As doenças ginecológicas são doenças dos órgãos reprodutivos femininos, consideradas um problema de saúde pública e social, e incluem tumores benignos e malignos, infecções e distúrbios endócrinos.
Tais doenças afligem significativamente a qualidade de vida das mulheres, e muitas delas, infelizmente, ainda carecem de planos de tratamento eficazes. Promover a prevenção primária e secundária é essencial para saúde reprodutiva e bem-estar dessas mulheres.
Aplicar uma abordagem preventiva para essas condições parece ser uma excelente estratégia. É fundamental educar os pacientes sobre a importância de um estilo de vida saudável e orientar sobre as medidas dietéticas adequadas, que são aspectos fundamentais para a composição desse estilo de vida.
Um artigo científico de revisão publicado neste ano resumiu pesquisas publicadas sobre a correlação existente entre nutrientes e suplementos dietéticos com doenças ginecológicas comuns, e abaixo destacamos 3 delas:
Infertilidade:
O estilo de vida e os fatores nutricionais têm se mostrado elementos importantes no funcionamento do sistema reprodutor normal. A literatura que explora a relação entre dieta e infertilidade se expandiu na última década e estudos concordam que a ingestão de ácido fólico é recomendada para a prevenção de defeitos do tubo neural, e está relacionada a uma menor frequência de infertilidade e a um menor risco de perda da gravidez.
Outros componentes nutricionais, ou tipos de dieta, têm sido estudados em relação a infertilidade feminina, incluindo a dieta mediterrânea, gorduras, vitaminas, cafeína, fumo, álcool e, mais recentemente, probióticos.
A dieta mediterrânea (rica em vegetais, frutas, grãos integrais, legumes, nozes e azeite de oliva e pobre em carne vermelha) tem se mostrado benéfica em vários aspectos da saúde no geral e também tem sido estudada em relação a fertilidade. Os resultados da coorte “Nurses Health Study”, que incluiu 438 infertilidades relacionadas a distúrbios da ovulação, mostraram uma associação significativa entre a fertilidade feminina e o consumo de carboidratos de baixo índice glicêmico, ácidos graxos monoinsaturados, proteínas de origem vegetal e suplementos com ferro, folato, e vitaminas.
O ômega-3 (EPA e DHA) parece melhorar a infertilidade feminina, embora não esteja claro se as toxinas ambientais em tais fontes alimentares, como peixes, podem reduzir esse benefício.
Síndrome do ovário policístico (SOP):
A síndrome do ovário policístico (SOP) é uma condição hormonal complexa e comum em mulheres em idade reprodutiva, caracterizada por disfunção ovulatória, anovulação crônica, menstruação alterada e pequenos cistos ovarianos em um ou ambos os ovários, que podem impactar na fertilidade.
De acordo com a literatura, a SOP está associada a outras doenças comuns, como resistência à insulina, obesidade, diabetes tipo 2, hipertensão, câncer endometrial e hiperandrogenemia.
Uma das abordagens que mais se sobressai no tratamento da SOP é a dietoterapia com o objetivo de reduzir a resistência à insulina e a disfunção reprodutiva. Considerando a associação da SOP com obesidade e resistência à insulina, deve-se observar que uma redução de aproximadamente 5% a 10% no peso pode aumentar a atividade reprodutiva. Isso pode ser alcançado por meio da perda de peso, diminuição da ingestão de alimentos com alto índice glicêmico e alimentos ricos em gorduras saturadas e ingestão suficiente de ômega-3 e vitamina D, por exemplo.
Alimentos ricos em gordura, principalmente ácidos graxos saturados, aumentam o risco de resistência à insulina e suas complicações relacionadas.
Evidências atuais revelam o papel da vitamina D em diferentes vias metabólicas, incluindo a via de sinalização da insulina. Estudos anteriores mostram que a via de sinalização da vitamina D contribui diretamente para a ativação do gene do receptor de insulina.
Os flavonoides são compostos polifenólicos que possuem propriedades antioxidantes, antiestrogênicas e antidiabéticas. Esses compostos naturais estão emergindo como mediadores importantes na patogênese de muitos distúrbios reprodutivos, como a SOP.
Endometriose:
A endometriose é um distúrbio ginecológico inflamatório e dependente de estrogênio, caracterizado pela proliferação de células endometriais fora da cavidade uterina. As células migram de seu local original, no útero, para outros órgãos e produzem tecidos semelhantes ao endométrio em vários locais anatômicos fora da cavidade uterina, particularmente os ovários e o peritônio.
A prevalência exata da endometriose não é determinada devido à falta de técnicas diagnósticas não invasivas adequadas, mas estima-se que cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva sofrem de endometriose. Além disso, sua prevalência aumenta para aproximadamente 20% a 50% em mulheres com dor pélvica ou infertilidade.
Alimentos ricos em ácidos graxos ômega-6, como a carne vermelha, estão correlacionados com níveis mais altos de estradiol e sulfato de estrona, que estão ligados a concentrações mais altas de esteróides, inflamação e desenvolvimento de endometriose. Enquanto isso, a suplementação com ômega-3 pode diminuir o crescimento de implantes endometriais e a produção de fatores inflamatórios, particularmente em pacientes com endometriose em estágio III ou IV.
A vitamina D é um regulador clássico das vias inflamatórias e tem sido amplamente estudada no campo da endometriose. Macrófagos, linfócitos e células dendríticas expressam enzimas que usam essa vitamina.
A N-acetilcisteína, também conhecida como acetilcisteína, pode reduzir a inflamação e aliviar a endometriose. Curiosamente, os alimentos com N-acetilcisteína, incluindo cebola, alho, gérmen de trigo, brócolis e couve de Bruxelas, são relatados como tendo a capacidade de controlar a proliferação celular e o estresse oxidativo nas células endometrióticas.
Referências:
1- Ciebiera, M.; Esfandyari, S.; Siblini, H.; Prince, L.; Elkafas, H.; Wojtyła, C.; Al-Hendy, A.; Ali, M. Nutrition in Gynecological Diseases: Current Perspectives. Nutrients 2021, 13, 1178.