A influência da alimentação na ocorrência e no manejo de dermatite é um tema relevante e de interesse para Nutricionistas. Neste texto, abordaremos os diferentes tipos, a relação entre a alimentação e essas condições de pele, bem como a importância da Nutrição no auxílio e minimização dos impactos delas.
Dermatite é um termo que abrange múltiplos acometimentos, que podem resultar em erupções avermelhadas, causando prurido (coceira). Em outras palavras, é uma condição inflamatória da pele, não contagiosa, que pode apresentar várias manifestações, sendo a principal delas a coceira, podendo haver também vermelhidão, descamação e formação de lesões cutâneas.
Cada tipo possui uma característica e um mecanismo fisiopatológico específico, podendo ser desencadeado por fatores genéticos, imunológicos, ambientais e nutricionais. Sendo assim, compreender e distinguir essas diferenças entre elas, possibilita não só um manejo nutricional adequado, mas também, melhora a qualidade de vida do paciente portador da alergia e evita que haja milhares de restrições na alimentação, que por vezes podem ser desnecessárias e extremas.
A alergia alimentar, nada mais é do que a ocorrência de reações adversas à alimentos, dependentes de mecanismos imunológicos, mediados por anticorpos IgE e/ou não.
Sendo assim, as dermatites podem ser subdivididas em dois grandes grupos, segundo seu mecanismo imunológico:
– Reações Mistas
Tendo destaque para a dermatite atópica, a qual é muito comum em crianças, onde as manifestações ocorrem por mecanismos mediados tanto por anticorpos IgE quanto por células, como os linfócitos T e citocinas pró-inflamatórias.
Nesse tipo, os sintomas podem demorar de horas até dias para se tornarem clinicamente evidentes, podendo ser: prurido intenso (coceira), lesões eczematosas e xerose. A sensibilização transcutânea pode ocorrer pela quebra da barreira cutânea, favorecendo assim a penetração de alérgenos.
Em relação ao seu diagnóstico, grande parte dos pacientes podem apresentar níveis séricos elevados de IgE total e podem demonstrar alguma reatividade aos testes laboratoriais de forma inespecífica, sendo assim, é necessário confirmá-los por meio da história clínica.
Contudo, para afirmar que há relação entre o alimento ingerido e o desencadeamento da dermatite atópica, podem ser necessárias dietas de exclusão por um determinado tempo (4 semanas), seguidas de nova tentativa de introdução de alimentos.
Reações Não mediadas por IgE
Aqui, nós temos as dermatites herpertiforme e de contato. Nesse tipo, as manifestações ocorrem de forma tardia, levando horas ou dias, caracterizando-se basicamente pela hipersensibilidade mediada por células, podendo ser um exemplo, os linfócitos T e anticorpos IgA.
Na dermatite de contato, nós podemos ter:
- Dermatite de Contato Irritativa: acontece devida à irritação direta da pele, com uso de substâncias ácidas ou alcalinas, como sabonetes, detergentes, solventes ou outras substâncias químicas.
- Dermatite de Contato Alérgica: surge após repetidas exposições a um produto ou substância).
Reação mediada por IgE
Já na forma herpetiforme, sua ocorrência é mais comum em pacientes com doença celíaca, já que ambos compartilham o mesmo histórico genético, enteropatia dependente de glúten e resposta de anticorpos IgA, levando à erupção cutânea com bolhas e coceira, geralmente nos cotovelos, joelhos e nádegas.
Sendo assim, essa dermatite é considerada uma manifestação cutânea da doença celíaca.
Mas afinal, qual a relação entre alimentação e dermatite?
A relação entre a alimentação e dermatites é complexa. Embora os alimentos possam não ser a causa direta das dermatites, alguns deles podem desencadear ou agravar os sintomas em indivíduos suscetíveis.
