Obesidade infantil e Nutrição

Obesidade infantil e Nutrição

A obesidade infantil é uma preocupação global que atinge proporções epidêmicas. Em 2019, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimava-se que 38,2 milhões de crianças com menos de 5 anos tinham excesso de peso ou obesidade. Outrora o que era considerado um problema nos países de alta renda, o excesso de peso e a obesidade passaram a aumentar nos países de rendimento baixo e médio, especialmente em ambientes urbanos. Na África, o número de crianças com menos de 5 anos com excesso de peso aumentou quase 24% desde 2000 e quase metade das crianças com menos de 5 anos que viviam na Ásia, tinham excesso de peso ou eram obesas em 2019.

De forma alarmante, em 2016 mais de 340 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos tinham sobrepeso ou obesidade. Com a prevalência de sobrepeso e obesidade entre crianças e adolescentes de 5 a 19 anos aumentando dramaticamente de apenas 4% em 1975 para pouco mais de 18% em 2016. O aumento ocorreu de forma semelhante entre meninos e meninas: em 2016, 18% das meninas e 19 % de meninos estavam acima do peso.

Embora pouco menos de 1% das crianças e adolescentes entre os 5 e os 19 anos fossem obesos em 1975, mais 124 milhões de crianças e adolescentes (6% das meninas e 8% dos meninos) eram classificados com obesidade em 2016.

Obesidade

A obesidade é um problema de saúde pública tão grave de ser evidenciado que dados da OMS também apontam que o sobrepeso e a obesidade estão associados a mais mortes em todo o mundo do que o baixo peso. Globalmente, há mais pessoas obesas do que com baixo peso – isto ocorre em todas as regiões, exceto em partes da África Subsariana e da Ásia.

Os registros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que uma em cada três crianças, com idade entre cinco e nove anos, está acima do peso no país, e as notificações do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, de 2019, revelam que 14,96% das crianças brasileiras entre cinco e dez anos estão com sobrepeso; 8,22% com obesidade; e 4,97% com obesidade grave. Em relação aos adolescentes, 18,25% apresentam sobrepeso; 7,91% apresentam obesidade; e 1,8% têm obesidade grave.

Riscos

A obesidade aumenta o risco de desenvolver puberdade precoce em crianças, irregularidades menstruais em meninas adolescentes, distúrbios do sono, como apneia obstrutiva do sono, fatores de risco cardiovascular que incluem pré-diabetes, diabetes tipo 2, níveis elevados de colesterol, hipertensão, doença hepática gordurosa não alcoólica e síndrome metabólica. Além disso, crianças e adolescentes obesos podem sofrer de problemas psicológicos como depressão, ansiedade, baixa autoestima, distúrbios de imagem corporal, problemas de relacionamento com colegas, além de transtornos alimentares.

Esse cenário alarmante nos faz refletir sobre a importância da alimentação na infância e como ela desempenha um papel fundamental na prevenção e no tratamento da obesidade infantil.

  • Potenciais causas da obesidade infantil:

A obesidade infantil não é resultado de um único fator, mas sim de uma interação complexa de diversos elementos, assim como na obesidade durante a vida adulta. As principais causas da obesidade infantil incluem:

1. Alimentação inadequada:

A alimentação desequilibrada, rica em alimentos ultraprocessados, fast-food, refrigerantes e doces, é um dos principais fatores de risco para a obesidade infantil. Esses alimentos são geralmente altos em calorias, açúcares e gorduras saturadas, mas pobres em nutrientes essenciais, o que favorece uma alta ingestão calórica proveniente de alimentos de baixo valor nutricional, contribuindo para o ganho de peso.

2. Sedentarismo:

A falta de atividade física é outra causa importante da obesidade infantil. Com o avanço da tecnologia, as crianças passam cada vez mais tempo em frente às telas de computadores, tablets e smartphones, reduzindo o tempo dedicado a brincadeiras ao ar livre e atividades físicas. A falta de estímulo e interesse para praticar esporte e/ou realizar brincadeira mais ativas pode ser um fator agravante para o desenvolvimento dessa condição e também repercutir na construção de hábitos mais tarde na vida adulta.

