A avaliação antropométrica é uma ferramenta importante no acompanhamento do paciente nas diversas fases de vida. Entretanto, destaca-se ainda mais etapas como a gestação, infância e adolescência, pelo impacto que o crescimento inadequado possa causar na vida adulta.
Na gestação, a avaliação antropométrica pode avaliar os riscos de um bebê com baixo peso ao nascer, mortalidade perinatal, neonatal e infantil, além da duração da lactação. As medidas mais utilizadas são o peso pré-gestacional, altura, peso atual, dobra tricipital e circunferência braquial.
Algumas ferramentas também fazem parte do acompanhamento da gestante, como aplicação de índices e curvas, como a curva de Atalah et al. (1997). Os autores desenvolveram esse instrumento de avaliação nutricional de gestantes, segundo o IMC e a semana gestacional.
Em 2004, o Ministério da Saúde, baseado na IOM (Institute of Medicine) e na curva de Atalah, propôs um novo método de avaliação nutricional das gestantes, no qual foi validada para o resultado obstétrico favorável.
A avaliação utiliza a classificação do IMC pré-gestacional (medido não mais que 2 meses antes da gestação) ou, na ausência dessa informação, peso gestacional (medido no primeiro trimestre).
Dessa forma, ocorre a determinação das faixas de ganho de peso de acordo com o IMC inicial, ou ainda, a avaliação da adequação do IMC gestacional. Assim, aquelas mulheres que iniciaram a gestação com diagnóstico nutricional de baixo peso devem ganhar até o final do período gestacional entre 12,5 e 18 kg, com peso adequado entre 11,5 e 16 kg, com sobrepeso entre 7 e 11,5 kg e com obesidade até 7 kg.
A infância e adolescência são períodos de desenvolvimento e crescimento rápidos, caracterizados por grandes mudanças no que diz respeito a composição corporal. Levando em consideração que a composição corporal se relaciona intimamente com o estado nutricional e de saúde, sua avaliação assume maior importância nesses períodos da vida.
É fundamental, portanto, o uso da avaliação antropométrica adequada a idade e a interpretação das curvas de crescimento. Entretanto, existem algumas diferenças das medidas e métodos de avaliação comparado a avaliação de adultos.
As medidas antropométricas mais utilizadas em crianças são peso, estatura, perímetro cefálico e circunferência abdominal. No primeiro ano de vida, é necessário monitorar o peso e a estatura no 15º dia de vida e a cada mês até completar 4 meses, sendo a partir de então a cada 2 meses. No 2º ano de vida, o monitoramento pode ser a cada 3 meses. Depois desse período, o acompanhamento se torna semestral até os 5 anos e anual até os 18, para detectar desvios de crescimento.
O peso ao nascer é a primeira medida antropométrica utilizada para o diagnóstico nutricional. A classificação fica por conta da referência da OMS (1993), que classifica em peso adequado ≥ 2,5g, baixo peso ao nascer < 2,5g e muito baixo peso ao nascer < 1,5g.
Uma diferença importante é a estatura, que nos menores de 2 anos é denominada comprimento, e a partir dos 2 anos, altura.
O infantômetro é o instrumento utilizado para medição do comprimento e deve ser empregado protocolo adequado para tal medição, sendo ideal o auxílio de outro profissional ou do responsável da criança, já que a planta dos pés e cabeça devem estar em contato com o equipamento de forma linear.
Já a altura das crianças maiores de 2 anos é mensurada em estadiômetro similar ao de adultos, porém algumas marcas no mercado possuem tamanho mínimo que não permite a utilização em crianças.
A circunferência abdominal apresenta boa correlação com dislipidemias, hipertensão e resistência insulínica. Freedman et al. (1999) e Taylor et al. (2000) propuseram pontos de corte para a circunferência abdominal específico para crianças e adolescentes.
A circunferência de braço é empregada de forma complementar, mas também pode ser usada de maneira isolada no diagnóstico nutricional de crianças, caso não haja viabilidade de aplicar outro método. Para classificação utiliza-se os percentis propostos por Frisancho (1990). A Organização Mundial de Saúde (OMS) disponibiliza medidas de circunferência do braço com tabelas e gráficos, sob a forma de percentis e z-escore, para crianças de 3 meses a 5 anos de idade, estratificadas por sexo.
As dobras cutâneas tricipital e subescapular são utilizadas na equação de Slaughter et al. (1988) na faixa etária de 8 a 18 anos para indicar o percentual de gordura. Essa equação utiliza as variáveis de raça e nível de maturidade sexual.
Os índices antropométricos nessas faixas etárias são importantíssimos no acompanhamento nutricional, como peso para idade, peso para estatura, IMC para idade, estatura para idade. Esses índices são comparados com valores de referência de uma distribuição da população saudável na mesma faixa de idade, sendo muito utilizados nas curvas recomendadas pela OMS. A mediana dessas curvas reflete o valor mais adequado daquele índice, indicado pelo percentil 50. O z-escore se refere a “distância” entre a medida do indivíduo e percentil 50. Portanto, um z-escore -3 reflete maior inadequação que um z-escore -1.
REFERÊNCIAS:
1) Atalah SE, et al. Propuesta de um nuevo estándar de Evaluación nutricional em embarazadas. Rev Med Chile. 1997;125(12):1429-1436.
2) Barros DC. Avaliação Nutricional Antropométrica de Gestantes Adolescentes no Município do Rio de Janeiro [Tese]. 2009.
3) Lins da Silva S, et al. Classificação antropométrica de gestantes: comparação entre cinco métodos diagnósticos utilizados na América Latina. Rev Panam Salud Publica. 2017 Jun 19;41:e85. doi: 10.26633/RPSP.2017.85.
4) Ministério da Saúde. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde. 2011.
5) Organización mundial de LA salud. Curso de capacitación sobre la evaluación del crecimiento del Niño: versión 1. Ginebra: OMS, 2006.
6) Sociedade Brasileira de Pediatria. Gráficos de crescimento. Disponível em: < https://www.sbp.com.br/departamentos/endocrinologia/graficos-de-crescimento/> Acesso em abril 2022.
7) WHO Child Growth Standards. Length/height-for-age, weight-for-age, weight-for-length, weight-for-height and body mass index-for-age. 2006.