A ordem que ingerimos os alimentos em uma refeição importa?

Embora o ajuste da energia total e do equilíbrio nutricional seja extremamente importante, a ordem do comemos nas refeições, um método relativamente simples de correção da hiperglicemia pós-prandial, está se estabelecendo como uma abordagem dietética prática para a prevenção e controle do diabetes e da obesidade.

A sequência dos alimentos, ou seja, o consumo de alimentos-fonte de proteína e/ou gordura antes dos alimentos-fonte de carboidratos, promove a secreção do peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1) pelo intestino.

O GLP-1, por sua vez, suprime a liberação de glucagon, retarda o esvaziamento gástrico, melhora a secreção de insulina, e assim, a glicose pós-prandial.

É importante ressaltar que o consumo de uma dieta rica em ácidos graxos saturados (como por exemplo, pratos de carne antes dos carboidratos) aumenta a secreção não apenas de GLP-1, mas também do polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose (GIP), que promove o armazenamento de energia no tecido adiposo e pode levar ao ganho de peso em longo prazo.

A ingestão de fibra alimentar antes da ingestão de carboidratos, reduz significativamente a elevação de glicose pós-prandial e pode ter um efeito na perda de peso. Os resultados de algumas pesquisas clínicas apoiam a ideia de que a ingestão de fibra dietética junto com a sequência alimentar de proteína e/ou gordura antes dos carboidratos beneficia as condições metabólicas de indivíduos com diabetes e obesidade.

Vários estudos foram conduzidos para investigar os efeitos da melhoria dos níveis de glicose no sangue pós-prandial com uma pré-ingestão de proteínas e aminoácidos antes da ingestão de carboidratos. Por exemplo, em um trabalho, a ingestão de 55g de proteína do soro do leite antes da ingestão de sopa de batata, aumentou o GLP-1 e a secreção de insulina, retardou o esvaziamento gástrico e melhorou a glicose pós-prandial.

Em outro estudo, a ingestão de 40g de glutamina antes de uma refeição mista (37g de carboidratos, 1,3g de gordura e 16g de proteína) aumentou o GLP-1 e a secreção de insulina e melhorou a glicose pós-prandial. Esses efeitos foram observados em pacientes com diabetes tipo 2 e indivíduos não diabéticos.

Para investigar os efeitos da pré-ingestão de gorduras, Gentilcore et al. relataram que a ingestão de 30 mL de azeite de oliva antes do purê de batata (61g de carboidratos), aumentou o GLP-1, retardou o esvaziamento gástrico e melhorou a glicose pós-prandial. No entanto, o aumento da secreção de insulina não foi encontrado no estudo.

O efeito do atraso do esvaziamento gástrico aparece mais fortemente na pré-ingestão do azeite do que na pré-ingestão de proteínas do soro do leite. Assim, a inibição do esvaziamento gástrico pode melhorar a elevação da glicose mais fortemente do que o aumento da secreção de insulina pelas incretinas.

A pré-ingestão de proteína e/ou gordura antes do carboidrato aumentou a secreção de GLP-1 e melhorou a hiperglicemia pós-prandial. No entanto, a quantidade de ingestão de proteína de soro de leite, glutamina ou azeite de oliva em cada refeição, conforme realizado nesses protocolos, não é realista.

Em 2016 um grupo de pesquisadores investigou a pré-ingestão de nutrientes nas refeições diárias com um protocolo misto misturando proteínas e gorduras.

Os efeitos da pré-ingestão de peixe (cavala cozida: 15g de proteína, 18g de gordura, 0g de carboidrato) e carne (carne grelhada: 15g de proteína, 18g de gordura, 0g de carboidrato) como fonte de proteína e gordura mista a serem consumidas antes do arroz, como fonte de carboidrato, foram avaliados em um estudo cruzado comparando pacientes com diabetes tipo 2 e indivíduos saudáveis.

Quando os pratos de peixe ou carne foram consumidos antes do arroz, a elevação da glicose pós-prandial foi significativamente reduzida, a secreção de GLP-1 foi aumentada e o tempo de esvaziamento gástrico foi prolongado.

As descobertas desse trabalho são consistentes com os dados atualmente disponíveis sobre a ordem dos alimentos-fonte de proteína e/ou gordura antes do carboidrato, beneficiando as condições metabólicas de indivíduos com diabetes e obesidade.

 

Referências:

1- Samocha-Bonet, D.; Wong, O.; Synnott, E.L.; Piyaratna, N.; Douglas, A.; Gribble, F.M.; Holst, J.J.; Chisholm, D.J.; Greenfield, J.R. Glutamine reduces postprandial glycemia and augments the glucagon-like peptide-1 response
in type 2 diabetes patients. J. Nutr. 2011, 141, 1233–1238;

2- Bae, J.H.; Kim, L.K.; Min, S.H.; Ahn, C.H.; Cho, Y.M. Postprandial glucose-lowering effect of premeal consumption of protein-enriched, dietary fiber-fortified bar in individuals with type 2 diabetes mellitus or normal glucose tolerance. J. Diabetes Investig. 2018, 9, 1110–1118;

3- Gentilcore, D.; Chaikomin, R.; Jones, K.L.; Russo, A.; Feinle-Bisset, C.; Wishart, J.M.; Rayner, C.K.; Horowitz, M. Effects of fat on gastric emptying of and the glycemic, insulin, and incretin responses to a carbohydrate meal in type 2 diabetes. J. Clin. Endocrinol. Metab. 2006, 91, 2062–2067;

4- Kuwata, H.; Iwasaki, M.; Shimizu, S.; Minami, K.; Maeda, H.; Seino, S.; Nakada, K.; Nosaka, C.; Murotani, K.; Kurose, T. Meal sequence and glucose excursion, gastric emptying and incretin secretion in type 2 diabetes: A randomised, controlled crossover, exploratory trial. Diabetologia 2016, 59, 453–461;

5- Kubota, Sodai, et al. “A review of recent findings on meal sequence: An attractive dietary approach to prevention and management of type 2 diabetes.” Nutrients 12.9 (2020): 2502.

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