Estratégias nutricionais no tratamento da psoríase

Estratégias nutricionais no tratamento da psoríase

A psoríase é uma doença autoimune da pele que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Embora não haja uma cura definitiva, uma abordagem terapêutica abrangente que inclua tratamentos médicos adequados e cuidados com a alimentação pode ajudar a controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

É uma das doenças autoinflamatórias mais prevalentes em todo o mundo. Sua etiologia é considerada multifatorial e caracteriza-se pela desregulação do sistema imune inato e adaptativo, com ativação de células T helper (Th-1 e Th-17) levando a um aumento da produção de citocinas inflamatórias como as interleucinas IL-1, IL-6, IL-23, IL-22, IL-17 e IL-33, fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interferon-gama (IFN-γ).

Nesta cascata, a inflamação desempenha um papel fundamental ao promover a hiperproliferação e a angiogênese, levando às lesões cutâneas típicas e ao envolvimento articular da artrite psoriática.

Pacientes com psoríase são frequentemente associados à obesidade, diabetes mellitus, dislipidemia, doenças cardiovasculares e doenças inflamatórias intestinais (DIIs). Evidências sugerem que a obesidade é um fator de risco para psoríase (agrava a psoríase existente) e que a redução de peso pode melhorar a gravidade da psoríase em pacientes com sobrepeso.

Uma variedade de fatores genéticos e ambientais estão envolvidos na patogênese da psoríase e suas comorbidades, sendo os fatores ambientais considerados os hábitos alimentares.

Os estudos epidemiológicos revelaram que os pacientes com psoríase apresentaram hábitos alimentares desequilibrados, como maior ingestão de gordura total, carboidratos simples e menor ingestão de proteínas, carboidratos complexos, ácidos graxos monoinsaturados e poli-insaturados n -3 (PUFAs), vegetais e fibras, em comparação com controles saudáveis.

Portanto, a alimentação pode desempenhar um papel importante no manejo da psoríase, uma vez que certos alimentos podem agravar a inflamação e desencadear crises, enquanto outros têm propriedades anti-inflamatórias e podem promover a saúde da pele.

É importante ressaltar que cada paciente pode responder de forma individual a determinados alimentos, e pode ser necessário um processo de tentativa e erro para identificar quais alimentos específicos afetam os sintomas.

A seguir estão algumas estratégias que podem ser aplicadas para o manejo da psoríase:

Dieta com padrão anti-inflamatório

Uma dieta rica em alimentos anti-inflamatórios pode ajudar a reduzir a inflamação sistêmica associada à psoríase. Inclua alimentos na dieta como vegetais, oleaginosas, sementes, peixes ricos em ômega-3 e azeite de oliva extravirgem.

Um padrão alimentar de caráter mediterrâneo já está bem estabelecido quanto a sua propriedade anti-inflamatória e, consequentemente, já demonstrou, em alguns estudos epidemiológicos, benefício no manejo da psoríase.

Evite gorduras saturadas e priorize poli-insaturadas

As gorduras saturadas estão associadas ao aumento da inflamação, com aumento dos níveis de proteína C-reativa e IL -8, IL-18, IL-1β e TNF-α. Por outro lado, as gorduras poli-insaturadas, como o ômega-3, demonstram efeitos anti-inflamatórios.

Carboidratos e fibras

A quantidade, qualidade e fonte dietética de carboidratos são os fatores que determinam sua capacidade inflamatória. Algumas evidências demonstram que a alta carga e índice glicêmico podem aumentar os níveis de PCR, IL-6 e TNF-α, juntamente com uma diminuição concomitante nos níveis de leptina e adiponectina. Além disso, uma dieta com teor de fibras dentro da recomendação pode levar a uma redução da PCR e IL-6.

Em geral, as fibras retardam a absorção de carboidratos e dificultam a absorção de lipídios dietéticos, assim como servem como substrato para a microbiota intestinal que produzem ácidos graxos de cadeia curta (acetato, propionato e butirato) através da fermentação destas fibras, exercendo efeitos anti-inflamatórios.

