Como avaliar artigos científicos?

Como avaliar artigos científicos?

Indo de opiniões e técnicas descritas por especialistas, para estudos baseados em metodologias cientificamente projetadas, a medicina baseada em evidências foi estabelecida de forma a reavaliar fatos médicos previamente estipulados e remover mitos em torno da prática clínica.

Existem metodologias de pesquisa baseadas em protocolos com etapas pré-definidas, onde os estudos agora são classificados com base no método de coleta e na avaliação dos dados obtidos. Assim, para garantir a qualidade do artigo publicado, a metodologia do estudo clínico precisa obedecer a rígidos padrões éticos, morais, de verdade e transparência, garantindo que não haja conflito de interesses.

Neste texto, vamos aprender mais sobre o universo dos artigos científicos, desde o que são até como analisar e interpretar seus resultados.

O que é um artigo científico?

Um artigo científico é um documento escrito que apresenta os resultados de uma pesquisa. Ele é uma maneira de compartilhar descobertas, comprovar teorias, além de fornecer análises e conclusões com outros profissionais e estudantes interessados.

Em sua essência, os artigos científicos são a espinha dorsal da comunicação científica, permitindo que o conhecimento seja disseminado e avaliado pela comunidade acadêmica, podendo ser reproduzido na prática clínica e aprimorado.

Onde buscar artigos científicos de qualidade?

A internet é um vasto local para se obter informações, mas atenção! Nem todas as fontes são confiáveis. Para encontrar artigos científicos de qualidade, é necessário acessar bases de dados seguras.

Algumas das principais bases que oferecem uma ampla gama de artigos científicos incluem: PubMed, Medline, SciELO, Lilacs, Cochrane Library, Science Direct e Google Acadêmico.

Como é a estrutura do artigo?

Um artigo científico segue uma estrutura organizada para garantir a clareza, o fluxo de ideias e a compreensão. Geralmente, ele é composto por tópicos como:

 

  • Título e Autoria: o título deve resumir o que se quer propagar de informação com o texto do artigo. Dependendo da revista de publicação, existem limites de quantidade de palavras para que ele não fique muito extenso. Os autores, geralmente, são listados com suas afiliações institucionais.
  • Abstract ou Resumo: um resumo conciso, contendo informações como: uma breve introdução, objetivos do trabalho, metodologia, resultados e conclusão.
  • Introdução: nessa parte, você encontrará a apresentação do problema em questão da pesquisa, a relevância para a literatura e/ou prática clínica e os objetivos do estudo.
  • Revisão Bibliográfica: contextualiza e embasa o estudo que está sendo feito, apresentando pontos de interesse, dentro do conhecimento existente, citando pesquisas anteriores que já testaram da mesma forma ou de formas diferentes.
  • Metodologia: nessa parte, haverá a descrição da abordagem que foi usada na pesquisa, incluindo materiais e quais análises foram feitas, por exemplo: “As seguintes bases de dados foram consultadas: PubMed (National Library of Medicine), Cochrane Library e Excerpta Medica dataBASE (EMBASE), cuja estratégia de busca foi realizada usando títulos e palavras-chave específicos do banco de dados”.
  • Resultados: apresenta os resultados obtidos com a pesquisa, de forma objetiva, podendo usar tabelas, gráficos, imagens e estatísticas.
  • Discussão: essa é a parte em que se analisa e interpreta os resultados, relacionando-os aos objetivos e à literatura existente.
  • Conclusão: resume os principais achados da pesquisa e discute suas implicações e impactos na literatura e/ou prática clínica.
  • Referências: lista todas as fontes citadas no artigo, podendo seguir padrões distintos de ordem e escrita, de acordo com as regras exigidas em cada revista ou jornal.
  • Financiamento: aqui é relatado se a pesquisa recebeu algum subsídio específico de agências de fomento nos setores público, comercial ou possui fins lucrativos.
  • Conflitos de interesse: aqui, é relatado se há ou não, conflitos de interesses, que será melhor explicado na parte de viés de publicação abaixo.

Leve em consideração esse item para escolher um artigo de qualidade

Ao escolher um artigo para leitura, é importante considerar a credibilidade da fonte e a relevância para seu próprio estudo, o que vai muito além da escolha de uma das bases de dados de confiança.

Algumas revistas podem ter viés de publicação, ou seja, podem favorecer certos tipos de resultados ou abordagens por conta de, por exemplo, patrocinar e financiar o estudo e isso, pode comprometer os resultados obtidos, uma vez que resultados “desfavoráveis” podem não ser mencionados no texto.

