Meio ambiente e saúde

A saúde humana está intrinsecamente ligada ao meio ambiente em que vivemos. O meio ambiente fornece os recursos naturais necessários para a sobrevivência e bem-estar da população, incluindo o acesso a alimentos saudáveis e água potável, bem como a qualidade do ar que respiramos. É essencial entendermos a relação entre o meio ambiente e a saúde, a fim de promover escolhas alimentares sustentáveis e contribuir para um futuro mais saudável e ecologicamente consciente.

‌ Alimentação e sustentabilidade

A produção de alimentos tem um impacto significativo no meio ambiente. A agricultura convencional depende de pesticidas, fertilizantes químicos e monoculturas, que contribuem para a poluição do solo e da água, além da perda de biodiversidade e a degradação dos ecossistemas. Além disso, a produção em larga escala de carne e laticínios é uma das principais causas do desmatamento e da emissão de gases de efeito estufa.

Os nutricionistas desempenham um papel fundamental na promoção de escolhas alimentares sustentáveis. Podemos incentivar o consumo de alimentos de origem vegetal, como frutas, legumes, grãos integrais e leguminosas, que requerem menos recursos naturais para serem produzidos e têm menor impacto ambiental. Também podemos apoiar a agricultura familiar, estimulando o consumo de alimentos locais e sazonais, além da compra de alimentos diretamente com produtores locais (feiras, por exemplo), auxiliando na redução da emissão de carbono associada ao transporte e armazenamento de alimentos. Além disso, podemos incentivar as práticas agrícolas sustentáveis, como a agricultura orgânica e agroecologia, que reduzem o impacto ambiental e promovem a saúde do ecossistema.

Qualidade da água e saúde

A água é essencial para a vida humana, sendo um componente fundamental de uma dieta saudável. No entanto, a qualidade da água potável está cada vez mais comprometida devido à contaminação por poluentes químicos, produtos farmacêuticos, resíduos industriais e agrícolas. A poluição da água pode levar a doenças transmitidas pela água, como diarreia, hepatite A e cólera.

Os nutricionistas podem desempenhar um papel importante na educação e conscientização sobre a importância da água potável segura. Podemos orientar os indivíduos sobre as melhores práticas de armazenamento e tratamento da água em casa, além de promover a conservação da água e a redução do uso de plásticos descartáveis, que contribuem para a poluição.

Outro ponto importante, é que em muitas partes do mundo, insetos que vivem ou se reproduzem na água carregam e transmitem doenças como a dengue. Alguns desses insetos, conhecidos como vetores, se reproduzem em água limpa, e não em água suja, e os recipientes domésticos de água potável podem servir como criadouros. A simples intervenção de cobrir recipientes de armazenamento de água pode reduzir a reprodução desses vetores.

Qualidade do ar e saúde respiratória

A qualidade do ar que respiramos tem um impacto direto na saúde respiratória. A poluição do ar, causada principalmente pela queima de combustíveis fósseis, emissões industriais e incêndios florestais, está associada ao estresse oxidativo e à inflamação nas células humanas, o que pode estabelecer uma base para doenças crônicas e câncer. Em 2013, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a poluição do ar como um carcinógeno humano.

Como nutricionistas, podemos promover escolhas alimentares e hábitos saudáveis que auxiliem a fortalecer o sistema respiratório e proteger a saúde pulmonar. Sabemos que alimentos ricos em antioxidantes, como frutas e vegetais, podem ajudar a reduzir os danos causados pelos radicais livres e a inflamação. Além disso, uma dieta equilibrada e rica em nutrientes essenciais, como vitaminas C e E, selênio e ômega-3, pode ajudar a fortalecer o sistema imunológico e reduzir a susceptibilidade a infecções respiratórias.‌

Ao mesmo tempo, podemos incentivar a redução das emissões de poluentes atmosféricos, apoiando práticas de transporte sustentável e a transição para fontes de energia limpa. Isso ajudará a melhorar a qualidade do ar e reduzir os riscos à saúde respiratória da população.

 Desperdício de alimentos e segurança alimentar

O desperdício de alimentos é um problema global significativo que tem impactos negativos tanto na segurança alimentar quanto no meio ambiente. Estima-se que 931 milhões de toneladas de alimentos, ou 17% do total de alimentos disponíveis aos consumidores em 2019, foram para o lixo de residências, varejo, restaurantes e outros serviços alimentares. Além do desperdício de recursos naturais utilizados na produção, transporte e armazenamento desses alimentos, o desperdício também contribui para as emissões de gases de efeito estufa. Por exemplo, 8% a 10% das emissões globais de gases de efeito estufa estão associadas aos alimentos não consumidos.

