Autoestima e alimentação

Autoestima e alimentação
A autoestima desempenha um papel crucial em nossa saúde emocional e mental, demonstrando uma série de impactos na saúde física. A maneira como nos vemos e percebemos, afeta diretamente nosso bem-estar. E quando se trata de nutrição, nossa autoestima pode ser um fator determinante em relação às escolhas alimentares que realizamos, o que pode nos trazer benefícios ou malefícios.
A autoestima em si, é um reflexo de como cada pessoa se sente em relação a si mesma, tendo diversas correlações com a autoimagem, o autoconceito, a autopercepção, a autoconfiança, a autoaceitação e o respeito próprio. Alguns estudos sugerem que a autoestima está relacionada ao bem-estar psicológico e aos problemas psicológicos vivenciados. Assim, ter uma autoestima saudável, nada mais é do que possuir uma visão equilibrada de si mesma (o), na qual se reconhece e se aceitam as fraquezas humanas, apreciando seus pontos fortes e qualidades, de uma forma geral, criando um bom relacionamento consigo mesma (o).

Autoestima e como as emoções podem afetá-la

Como a autoestima refere-se à nossa percepção do próprio valor e autoimagem, quando nos sentimos bem em relação a nós mesmos, é mais provável que tomemos decisões saudáveis em todas as áreas da vida, incluindo a alimentação. No entanto, nossas emoções podem ter um impacto significativo nesse sentido, afinal, o controle emocional deve ser feito em todas as áreas da vida, para se obter sucesso. Com isso, o estresse, a ansiedade, a depressão e outros sentimentos negativos, podem levar ao desenvolvimento de hábitos alimentares prejudiciais.
As emoções negativas, têm a capacidade de dominar o indivíduo de forma que ele perca o controle e gerenciamento dos próprios pensamentos e assim, da sua vida. Elas produzem uma série de reações fisiológicas que podem promover tanto a falta ou a diminuição do apetite, como o oposto, o aumento da ingestão de alimentos em resposta a emoções negativas, como estresse, ansiedade, frustração, tristeza, raiva e solidão, descontando toda a carga emotiva nas refeições. Essa situação é chamada de “comer emocional”.

Alimentação emocional

A alimentação emocional, nada mais é do que um comportamento alimentar pouco saudável que demonstra estar associado a um IMC mais elevado, devido às escolhas alimentares de preferência em embutidos, industrializados e fast-food, e foi sugerido como um preditor de transtornos alimentares, como a compulsão alimentar.
Por outro lado, existe o que chamamos de alimentação intuitiva, sendo definida como o uso de limites fisiológicos para determinar quando, o que e quanto se deve comer, mantendo uma relação positiva com os alimentos.

Transtornos Alimentares: Um desafio para a autoestima

Existem vários transtornos alimentares, cada um com suas características únicas, mas todos eles têm algo em comum: afetam a autoestima das pessoas que os vivenciam.
Experimentar emoções negativas, aumenta bastante o risco de perder a autoestima e, assim, perder o controle sobre seu próprio comportamento alimentar. E com a baixa autoestima, a tomada de atitudes incorretas em relação à percepção de peso e forma corporal, muitas vezes conduz à escolhas de alimentos com alta densidade calórica e pouquíssimo valor nutricional. Isso, desempenha um papel importante no aparecimento e desenvolvimento de transtornos alimentares.

Transtornos alimentares: subtipos

Dentre todos os transtornos que existem, a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), identifica e reconhece a importância dos estados atípicos, nomeando cinco subtipos de transtornos alimentares:
  • Anorexia nervosa atípica (ou seja, características de anorexia sem baixo peso);
  • Bulimia nervosa (de baixa frequência e/ou duração limitada);
  • Transtorno da compulsão alimentar periódica (de baixa frequência e/ou duração limitada);
  • Distúrbios purgativos;
  • Síndrome da alimentação à meia-noite.

Depressão

Além disso, existe a própria depressão, que pode tanto ser afetada pelas escolhas alimentares quanto o contrário, ser a causa de realizar escolhas por alimentos não saudáveis.
A relação entre autoestima e quadros de depressão pode ser influenciada por processos de pensamentos denominados perseverativos, sendo um exemplo a ruminação. Sim, ruminação. Esta é uma estratégia de enfrentamento perseverante em resposta a pensamentos automáticos negativos. Mas o que isso quer dizer? Significa que a pessoa acaba contemplando e remoendo, de forma repetida, seus erros do passado, as próprias limitações, cultivando um humor negativo ao longo do dia e tendo pensamentos pessimistas sobre o próprio futuro. A ruminação autocrítica é então definida como focar toda a atenção em pensamentos autocríticos, destrutivos e em situações passadas de fracasso, aumentando a baixa autoestima.
Com isso, quando uma pessoa responde a pensamentos negativos sobre si mesma, ruminando sobre suas falhas e limitações, acaba por permanecer presa em um ciclo vicioso que apenas reforça ainda mais os níveis mais baixos de sua autoestima.

