A hipertensão arterial, ou pressão alta, é uma doença crônica caracterizada pelos níveis elevados da pressão sanguínea nas artérias. Uma pessoa é diagnosticada como hipertensa quando os valores das pressões máxima e mínima são iguais ou ultrapassam os 140/90 mmHg (ou 14 por 9). O novo parâmetro, porém, classifica como pré-hipertenso o indivíduo com pressão máxima entre 13 e 13,9 e mínima entre 8,5 e 8,9.
A pressão ideal agora é a que registra números abaixo de 12 por 8. A pressão elevada faz com que o coração seja submetido a um maior esforço durante a sístole e a diástole, a fim de distribuir o sangue completamente pelo corpo.
A hipertensão é um dos principais fatores de risco para a ocorrência de doenças cardíacas e acidente vascular cerebral. Além disso, a hipertensão arterial é o principal contribuinte para todas as causas de morte e invalidez em todo o mundo. O estudo Global Burden of Disease demonstrou que o aumento da pressão arterial é responsável por 9,4 milhões de mortes, e 212 milhões de anos de vida saudável foram perdidos (8,5% do total global) a cada ano. Somente no Brasil, morrem 388 pessoas por dia devido à hipertensão. Ampliando o espectro para nível global, podemos afirmar que 3,5 bilhões de adultos agora têm níveis de pressão arterial sistólica não ideais e 874 milhões de adultos têm pressão arterial sistólica ≥140 mmHg. Portanto, um em cada quatro adultos possui hipertensão.
Diagnóstico
Apesar de possuir um diagnóstico fácil, a hipertensão é uma doença silenciosa, onde seus sintomas começam a ser percebidos somente quando a pressão se encontra muito elevada. Os sintomas apresentados são:
- Dores no peito;
- Dor de cabeça;
- Tonturas;
- Zumbido no ouvido;
- Fraqueza;
- Visão embaçada;
- Sangramento nasal.
Para diagnosticar a doença, a única maneira é através da aferição regularmente da pressão arterial e ficar atento aos sinais e sintomas da doença.
Segundo o Ministério da Saúde, pessoas acima de 20 anos de idade devem medir a pressão ao menos uma vez por ano. Se houver casos de pessoas com pressão alta na família, deve-se medir no mínimo duas vezes por ano, uma vez que 90% dos casos de hipertensão são herdados dos progenitores. No entanto, há diversos fatores que podem influenciar nos níveis de pressão arterial.
Pressão arterial e o desenvolvimento de patologias
Diversos estudos demonstraram uma relação forte entre a hipertensão e o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, incluindo: doença cardíaca coronária, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral, infarto do miocárdio, fibrilação atrial e doença arterial periférica, e também doença renal crônica e comprometimento cognitivo.
Além da genética, existem diversos fatores, como o consumo excessivo de sódio, tabagismo, consumo excessivo de álcool, sedentarismo, obesidade, restrição de sono e níveis altos de colesterol, que comprovadamente aumentam o risco de desenvolvimento da doença.
Sódio e hipertensão:
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a ingestão diária de sódio recomendada é inferior a 2 gramas por dia (g/dia), o equivalente a 5g/dia de sal. Diretrizes apontam que a ingestão diária de sódio recomendada varia entre 3,8 gramas a 6 gramas. Entretanto, grande parte da população acaba por extrapolar este limite. Em relatório publicado pela Organização Mundial de Saúde, foi exposto que uma redução de 10 gramas de sódio para 5 gramas por dia reduziria em 23% as taxas de AVC e 17% as taxas de acidente cardiovascular. Em um estudo observacional conduzido em 52 centros ao redor do mundo, descobriu-se que a média da ingestão de sal, avaliada pela excreção de sódio na urina em 24 horas, estava significativamente associada aos níveis médios de pressão arterial sistólica e também ao aumento da pressão arterial à medida que as pessoas envelhecem.
Álcool e hipertensão:
O consumo excessivo de álcool é outro fator associado ao aumento do risco de desenvolvimento de hipertensão. Segundo diretrizes, o consumo de álcool, dentro dos limites para mulheres, seria entre 10 a 23 gramas, e em homens, entre 20 a 30 gramas. Em uma meta-análise publicada em 2009, foi verificado que homens e mulheres que consumiram mais de 50g de álcool aumentaram suas chances de desenvolvimento de hipertensão em 57% e 81%, respectivamente. Os aumentos de chance são mais alarmantes quando o consumo é extrapolado para acima de 100 gramas, já que o estudo resultou em um aumento de 147% para homens e 181% para mulheres.
Tabagismo e hipertensão:
A prática do tabagismo é um poderoso fator de risco para doenças cardiovasculares. Devido à sua estimulação do sistema nervoso simpático, ele exerce de forma aguda um efeito hipertensivo. O tabagismo também ocasiona o comprometimento da função endotelial, a rigidez arterial, a inflamação, a modificação lipídica, bem como a alteração dos fatores anti-trombóticos e pró-trombóticos. Fumantes hipertensos são mais propensos a desenvolver formas graves de hipertensão, incluindo hipertensão maligna e renovascular, um efeito provavelmente devido a uma aterosclerose acelerada.
