Depressão pós-parto

Depressão pós-parto

A chegada de um bebê é um momento repleto de alegria e expectativas. No entanto, para algumas mulheres, esse período de felicidade pode ser acompanhado por um sentimento avassalador de tristeza e desânimo conhecido como depressão pós-parto.

Esse distúrbio emocional afeta não apenas a mãe, mas também todo o núcleo familiar, incluindo a possibilidade de consequências negativas para o desenvolvimento comportamental, emocional e cognitivo do bebê. No entanto, diferente do que muitos imaginam, a Nutrição pode desempenhar um papel crucial no auxílio às mulheres que enfrentam a depressão pós-parto, juntamente com outras práticas que podem ser associadas para melhorar o tratamento em um acompanhamento multiprofissional.

Afinal, o que é depressão pós-parto?

Normalmente, apresenta sinais que se assemelham aos que o Transtorno Depressivo Maior (TDM) pode manifestar, como sentimentos de tristeza, falta de interesse ou satisfação em atividades, perturbações no sono, mudanças nos padrões alimentares, diminuição de energia, sensações de inadequação ou culpa, dificuldade de concentração, irritação, ansiedade e até mesmo pensamentos suicidas.

Esse cenário dificulta o crescimento pessoal das mães e o desenvolvimento saudável das crianças, uma vez que também influencia negativamente a qualidade de vida e as interações com seus filhos, parceiros e familiares. A depressão grave ou crônica da mãe tem um impacto ainda maior no desenvolvimento infantil do que formas mais leves de depressão.

Portanto, a depressão pós-parto tem consequências diretas e indiretas no desenvolvimento das crianças, incluindo um ambiente doméstico menos favorável, reduzida sensibilidade e cuidado materno. Esses riscos são ainda mais ampliados em famílias de baixa renda. Revisões não sistemáticas indicam que filhos de mães deprimidas não tratadas enfrentam problemas como dificuldades cognitivas, comportamentais e emocionais, incluindo comportamento agressivo, transtornos psiquiátricos e médicos na adolescência, quando comparados a mães sem depressão pós-parto.

Dados epidemiológicos

Dados alarmantes revelam a extensão da depressão pós-parto.

No Brasil, aproximadamente 25% das mães demonstram indícios de depressão durante o período de 6 a 18 meses após o nascimento do filho. A taxa global de Depressão Pós-Parto observada é de 26,3%, ultrapassando a estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) para nações de baixa renda, que é de 19,8%. Contudo, é superior aos 13,4% observados em um grupo de mães de status socioeconômico elevado.

Surpreendentemente, de acordo com a OMS, 75% dos pacientes não recebem o tratamento adequado, e especificamente no contexto da depressão pós-parto, somente metade dos casos é diagnosticada, levando a uma taxa de acompanhamento adequado para mulheres inferior a 25%, evidenciando a importância de abordagens eficazes para tratamento e prevenção.

Tratamento: como a Nutrição pode auxiliar essa mulher?

A Nutrição desempenha um papel fundamental na saúde emocional e mental de uma pessoa. No contexto da depressão pós-parto, uma alimentação equilibrada e rica em nutrientes pode fazer uma diferença significativa.

Nutrientes como ômega-3, vitamina D, vitaminas do complexo B, ferro, magnésio e triptofano têm sido associados à melhora do humor e à redução dos sintomas da depressão.

‌Além disso, é importante considerar que a rotina de uma nova mãe muitas vezes pode ser agitada e desafiadora. Portanto, orientar a mulher a manter uma dieta saudável, mesmo em meio a uma agenda atribulada, pode ser uma estratégia valiosa para a prevenção e o tratamento da depressão pós-parto.

Práticas associadas para a melhora do tratamento

Além da Nutrição, outras práticas podem ser incorporadas para melhorar o tratamento da depressão pós-parto. Vários estudos indicam que recomendações da prática de atividade física de intensidade moderada, durante pelo menos 30 minutos na maioria dos dias da semana, resultam em melhorias, principalmente no quesito bem-estar psicossocial da mulher.

Além disso, o exercício físico possui a vantagem de depender menos de fatores externos, como a disponibilidade de um terapeuta, o que o torna uma abordagem econômica, funcionando como um complemento de autocuidado que pode ser realizado sem a necessidade de um ambiente médico convencional. No entanto, os resultados sugerem que a combinação de exercícios personalizados com a supervisão de um profissional promove uma adesão ainda maior ao regime de exercícios do que intervenções sem supervisão.

Terapia cognitivo-comportamental

A terapia cognitivo-comportamental também se mostrou eficaz no tratamento da depressão pós-parto. Ao trabalhar com um psicoterapeuta, a mulher pode aprender a identificar padrões de pensamento negativos e desenvolver estratégias para enfrentar esses desafios de maneira construtiva.

Em casos mais graves de depressão pós-parto, medicamentos podem representar uma intervenção viável. É essencial que os profissionais de saúde reconheçam a possibilidade de que as mães possam hesitar em adotar tratamentos medicamentosos devido às preocupações com a transferência desses medicamentos para o leite materno.

Uma análise cuidadosa de riscos e benefícios em relação à intervenção farmacológica é crucial, envolvendo tanto a mãe quanto todos os profissionais de saúde pertinentes. Recorrer a fontes confiáveis de informações é inestimável para fornecer orientação às mães durante o processo de tomada de decisão em relação ao uso de medicamentos.

A importância do acompanhamento multiprofissional

O tratamento da depressão pós-parto deve ser holístico e abordar todos os aspectos da saúde da mulher e do bebê. Nesse sentido, o acompanhamento multiprofissional é essencial. Nutricionistas, pediatras, psicólogos, psiquiatras, educadores físicos, consultores de lactação e outros profissionais de saúde devem trabalhar em conjunto para fornecer um cuidado completo e integrado.

A depressão pós-parto não deve ser enfrentada sozinha, e o apoio de uma rede de profissionais qualificados pode fazer toda a diferença no processo de recuperação. Cada especialista traz uma perspectiva única para o tratamento, garantindo que a mulher receba o suporte necessário em todas as áreas relevantes.

Essa é uma realidade desafiadora, mas o tratamento eficaz está ao alcance. Nutricionistas desempenham um papel crucial ao orientar as mulheres sobre a importância de uma alimentação saudável e equilibrada, rica em nutrientes essenciais para o bem-estar mental.

Além disso, a incorporação de práticas como atividade física e terapia cognitivo-comportamental, juntamente com o acompanhamento multiprofissional, pode oferecer um caminho promissor para a recuperação e a construção de um vínculo materno saudável. É essencial que, como profissionais de saúde, estejamos comprometidos em oferecer o melhor cuidado possível às mulheres que enfrentam essa jornada, ajudando-as a encontrar a luz no fim do túnel e a redescobrir a alegria da maternidade.

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