Alimentação rica em antioxidantes

De preferência, foque na inclusão de alimentos ricos em polifenóis, sendo as principais fontes frutas, vegetais, vinho tinto, oleaginosas, chá verde e azeite de oliva extravirgem. Vários estudos demonstraram que uma dieta rica em polifenóis diminui a inflamação e estresse oxidativo, com redução nos níveis de PCR, IL-6 e IL-15.

Aporte adequado de nutrientes essenciais

Alguns nutrientes têm demonstrado serem essenciais como imunomoduladores:

  1. A vitamina A promove a fagocitose e a ativação das células T natural killer (NK) e, portanto, a deficiência de vitamina A tem sido associada a respostas imunes defeituosas.
  2. A vitamina C é um potente eliminador de espécies reativas de oxigênio e estimula a apoptose dos neutrófilos e a maturação das células T, e seu aumento na ingestão alimentar tem sido associado a níveis mais baixos de citocinas inflamatórias.
  3. A vitamina C também é indispensável para as ações antioxidantes da vitamina E, que contribui para a atividade das células T e NK. Em humanos, a suplementação de vitamina E demonstrou reduzir as citocinas pró-inflamatórias IL-1β, IL-6 e TNF-α.
  4. Apesar de ser mais conhecida por seu papel na homeostase do cálcio, a vitamina D também tem efeitos imunomoduladores, sendo o calcitriol necessário para a função das células T. Outra preocupação em relação à vitamina D é o fato de seus níveis plasmáticos serem afetados por vários determinantes. Maiores quantidades de exposição ao sol foram associadas a um menor risco de deficiência de vitamina D; por outro lado, a exposição excessiva ao sol é o principal fator de risco para o câncer de pele e geralmente parece ter um efeito prejudicial em muitas doenças cutâneas, como a psoríase.
  5. Finalmente, em relação às vitaminas do complexo B, uma alta ingestão de B6 foi inversamente associada à PCR plasmática.
  6. Vale ressaltar que ainda não há evidências suficientes para embasar suplementação destes micronutrientes, portanto, o aporte adequado deve ser através da dieta e a suplementação apenas em casos de deficiência.

Mantenha um peso saudável

O excesso de peso pode aumentar a inflamação e agravar os sintomas da psoríase. Na obesidade há a presença de uma inflamação crônica de baixo grau e o mesmo é associado a presença de psoríase e agravo da doença. Estimule uma alimentação equilibrada e a prática de atividade física regularmente para ajudar a manter um peso saudável.

Cada paciente com psoríase é único e pode responder de forma diferente às estratégias nutricionais. É importante lembrar que a alimentação não substitui os tratamentos médicos prescritos, e uma abordagem multidisciplinar. O Nutricionista pode ajudar a identificar possíveis gatilhos alimentares, fornecer orientações personalizadas e acompanhar o progresso do paciente.

Em resumo, uma estratégia nutricional adequada pode complementar o tratamento médico e ajudar a controlar os sintomas da psoríase. Consumir uma dieta anti-inflamatória, rica em antioxidantes, ácidos graxos ômega-3 e alimentos que promovam a saúde intestinal, pode ajudar a reduzir a inflamação, fortalecer o sistema imunológico e promover o bem-estar geral.

Referências: 

  1. Kanda N, Hoashi T, Saeki H. Nutrition and Psoriasis. Int J Mol Sci. 2020 Jul 29;21(15):5405. doi: 10.3390/ijms21155405. PMID: 32751360; PMCID: PMC7432353.
  2. Katsimbri P, Korakas E, Kountouri A, Ikonomidis I, Tsougos E, Vlachos D, Papadavid E, Raptis A, Lambadiari V. The Effect of Antioxidant and Anti-Inflammatory Capacity of Diet on Psoriasis and Psoriatic Arthritis Phenotype: Nutrition as Therapeutic Tool? Antioxidants (Basel). 2021 Jan 22;10(2):157. doi: 10.3390/antiox10020157. PMID: 33499118; PMCID: PMC7912156.
  3. Muzumdar S, Rothe MJ. Nutrition and psoriasis. Clin Dermatol. 2022 Mar-Apr;40(2):128-134. doi: 10.1016/j.clindermatol.2021.10.005. Epub 2021 Oct 27. PMID: 34980507.

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