Obesidade e hipertensão: A obesidade aumenta a pressão arterial e é responsável por 65-75% da hipertensão primária, que é um dos principais causadores de doenças cardiovasculares e renais. Evidências substanciais indicam que o excesso de tecido adiposo visceral está relacionado a um risco maior de distúrbios cardiometabólicos, incluindo hipertensão. Um estudo em indivíduos com idades entre 25 e 74 anos relatou que um aumento no IMC em um período de 5 anos levou a um aumento de 30% no risco de hipertensão em comparação com pessoas cujo peso se manteve inalterado.
Manejo nutricional na hipertensão:
Além da redução no consumo de álcool e sódio, como previamente citado, outros manejos nutricionais, como a inclusão de certos alimentos, podem ser feitos para que haja uma diminuição nos níveis de pressão arterial ou até aumento da prevenção da hipertensão.
Tratamento Multifacetado da Hipertensão
- Estilo de Vida Saudável: O tratamento da hipertensão arterial começa com a adoção de um estilo de vida saudável. Isso inclui a prática regular de atividade física, controle do estresse e a eliminação de hábitos prejudiciais, como fumar e consumo excessivo de álcool.
- Dieta Balanceada: A alimentação desempenha um papel crucial no controle da pressão arterial. Os Nutricionistas têm um papel vital em fornecer orientações específicas sobre uma dieta balanceada. Isso envolve a redução do consumo de sódio, uma vez que o excesso desse mineral está associado ao aumento da pressão arterial. Além disso, incentivar o aumento do consumo de potássio, que ajuda a equilibrar os efeitos do sódio no corpo, é essencial.
- Alimentação Rica em Fibras: Nutricionistas podem recomendar uma dieta rica em fibras, pois isso não apenas promove a saúde digestiva, mas também pode contribuir para a redução da pressão arterial. Alimentos como frutas, legumes, grãos integrais e leguminosas são excelentes fontes de fibras.
- Controle da Ingestão Calórica: A manutenção de um peso corporal saudável está associada a uma pressão arterial mais baixa. Nutricionistas podem ajudar os pacientes a entenderem a importância do controle da ingestão calórica e a fazerem escolhas alimentares que promovam o emagrecimento gradual e sustentável.
Dieta DASH
A dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) consiste em um plano alimentar desenvolvido com o objetivo de prevenir e controlar a hipertensão. A priori, a dieta DASH foi concebida como uma abordagem nutricional para reduzir a pressão arterial, mas ao longo do tempo também tem sido associada a outros benefícios para a saúde, como a redução do risco de doenças cardíacas, derrame cerebral e diabetes.
A base dessa dieta se caracteriza por um alto consumo de alimentos ricos em micronutrientes e fibras, como frutas, legumes, grãos integrais, laticínios com baixo teor de gordura, proteínas magras, leguminosas e quantidades moderadas de gordura insaturada.
Gorduras
Ao mesmo tempo, enfatiza a redução do consumo de sódio e alimentos ultraprocessados, que são fontes significativas de sódio e de gorduras saturadas. As gorduras mono e poli-insaturadas ajudam a manter o estado inflamatório do corpo sob controle, fornecendo ácidos graxos essenciais, tem um impacto positivo no perfil lipídico e favorecem a saúde geral.
Quando consumidas dentro de uma dieta adequada, essas gorduras demonstraram favorecer o aumento do HDL e diminuir o LDL. Algumas das fontes de gorduras boas também incentivadas na dieta DASH são: azeite, abacate, oleaginosas, sementes (chia, linhaça, abóbora…) e peixes ricos em ômega 3. As gorduras são uma fonte altamente densa em calorias e, portanto, devem ser consumidas com moderação.
Tratamento
O tratamento da hipertensão arterial é um componente fundamental na promoção da saúde cardiovascular e na prevenção de complicações graves. Ao longo deste texto, exploramos a importância da abordagem multifacetada, que inclui mudanças no estilo de vida, adoção de uma dieta balanceada, prática regular de atividade física, redução do estresse e, quando necessário, o uso de medicamentos prescritos por profissionais de saúde.
Os Nutricionistas desempenham um papel vital nesse processo, fornecendo orientações personalizadas aos pacientes para adotarem escolhas alimentares saudáveis, como a redução do consumo de sódio, aumento do consumo de potássio, ingestão de alimentos ricos em fibras e controle da ingestão calórica. Além disso, a educação sobre a importância de evitar alimentos processados, fast food e excesso de açúcares contribui para o controle da pressão arterial.
Individualidade
É essencial reconhecer que cada indivíduo é único, e um plano de tratamento eficaz deve ser adaptado às necessidades específicas de cada paciente. O trabalho conjunto entre Nutricionistas, médicos e outros profissionais de saúde é crucial para alcançar resultados positivos e duradouros.
Em última análise, a prevenção e o controle da hipertensão arterial envolvem a promoção de mudanças sustentáveis no estilo de vida e a conscientização contínua sobre os riscos associados. Com uma abordagem abrangente, baseada em evidências científicas e adaptada individualmente, é possível oferecer aos pacientes as ferramentas necessárias para melhorar sua saúde cardiovascular e qualidade de vida.
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