Amamentação: perguntas e respostas

Amamentação: perguntas e respostas

A amamentação é um dos momentos mais preciosos e fundamentais para o desenvolvimento saudável dos bebês. Ela fornece suporte nutricional integral, sendo recomendado como a fonte ideal e exclusiva de nutrição para todos os bebês desde o nascimento até os seis meses, e de forma complementar, até os 2 anos de idade.

Mas muito além da nutrição e do desenvolvimento, o aleitamento materno também é responsável pelo desenvolvimento de vínculo, gerando afeto, sensação de segurança e acolhimento ao bebê, o que torna o laço entre os dois, muito forte. Contudo, as taxas de aleitamento materno exclusivo, ainda são muito baixas.

National Infant Feeding Study (2019) apontou que a prevalência de aleitamento materno exclusivo em crianças menores de seis meses foi de 45,8% no Brasil. Ao final do primeiro ano de vida, apenas 43,6% das crianças estão sendo amamentadas.

Mundialmente, as estatísticas também estão ainda abaixo do ideal: apenas quatro em cada dez (44%) crianças são amamentadas exclusivamente nos primeiros seis meses de vida, segundo dados de 2021 da Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS).

Sendo assim, um dos objetivos Globais de Nutrição da World Health Organization (WHO) para 2025, é aumentar a taxa de amamentação exclusiva nos primeiros 6 meses até pelo menos 50%.

Dada a sua importância e a baixa adesão no país, no Brasil, foi instituída a lei nº 13.435/2.017, delegando o mês de agosto, como o mês do aleitamento materno, onde ocorrem de forma intensificada, ações intersetoriais de conscientização e esclarecimento sobre a importância da amamentação, tais como:

  • Realização de palestras e eventos;
  • Divulgação nas diversas mídias;
  • Reuniões com a comunidade;
  • Ações de divulgação em espaços públicos;
  • Iluminação ou decoração de espaços com a cor dourada.

O mês de agosto, ficou então conhecido como Agosto Dourado, por simbolizar a luta pelo incentivo à amamentação, sendo a cor dourada relacionada ao padrão ouro de qualidade que o leite materno representa.

Além da iniciativa no Brasil, há também uma iniciativa de âmbito mundial, criada pela World Alliance for Breastfeeding Action (WABA), cujo objetivo é justamente destacar a importância da amamentação para a saúde infantil e materna. Ela organiza a Semana Mundial do Aleitamento Materno, realizada anualmente de 1 a 7 de agosto, para reunir os esforços de todos os defensores do aleitamento materno, governos e público, em mais de 170 países.

Nesse contexto de ressaltar a importância e o significado do aleitamento materno, esse texto vai abordar diversos aspectos da amamentação, desde dúvidas frequentes até curiosidades, proporcionando informações valiosas para incentivar e apoiar a amamentação.

Como é produzido o leite materno?

A produção de leite é regulada pelo eixo hipotálamo-hipofisário e seus hormônios associados, tendo a ocitocina e a prolactina como os principais hormônios responsáveis pela regulação da produção e no reflexo de descida do leite. A ocitocina é liberada em resposta à amamentação para causar a ejeção do leite e induzir mudanças fisiológicas para promover sua produção.

Qual é a composição do leite materno?

A produção de leite ocorre em estágios, tendo distintas composições em cada um, sendo eles:

Colostro: O primeiro líquido produzido após o parto, durando em média de 5-7 dias, é um líquido mais viscoso e amarelado, que possui grandes concentrações de proteínas, minerais e vitaminas lipossolúveis, particularmente A, E e carotenóides, bem como menores quantidades de lactose, gorduras e vitaminas do complexo B. Ele também é rico em componentes imunológicos como IgA, IgM e IgG secretora, lactoferrina, leucócitos, além de fatores de desenvolvimento como o fator de crescimento epidérmico. Os fatores imunológicos provenientes do leite materno, são responsáveis por fornecer proteção amplamente poderosa contra patógenos enquanto estimulam o desenvolvimento do próprio sistema imunológico do bebê.

Leite de transição: À medida que ocorre o fechamento da junção apertada no epitélio mamário, há uma redução da proporção sódio/potássio e aumento na concentração de lactose, caracterizando agora o que é chamado de leite de transição. Esse processo dura em média até 4 semanas pós-parto.

O leite de transição tem características semelhantes ao colostro, mas representa um período de produção de leite “acelerado” para atender às demandas nutricionais e de desenvolvimento do bebê que está em fase de crescimento.