3. Ambiente familiar e social:

O ambiente em que a criança cresce desempenha um papel fundamental. Famílias com hábitos alimentares inadequados e pouco incentivo à atividade física têm maior probabilidade de ter crianças obesas. Além disso, fatores socioeconômicos, como acesso limitado a alimentos saudáveis e a falta de tempo para a preparação de refeições caseiras, também contribuem para a obesidade infantil.

4. Marketing de alimentos:

A publicidade de alimentos pouco saudáveis direcionada às crianças influencia suas preferências alimentares. Personagens de desenhos animados e celebridades são frequentemente usados para promover produtos alimentícios não saudáveis, tornando-os mais atrativos para as crianças. O que antes era um problema causado pelo acesso as televisões, se tornou ainda mais presente através do uso da internet que se torna cada vez mais precoce com o passar das gerações.

5. Genética:

A predisposição genética desempenha um papel relevante na obesidade. Crianças com histórico familiar de obesidade têm maior probabilidade de desenvolver a condição.

Além dos fatores destacados, outros fatores também podem exercer influência na obesidade infantil, dentre eles: baixo peso ao nascer, a utilização de fórmulas infantis em vez de leite materno na infância e a introdução precoce de proteínas na ingestão alimentar do bebê.

Riscos associados à obesidade infantil:

A obesidade infantil não é apenas uma questão estética; ela está associada a uma série de riscos para a saúde a curto e longo prazo. Alguns desses riscos incluem:

1. Puberdade precoce:

O ganho excessivo de peso em crianças pode influenciar o crescimento e o desenvolvimento puberal. A obesidade infantil pode causar aceleração pré-púbere da velocidade de crescimento linear e idade óssea avançada em meninos e meninas.

A nutrição adequada é essencial para o momento e ritmo típicos do início da puberdade. O ganho excessivo de peso pode iniciar a puberdade precoce, devido à alteração dos parâmetros hormonais. Crianças obesas podem apresentar adrenarca prematura, telarca ou puberdade precoce.

2. Desenvolver doenças crônicas na infância:

Crianças com obesidade têm maior probabilidade de desenvolver problemas de saúde, como hipertensão arterial, diabetes tipo 2, apnéia do sono, esteatose hepática não alcoólica e problemas ortopédicos.

3. Desenvolver doenças crônicas na vida adulta:

A obesidade infantil está ligada a um maior risco de desenvolver doenças crônicas na vida adulta, incluindo diabetes, hipertensão, doenças cardíacas, acidente vascular cerebral, câncer, osteoartrite e depressão.

4. Impacto psicossocial:

Crianças com obesidade frequentemente enfrentam discriminação e bullying, o que pode levar a problemas psicossociais, como baixa autoestima, ansiedade e depressão.

  • Prevenção da Obesidade Infantil:

A prevenção da obesidade infantil é uma prioridade de saúde pública. A seguir, apresentamos algumas estratégias simples e eficazes para prevenir o excesso de peso e a obesidade em crianças:

1. Promoção da amamentação:

O aleitamento materno exclusivo durante os primeiros seis meses de vida e o aleitamento continuado até os 2 anos está associado a um menor risco de obesidade infantil. O leite materno é um alimento completo, fornece nutrientes essenciais para o desenvolvimento infantil e ajuda a regular a saciedade da criança.

2. Introdução de alimentos sólidos saudáveis:

A introdução de alimentos sólidos deve ser feita de forma gradual, com ênfase em alimentos nutritivos, como frutas, legumes, cereais integrais e proteínas magras. Evite a introdução precoce de alimentos ultraprocessados e açucarados.

3. Educação alimentar:

Educar as crianças sobre a importância de uma alimentação saudável e equilibrada é fundamental. Envolver as crianças na preparação de refeições e ensiná-las a fazer escolhas alimentares conscientes pode ajudar a desenvolver hábitos saudáveis desde cedo.

4. Restrição do acesso a alimentos não saudáveis:

Limite a disponibilidade de alimentos não saudáveis em casa. Se esses alimentos não estiverem disponíveis, a criança terá menos oportunidade de consumi-los.