Sendo assim, para se confirmar e correlacionar a alimentação com a dermatite, alguns métodos diagnósticos podem ser utilizados:
- Testes cutâneos de hipersensibilidade imediata: Os testes cutâneos (TC ou Prick test) avaliam a sensibilização aos alérgenos, não necessariamente diagnosticando uma alergia. São testes simples, rápidos, podem ser realizados no próprio consultório médico, com o uso de substratos padronizados na pele, em busca da formação de pápulas (bolinhas na pele), fornecendo assim valores preditivos positivos para alergia;
- Determinação de IgE específica: auxilia na identificação de alergias alimentares mediadas por IgE e reações mistas. A pesquisa de IgE específica ao alimento suspeito pode ser realizada tanto por meio dos testes cutâneos de hipersensibilidade imediata (TC), quanto pela dosagem da IgE específica no sangue. A detecção de IgE específica tem sido considerada como indicativo de sensibilização ao alimento, orientando qual alimento pode ser utilizado no teste de provocação oral;
- Teste de provocação oral (TPO): é o método mais confiável para o diagnóstico de alergia alimentar. Consiste na oferta progressiva do alimento suspeito e/ou placebo, em intervalos regulares, sob supervisão médica para monitoramento de possíveis reações clínicas, após um período de exclusão dietética necessário para resolução dos sintomas clínicos, podendo ser utilizados para confirmar reações IgE e não IgE mediadas;
Uma vez identificados os alimentos desencadeantes, é recomendado que sejam evitados, modificados ou substituídos da dieta do paciente, dependendo da tolerância individual. Além disso, é importante fornecer uma dieta equilibrada e nutritiva para garantir a saúde da pele e fortalecer o sistema imunológico. Uma dieta rica em alimentos antioxidantes e com propriedades anti-inflamatórias, como frutas, vegetais, peixes ricos em ômega-3, pode ajudar a reduzir a inflamação na pele. A moderação no consumo de alimentos ricos em gorduras saturadas e açúcares pode ajudar a minimizar as crises dessas condições.
A ingestão adequada de nutrientes essenciais também desempenha um papel fundamental na saúde da pele. Nutrientes como ácidos graxos ômega-3, vitamina A, vitamina C, vitamina E, zinco e selênio são importantes para a integridade e função da pele, atuando na regulação da inflamação, na cicatrização de feridas e na proteção contra danos oxidativos.
Além dos ajustes de micronutrientes, os macronutrientes têm papel fundamental na manutenção da dermatite, como por exemplo na dermatite herpetiforme, onde o glúten deve ser substituído na dieta do paciente, visando a melhora do quadro clínico alérgico, sua qualidade de vida e também o equilíbrio de nutrientes da sua dieta.
Não só a dieta, como outros aspectos relacionados à nutrição podem influenciar as dermatites. A hidratação adequada é essencial para a saúde e função da barreira cutânea, auxiliando na prevenção do ressecamento e na proteção contra irritantes externos.
Outro fator que merece destaque é a disbiose, um desequilíbrio da microbiota intestinal, que tem sido associado à diversas condições de pele. Estudos mostram que alterações na composição e na diversidade da microbiota podem levar a uma maior permeabilidade intestinal, levando à translocação de toxinas e substâncias inflamatórias para a corrente sanguínea. Essas substâncias, por sua vez, podem desencadear uma resposta inflamatória sistêmica e afetar a saúde da pele.
Contudo, a relação entre microbiota e a dermatite é complexa e multifatorial. Vários fatores podem influenciar a composição da microbiota, incluindo a dieta, o uso de antibióticos, o estresse e o estilo de vida. Ainda assim, neste sentido, a suplementação de probióticos tem sido estudada como uma estratégia para melhorar a saúde da pele, uma vez que a microbiota intestinal desempenha um papel na modulação do sistema imunológico e na regulação da inflamação.
Algumas pesquisas sugerem que o uso precoce de probióticos poderia reduzir o desenvolvimento de doenças alérgicas, particularmente dermatite atópica.
É importante ressaltar que cada caso de dermatite é único, e o manejo nutricional deve ser individualizado. É fundamental o acompanhamento nutricional, e também multiprofissional, realizando uma avaliação completa do paciente, desde seu histórico familiar aos hábitos alimentares, necessidades nutricionais e características específicas da dermatite após diagnóstico do dermatologista/alergista.
O Nutricionista poderá fornecer orientações alimentares personalizadas, ajustando a dieta de acordo com as necessidades e objetivos de cada indivíduo e realizando a manutenção da sua saúde física e, também, emocional.
Referências:
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