Leite maduro: O leite maduro possui uma aparência mais consistente e esbranquiçada, tendo mais gorduras e carboidratos, do que o leite na fase de colostro, sendo assim, mais calórico.

Em relação aos macronutrientes do leite materno, as proteínas mais abundantes são a caseína, α-lactalbumina, lactoferrina, imunoglobulina IgA secretora, lisozima e albumina sérica. Já o carboidrato mais abundante, é o dissacarídeo lactose.

Contudo, vale ressaltar que o leite materno possui uma alta capacidade de modificação, pois em bebês nascidos prematuramente, o leite materno tende a ser mais rico em proteínas e gorduras, sendo muito mais calórico, do que em bebês nascidos a termo.

Quais os benefícios do aleitamento materno para o binômio mãe-bebê?

Os benefícios infantis incluem menor risco de: dermatite atópica e gastroenterite, infecções respiratórias, diarreia, hipertensão, diabetes, obesidade, hipercolesterolemia; ajuda do desenvolvimento cognitivo e da saúde bucal. Os benefícios maternos incluem diminuição do risco de câncer de mama, câncer de ovário, doenças cardiometabólicas (diabetes mellitus tipo 2, hipertensão e doença cardiovascular) e depressão pós-parto.

Existe leite fraco? Há estratégias para aumentar a produção do leite?

Não existe leite fraco. Nutricionalmente falando, o leite materno possui uma alta capacidade adaptativa, sendo específico para suprir cada necessidade do bebê. O que pode acontecer é uma redução da produção de leite, o que gera muitas vezes a sensação de “não ser o bastante” para o bebê. Essa produção pode ser afetada por diversos fatores, sendo o mais comum, o estresse e a baixa frequência de amamentação ao longo do dia.

A melhor forma de se aumentar a produção láctea é por meio do aumento de frequência das mamadas. Amamentar em livre demanda, é o melhor para aumentar a produção, especialmente durante a noite. Além disso, evitar ambientes estressantes, dietas muito restritivas e manter a hidratação e alimentação balanceada, são estratégias que ajudam a manter a produção normalizada.

Em todo caso, há também como implementar o uso de lactogogos (ou galactagogos), que são substâncias que podem ser usadas para auxiliar na iniciação, manutenção ou aumento da taxa de síntese do leite materno. Eles incluem preparações farmacêuticas e à base de ervas ou alimentos e devem ter suporte de um profissional para indicar seu uso correto, sem ofertar riscos ao binômio.

  1. Como realizar a ordenha e estocagem de leite corretamente?

A ordenha pode ser uma prática importante para garantir o suprimento de leite e permitir que outras pessoas auxiliem na alimentação do bebê, além de:

  • Aliviar o ingurgitamento mamário;
  • Tornar mais macia a região do mamilo e da aréola para facilitar a mamada pelo bebê;
  • Aumenta a produção de leite e mantém a lactação;
  • Armazenar leite para oferecer ao bebê quando a mãe retorna ao trabalho ou precisa se afastar por um tempo;
  • Auxiliar no tratamento de mastite;
  • Doar a um Banco de Leite Humano, o que configura um gesto de amor e solidariedade.

Para a retirada adequada do leite, é importante que o frasco onde ele será armazenado seja preparado da forma correta. Recomenda-se seguir as seguintes etapas:

  1. Lave um frasco de vidro com tampa de plástico, retirando o rotulo e o papel de dentro da tampa;
  2. Coloque o frasco e a tampa em uma panela, cobrindo-os com agua;
  3. Ferva-os por 15 minutos, contando o tempo a partir do inicio da fervura;
  4. Escorra-os sobre um pano limpo até secar;
  5. Feche o frasco sem tocar com a mão na parte interna da tampa.