Assim, é muito importante verificar se na parte de “conflitos de interesse”, está relatando que houve financiamento e/ou apoio financeiro/patrocínio de algum órgão ou empresa.

Tipos de estudos e suas análises

Existem diversos tipos de estudos científicos, cada um com suas características e objetivos, sendo alguns deles:

  • Estudos de intervenção: são de caráter experimental e são subdivididos em estudos de campo e de grupo, sendo um exemplo, a suplementação de iodo de sal de cozinha para prevenir o hipotireoidismo;
  • Estudos observacionais: estes podem ser subdivididos em estudos de coorte e caso-controle, por exemplo.

O estudos de coorte são adequados para detectar relações entre a exposição e o desenvolvimento de uma doença, por exemplo. Normalmente são estudos prospectivos (do presente para o tempo futuro) de dois ou mais grupos saudáveis de indivíduos observados ao longo do tempo, nos quais um grupo é exposto a uma substância específica, enquanto o outro não, comparando-os.

Já os caso-controle são análises retrospectivas (avaliam dados passados), realizadas para estabelecer a prevalência de uma doença em dois grupos expostos a um fator ou doença.

Enquanto isso, a revisão narrativa é um modelo de estudo onde um autor especialista escreve sobre um determinado tema, incluindo uma visão geral e esta informação é fortalecida por sua experiência.

As revisões sistemáticas identificam de forma metódica e abrangente os estudos focados em um tópico específico, avaliando sua metodologia, resumindo resultados, identificando as principais descobertas e razões para as diferenças entre os estudos e citam as limitações do conhecimento atual.

 

Já os estudos simples, duplo e triplo-cego são estratégias de “cegar” comumente usadas em pesquisas clínicas.

  • Um estudo simples-cego vai mascarar os participantes de saberem qual o tratamento do estudo, se houver, que eles estão recebendo.
  • Um estudo duplo-cego, “cega” tanto os participantes quanto os pesquisadores para a alocação do tratamento. Ou seja, nenhum deles sabe qual o tipo de suplemento que está sendo administrado, por exemplo.
  • O triplo-cego, por sua vez, envolve ocultar esta informação dos pacientes, pesquisadores, bem como analistas de dados.

Os estudos de ensaios randomizados, duplo-cegos e controlados por placebo (grupo sem intervenção) envolvem a alocação de forma aleatória dos participantes em dois ou mais grupos onde, por exemplo, um grupo experimental irá receber o tratamento experimental em questão e um grupo controle servirá como o placebo (sem o tratamento teste aplicado). Nem os pesquisadores nem os sujeitos do estudo sabem quem está recebendo o tratamento experimental e quem está recebendo um placebo. Esse tipo de estudo clínico é o padrão-ouro para a validação de intervenções terapêuticas na literatura.

Interpretando medidas estatísticas: p-valor, Odds Ratio e RR

Ao ler um artigo científico, você pode se deparar com termos como P-valor, Odds Ratio (OR) e Risco Relativo (RR).

  • O P-valor indica a probabilidade de se obter uma estatística de teste igual ou mais extrema do que aquela observada em uma amostra, sob a hipótese nula. Quanto menor o P-valor, mais provável é que os resultados sejam estatisticamente significativos.
  • Odds Ratio (OR) mede a probabilidade de um evento ocorrer em um grupo em relação a outro. Uma razão de chances maior que 1 implica que há maiores chances de o evento acontecer no grupo exposto versus não exposto.
  • O Risco Relativo (RR) é uma razão entre a probabilidade de um evento ocorrer no grupo exposto versus a probabilidade do evento ocorrer no grupo não exposto. Ele fornece dados para avaliar um aumento ou redução na probabilidade de um evento com base em alguma exposição.

Cada tipo de estudo tem suas próprias vantagens e limitações, e a escolha do método depende dos objetivos da pesquisa, da disponibilidade de recursos e das questões éticas envolvidas. Ao analisar um artigo científico, entender o tipo de estudo utilizado é essencial para interpretar adequadamente os resultados e as conclusões apresentadas.

Os artigos científicos são portas para o conhecimento, permitindo que estudantes e pesquisadores explorem melhor a ciência. Ao compreender o que é um artigo, como encontrá-lo, sua estrutura e como interpretar resultados estatísticos, você está melhor preparado(a) para contribuir para a construção do conhecimento científico. Lembre-se de que o processo de aprendizado é contínuo, e a exploração dos artigos científicos é uma jornada de descoberta.

Referências:

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