5. Promoção da atividade física:

Incentive a prática regular de atividade física, seja por meio de esportes, brincadeiras ao ar livre ou atividades em grupo. Limitar o tempo de tela também é importante para promover um estilo de vida ativo.

6. Envolvimento da família:

Envolver toda a família na adoção de hábitos saudáveis é crucial. Os pais devem servir como modelos de comportamento alimentar e estilo de vida ativo para seus filhos.

7. Apoio profissional:

Em casos de obesidade infantil já estabelecida, é importante buscar ajuda de profissionais de saúde, como nutricionistas e pediatras, que podem fornecer orientação personalizada e planos de tratamento adequados.

  • Intervenção na obesidade infantil:

Quando a obesidade infantil já está presente, é fundamental abordá-la com cuidado e acompanhamento profissional. Algumas estratégias de intervenção incluem:

1. Avaliação nutricional:

O nutricionista deve realizar uma avaliação completa do estado nutricional da criança, levando em consideração seu histórico alimentar desde o nascimento, hábitos de atividade física e fatores de risco, por exemplo.

2. Plano alimentar individualizado:

Com base na avaliação nutricional, o nutricionista pode criar um plano alimentar personalizado, que leve em consideração as necessidades específicas da criança. Esse plano deve ser flexível e adaptável às preferências da criança e da família.

3. Acompanhamento regular:

O acompanhamento contínuo com o nutricionista é essencial para monitorar o progresso da criança, ajustar o plano alimentar conforme necessário e oferecer apoio emocional. O trabalho multidisciplinar também é fundamental, seja junto com médicos, psicólogos e/ou educadores físicos.

4. Promoção da atividade física:

Incentive atividades físicas adequadas à idade e ao nível de condicionamento da criança, incentivando a prática regular de exercícios.

5. Educação alimentar:

Continue a educação alimentar, ensinando a criança sobre a importância de escolhas alimentares saudáveis e equilibradas estimulando a experimentação de novos alimentos e os envolvendo em todas as etapas de preparação.

6. Envolvimento da família:

A família desempenha um papel crucial na intervenção da obesidade infantil. O apoio da família é fundamental para o sucesso do tratamento.

 

  • Importância da educação alimentar:

A educação alimentar desempenha um papel central na prevenção e no tratamento da obesidade infantil. Ensinar as crianças sobre a importância de uma alimentação saudável, equilibrada e consciente é fundamental para ajudá-las a fazer escolhas alimentares adequadas ao longo da vida. Além disso, a educação alimentar pode promover uma relação saudável e positiva com a comida, reduzindo o risco de transtornos alimentares.

 

1. Conhecimento nutricional:

Ensinar sobre os diferentes grupos alimentares, os nutrientes essenciais, a importância das porções adequadas e como ler rótulos de alimentos, são exemplos de boas práticas de ensino para esse grupo.

2. Habilidades culinárias:

Ensinar as crianças a preparar refeições simples e saudáveis pode capacitá-las a fazer escolhas alimentares melhores e aumentar sua autonomia na cozinha.

3. Consciência emocional:

A educação alimentar também deve abordar a relação entre as emoções e a comida, ajudando a criança a reconhecer e lidar com seus sentimentos e também sobre tal influência na sua alimentação.

A obesidade infantil é um problema de saúde pública crescente com sérias consequências para o bem-estar das crianças. A alimentação desempenha um papel central na prevenção e no tratamento dessa condição. É fundamental adotar abordagens multidisciplinares que envolvam a família, profissionais de saúde e educadores para promover hábitos alimentares saudáveis desde a infância.

Através da promoção do aleitamento materno, da introdução de alimentos sólidos saudáveis, da educação alimentar, da promoção da atividade física e do apoio profissional, podemos criar um ambiente propício para o desenvolvimento saudável das crianças e a prevenção da obesidade infantil. Além disso, a educação alimentar desempenha um papel fundamental na formação de adultos conscientes e saudáveis, capazes de fazer escolhas alimentares que promovam uma vida longa e saudável.

Referências:

  • Kansra, Alvina R., Sinduja Lakkunarajah, and M. Susan Jay. “Childhood and adolescent obesity: A review.” Frontiers in pediatrics 8 (2021): 866.

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