Como nutricionistas, podemos desempenhar um papel fundamental na redução do desperdício de alimentos, tanto no nível individual quanto no coletivo. Podemos orientar as pessoas sobre o planejamento de refeições, o armazenamento adequado de alimentos e a utilização de técnicas de aproveitamento integral dos alimentos, como a utilização de cascas e talos de vegetais. Além disso, podemos trabalhar com instituições e organizações para promover a doação de alimentos não utilizados e apoiar programas de compostagem para reduzir o impacto ambiental do desperdício.

Educação ambiental e capacitação

É extremamente importante educar e capacitar as pessoas a tomar decisões conscientes em relação à alimentação e ao meio ambiente. Podemos fornecer informações sobre os impactos ambientais da produção e do consumo de alimentos, destacando a importância de escolhas mais sustentáveis. Podemos oferecer orientações práticas sobre como incorporar práticas alimentares mais saudáveis e sustentáveis no dia a dia, como a compra de alimentos com produtores locais e orgânicos, a redução do consumo de alimentos ultraprocessados e o aproveitamento integral dos alimentos.

Além disso, podemos nos engajar em projetos comunitários, parcerias e campanhas de conscientização para ampliar o alcance de nossas mensagens e promover mudanças positivas em larga escala. Isso pode envolver colaboração com escolas, empresas, instituições de saúde e organizações não governamentais para promover programas de educação alimentar e ambiental, oficinas de culinária saudável e sustentável e outras atividades que incentivem a adoção de práticas mais conscientes.

A relação entre o meio ambiente e a saúde é complexa e multifacetada. Como nutricionistas, desempenhamos um papel crucial na promoção de escolhas alimentares saudáveis e sustentáveis e na conscientização sobre a importância da preservação do meio ambiente para a saúde humana.  Apoiando a produção local e sazonal de alimentos e combatendo o desperdício alimentar, estamos contribuindo para a proteção do meio ambiente e para a melhoria da saúde pública.

Além disso, é essencial que como nutricionistas estejamos atualizados e informados sobre as questões ambientais e as interações entre o meio ambiente e a saúde. Devemos estar cientes das práticas agrícolas sustentáveis, dos impactos da poluição na água e no ar, das consequências do desperdício de alimentos e das soluções viáveis para mitigar esses problemas. Com conhecimento e habilidades nessa área, podemos ser agentes de mudança, influenciando positivamente os hábitos alimentares e o estilo de vida das pessoas.

No entanto, é importante destacar que a responsabilidade não é apenas dos nutricionistas, mas de toda a sociedade. É necessário um esforço coletivo para promover políticas e práticas que protejam o meio ambiente e garantam a saúde das gerações presentes e futuras. Governos, indústrias, instituições de pesquisa e a população em geral devem trabalhar juntos para criar um ambiente saudável e sustentável.

Referências:

  1. CFN. NUTRIÇÃO E SUSTENTABILIDADE: ALIMENTE ESSA IDEIA, O PLANETA AGRADECE! Disponível em: Nutrição e sustentabilidade: Alimente essa ideia, o planeta agradece! – CFN. Acesso em 22 maio 2023.
  2. Martinelli SS, Cavalli SB. Alimentação saudável e sustentável: uma revisão narrativa sobre desafios e perspectivas. 2019;24(11). Doi: 10.1590/1413-812320182411.30572017.
  3. Johnston JL, Fanzo JC, Cogill B. Understanding sustainable diets: a descriptive analysis of the determinants and processes that influence diets and their impact on health, food security, and environmental sustainability. Adv Nutr. 2014 Jul 14;5(4):418-29. doi: 10.3945/an.113.005553.
  4. FAO. Sustainable diets and biodiversity: directions and solutions for policy, research and action. An example of a sustainable diet: the mediterranean diet [Chapter 4]. 2010. Disponível em: Sustainable Diets and Biodiversity – Directions and solutions for policy, research and actions
  5. Havard. Water pollution. Water Pollution
  6. WHO. Drinking-water. Drinking-water
  7. National Institute of Environmental Health Sciences. Air Pollution and Your Health. Air Pollution and Your Health
  8. UNEP. UNEP food waste index report 2021. 2021. Disponivel em: 2021 UNEP Food Waste Index Report.pdf

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