilibrada e adequada, é possível garantir que os idosos tenham uma vida mais saudável e ativa, proporcionando um envelhecimento com maior bem-estar e autonomia.

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