A aplicação da fitoterapia para tratamento da saúde mental tem sido objeto de muitos estudos científicos recentes e tem se mostrado uma opção segura e eficaz para o tratamento de algumas condições, como a ansiedade e a depressão.
Fitoterapia x Ansiedade
A ansiedade é uma das condições de saúde mental mais comuns, afetando milhões de pessoas em todo o mundo. O tratamento convencional inclui o uso de medicamentos como ansiolíticos e antidepressivos, que podem ter efeitos colaterais indesejados. Por outro lado, os tratamentos baseados em plantas medicinais têm sido estudados como uma alternativa mais segura e natural para o tratamento da ansiedade.
Dentre as plantas mais estudadas para o tratamento da ansiedade, destaca-se a Passiflora incarnata, conhecida popularmente como maracujá. Estudos têm mostrado que o extrato de Passiflora incarnata pode ajudar a reduzir os níveis de ansiedade em pacientes com transtornos de ansiedade leves e moderados. As dosagens utilizadas variaram de 200 a 1200 mg/dia com administração única ou até 4 semanas.
Essa planta tem ação similar aos benzodiazepínicos, por atuar no sistema nervoso central aumentando a atividade do ácido gama-aminobutírico (GABA), neurotransmissor responsável por inibir a atividade cerebral e promover relaxamento.
Já a Valeriana officinalis também é uma planta conhecida por suas propriedades sedativas e ansiolíticas. Diversos estudos demonstraram a eficácia da Valeriana no tratamento da insônia e concluiu que há evidências para seu uso como tratamento coadjuvante em pacientes com insônia leve a moderada. As dosagens utilizadas variaram de 300 a 1000 mg/dia e a duração do uso variou de dose única a 8 semanas.
A Melissa officinalis, conhecida como erva-cidreira, também tem sido estudada no tratamento da saúde mental, principalmente em pacientes com transtornos de ansiedade. Evidências têm demonstrado sua utilização no tratamento coadjuvante para pacientes com ansiedade leve a moderada. As dosagens utilizadas nos estudos variam de 300 a 1000 mg/dia, em doses únicas ou até 56 dias.
A lavanda, Lavandula angustifolia, é uma planta popularmente usada para aliviar o estresse e promover o relaxamento. Seu óleo essencial é amplamente utilizado na aromaterapia e é considerado seguro para uso em humanos. Várias revisões sistemáticas e meta-análises têm demonstrado a eficácia da lavanda como fitoterápico no tratamento de transtornos mentais, principalmente ansiedade leve a moderada e insônia. As dosagens utilizadas variam de 80 a 600 mg/dia, de 1 a 12 semanas. Mas a dosagem de 80mg por 6 semanas parece ser a melhor opção de administração.
Fitoterapia x Depressão
A depressão é outra condição de saúde mental que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. O tratamento convencional inclui o uso de antidepressivos, que podem ter efeitos colaterais indesejados e nem sempre são eficazes. Entretanto, as plantas medicinais têm sido estudadas como uma alternativa, em alguns casos, para o tratamento da depressão, ainda que não sejam isentas de riscos.
Dentre as plantas mais estudadas para o tratamento da depressão, destaca-se a Hypericum perforatum, conhecida popularmente como erva-de-são-joão. Estudos têm mostrado que o extrato pode ser eficaz no tratamento da depressão leve a moderada. Em uma revisão sistemática foi observado que o extrato de erva-de-são-joão foi tão eficaz quanto os antidepressivos convencionais no tratamento da depressão leve a moderada. As dosagens utilizadas variaram de 300 a 900 mg/dia e a duração do uso variou de 4 a 12 semanas.
Um estudo recente também destacou o potencial da Rhodiola rosea no tratamento de transtornos de ansiedade e depressão. A Rhodiola rosea é uma planta adaptógena, ou seja, ela ajuda o organismo a lidar com o estresse, mostrando-se eficaz no tratamento de transtornos de ansiedade e depressão, com poucos efeitos colaterais, através de ensaios clínicos randomizados. As dosagens utilizadas variaram de 50 a 1500 mg/dia, e a duração do uso variou de dose única a 12 semanas.
Além disso, outras plantas como a Matricaria chamomilla (camomila) e Piper methysticum (kava-kava) também vêm sendo estudadas pelos seus possíveis efeitos ansiolíticos e antidepressivos, sendo que algumas delas possuem mecanismos de ação semelhantes aos medicamentos convencionais.
Vale destacar o uso da Curcuma longa, popularmente conhecida como açafrão-da-terra ou cúrcuma. Esta planta tem sido usada tradicionalmente como anti-inflamatório e antioxidante, mas estudos recentes têm demonstrado seu potencial no tratamento de transtornos de humor, como a depressão. A Curcuma longa mostrou-se eficaz no tratamento da depressão leve a moderada, com poucos efeitos colaterais. As dosagens mais utilizadas variaram de 500 a 1000 mg/dia, e a duração do uso variou de 4 a 12 semanas.
Fitoterapia x Memória
A Ginkgo biloba (ginkgo) também tem sido estudada quanto a sua eficácia no tratamento da demência. Até o momento, os estudos têm demonstrado a eficácia do ginkgo como tratamento coadjuvante em pacientes com demência. As dosagens utilizadas variaram de 60 a 600 mg/dia e a duração do uso variou de 12 a 52 semanas, demonstrando um efeito potencialmente benéfico para pessoas com demência quando administrado em doses superiores a 200mg/dia por pelo menos 5 meses.
Para melhora de memória e concentração, a Bacopa monnieri (brahmi) tem sido evidenciada como eficaz no tratamento da cognição e há evidências para seu uso como tratamento coadjuvante em pacientes com comprometimento cognitivo leve a moderado. As dosagens utilizadas são de aproximadamente 300 mg/dia e a duração do uso em média de 12 semanas.
Em conclusão, a Fitoterapia tem sido cada vez mais estudada e utilizada como alternativa ou complemento aos tratamentos convencionais para a saúde mental. As plantas apresentam compostos com potencial efeito ansiolítico e antidepressivo, como a Hypericum perforatum, a Passiflora incarnata e outras.
No entanto, é importante lembrar que o uso de plantas para tratamento da saúde mental deve ser feito com cautela, acompanhado por um profissional de saúde qualificado, para avaliar a segurança e eficácia do uso de plantas medicinais para cada paciente. Além disso, as evidências muitas vezes têm uma amostra pequena e resultados que devem ser interpretados com cuidado.
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