Escalas de autoestima e transtornos alimentares

Existem em estudos, escalas para se “mensurar” a autoestima e os transtornos alimentares, de forma a proporcionar um melhor diagnóstico e tratamento a cada um.
A Escala de Autoestima (do inglês Self-esteem Scale – SES) de M. Rosenberg, consiste em 10 afirmações relacionadas às suas crenças sobre si mesmo. É uma ferramenta que permite avaliar os níveis de autoestima. O entrevistado é solicitado a indicar até que ponto concorda com cada uma das afirmações.

Eating disorder

Já o Eating disorder (EAT-26), é uma das ferramentas de triagem comumente usadas para detectar transtornos alimentares, contendo uma estrutura de três fatores. O “fator dieta” é composto por 13 questões e se caracteriza por uma análise do teor de calorias, carboidratos e açúcares, que é motivada pelo desejo de ser mais magro (a).
Assim, usando com base as duas escalas, pessoas com autoestima mais baixa, possuem mais pontos na escala SES, estando então menos satisfeitas com sua aparência e seu peso corporal. Tal questão, pode demonstrar uma propensão maior a consumir mais e mais comida, porém, podendo utilizar como ferramentas de “compensação”, induzir vômitos ou fazer exercícios por até mais de 60 minutos por dia para perder ou controlar o ganho de peso.

O Posicionamento do Nutricionista no tratamento dos transtornos alimentares

Os nutricionistas desempenham um papel crucial no tratamento dos transtornos alimentares. Através da alimentação balanceada, o ajuste de micronutrientes, mudanças no estilo de vida, é possível reverter muitos dos transtornos alimentares.
Mas, muito além desse básico, existe um fator fundamental nesse suporte, que é a humanização do cuidado. Ao se posicionar a favor da saúde integral e não apenas focado na parte estética, o Nutricionista é capaz de transformar a vida desses pacientes.

Escuta ativa

Por meio da escuta ativa, é possível entender cada demanda do paciente em questão, além de assimilar toda a sua rotina, desafios, rede de apoio e realidade, formulando estratégias, caminhos viáveis e confortáveis, para que ela/ele consiga iniciar sua jornada rumo à saúde mental, emocional e física.
Enfatizar que as mudanças corporais serão apenas consequências das suas melhores escolhas, pode mudar o rumo do acompanhamento nutricional. Não julgar e não ridicularizar o processo do paciente é o mínimo da humanização no cuidado, além de demonstrar respeito, orgulho e honra em cada etapa que já foi vencida no processo.
Dessa forma, promover a motivação nesses casos, se torna essencial para o sucesso da jornada. Demonstrar atenção, carinho, respeito e parceria, também reforça a rede de apoio necessária para que cada pessoa consiga trilhar sua jornada de forma mais leve e confortável.

Autocompaixão

Atualmente, existe um interesse crescente nos benefícios potenciais de promover a autocompaixão. Ela, nada mais é do que uma abordagem gentil, tanto do profissional para o paciente, quanto do paciente para consigo mesmo, durante tempos pessoalmente desafiadores. Essa abordagem tem se mostrado promissora para o bem-estar psicológico e físico.
Por exemplo, existem relatos em literatura, demonstrando que a autocompaixão está relacionada a uma maior satisfação pessoal com a vida, tendo menos ansiedade e depressão. Há também evidências de que uma atitude compassiva consigo mesmo pode promover práticas de proteção à saúde, como hábitos alimentares mais saudáveis, exercícios, qualidade de sono e controle do estresse.
Assim, a autocompaixão promove uma relação com a comida baseada no respeito às necessidades do corpo, sendo bem mais gentil e tranquila, tendo maior correlação com uma imagem corporal positiva. Com isso, há probabilidade de demonstrar maior cuidado e respeito ao seu corpo.

A Importância da Equipe Multidisciplinar

Embora os nutricionistas desempenhem um papel fundamental no tratamento de transtornos alimentares, é essencial reconhecer que esses distúrbios são complexos e multidimensionais. Portanto, a colaboração entre uma equipe multidisciplinar, é fundamental para o sucesso do tratamento como um todo. Essa equipe pode incluir psicólogos, psiquiatras, terapeutas ocupacionais, endocrinologistas, educadores físicos e outros profissionais de saúde.
Cada membro da equipe vai desempenhar um papel específico no tratamento dos aspectos emocionais, psicológicos e físicos dos transtornos alimentares. A terapia cognitivo-comportamental, por exemplo, pode ajudar os pacientes a identificar e modificar pensamentos disfuncionais em relação à comida e à imagem corporal. Os psiquiatras podem prescrever medicamentos, quando necessário e os educadores físicos podem impulsionar a mudança no estilo de vida através dos exercícios.

Conclusão

Em resumo, a autoestima e os transtornos alimentares estão intrinsecamente ligados com a alimentação. Os nutricionistas desempenham um papel crucial na recuperação e na promoção de uma relação saudável com a comida. No entanto, é fundamental reconhecer a importância de uma equipe multidisciplinar para abordar todos os aspectos complexos desses distúrbios. Juntos, podemos ajudar as pessoas a recuperar sua autoestima e melhorar sua saúde emocional e física.

Referências:

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