E além do preparo do frasco, também deve-se ter atenção à higiene pessoal antes de iniciar a coleta. Por isso, a mulher deve observar os seguintes conselhos:

  • Usar uma touca ou um lenço para cobrir os cabelos;
  • Colocar uma máscara;
  • Lavar as mãos e os braços até o cotovelo com bastante água e sabão;
  • Lavar as mamas apenas com água;
  • Secar as mãos e as mamas com toalha limpa.
  • Massagear as mamas com a ponta dos dedos, fazendo movimentos circulares no sentido da aréola (parte escura da mama) para o corpo;
  • Colocar o polegar acima da linha onde acaba a aréola, os dedos indicador e médio abaixo da aréola e apertar o polegar contra os outros dedos até sair o leite;
  • Desprezar os primeiros jatos de leite;

Para armazenar, siga esses passos:

  1. Após terminar a coleta, feche bem o frasco e anote na tampa do frasco a data e hora em que realizou a primeira coleta de leite e guarde o frasco fechado imediatamente no freezer ou no congelador;
  2. O leite humano ordenhado congelado, pode ser estocado por um período máximo de 15 dias (a partir da data da coleta), se for mantido em temperatura máxima de -3°C;
  3. Já o leite humano ordenhado e refrigerado para ser oferecido pela mãe ao seu bebê, pode ser estocado por um período de até 12 horas, se guardado em temperatura máxima de 5°C;
  4. Depois de descongelado, o leite humano deve ser mantido sob refrigeração, em temperatura máxima de 5°C, por até 12 horas;

E para descongelar o leite, coloque o recipiente em banho-maria (com água potável) aquecendo um pouco, mas sem ferver. Ao desligar o fogo, a temperatura da água deve estar em torno dos 40°C, ou seja, deve ser possível tocar a água sem se queimar. O frasco deve então permanecer na água aquecida até descongelar completamente o leite.

Quais as posições para a amamentação?

Existem diversas posições que podem ser adotadas para amamentar o bebê, como a posição de “berço” e a posição de “cavalinho”, entre outras. A escolha da posição deve levar em conta o conforto da mãe e a eficácia da amamentação para o bebê.

Como tratar dores e mastite durante a amamentação?

A mastite é uma inflamação da mama que pode causar dor e desconforto. No início da amamentação é comum a mulher sentir dor leve ou moderada, e isso acontece devido à forte sucção do bebê, mas isso pode acontecer até a primeira semana de adaptação. Porém mamilos muito doloridos e machucados podem demandar uma intervenção.

A causa mais comum de lesões na mama ocorre por pega e/ou posição incorreta, que causam lesões nos mamilos. Outras causas são mamilos curtos, planos ou invertidos, disfunções orais na criança, freio de língua excessivamente curto, sucção não nutritiva prolongada, uso impróprio de bombas de extração de leite, não interrupção adequada da sucção da criança, uso de cremes e óleos que causam reações alérgicas nos mamilos, uso de protetores de mamilo e exposição prolongada a forros úmidos.

Uma vez instaladas essas lesões mamilares, elas são muito dolorosas e, com frequência, são a porta de entrada para bactérias. Então, além de corrigir o problema que está causando a dor mamilar é importante intervir para aliviar a dor e promover a cicatrização das lesões o mais rápido possível.

Para aliviar a dor, a mãe pode iniciar a mamada pela mama menos afetada; ordenhar um pouco de leite antes da mamada, para auxiliar na cicatrização de fissuras; amamentar em diferentes posições, reduzindo a pressão nos pontos dolorosos ou áreas machucadas.

Curiosidades, mitos e verdades sobre Amamentação:

Cólicas no bebê e amamentação

As cólicas são comuns nos bebês e não estão necessariamente diretamente relacionadas à amamentação. Uma das causas mais comuns de cólicas é a aerofagia (deglutição de ar), por uma pega inadequada durante as mamadas. No entanto, uma dieta saudável e equilibrada da mãe pode ajudar a minimizar desconfortos no bebê.

Gasto calórico e amamentação

A amamentação pode contribuir para o emagrecimento materno, auxiliando na perda de peso pós-parto. No entanto, é essencial que a mãe não restrinja excessivamente a dieta, garantindo que ela obtenha os nutrientes necessários para produção de leite e sua própria saúde.

Micro Rna e amamentação

O leite materno contém micro RNAs (ácidos ribonucleicos), que desempenham um papel importante na regulação de genes importantes (como o controle da fome/saciedade e lipogênese) e no desenvolvimento do sistema imunológico do bebê.

  1. Bancos de leite

Os bancos de leite humano são fundamentais para fornecer leite materno para bebês que não podem ser amamentados diretamente por suas mães e/ou que se encontram internados. Essa ação, salva vidas e contribui para o desenvolvimento saudável dessas crianças.

A amamentação é um ato de amor e nutrição que proporciona benefícios inestimáveis para o bebê e para a mãe. O Agosto Dourado é uma oportunidade de conscientizar a sociedade sobre a importância do aleitamento materno e, como nutricionistas, temos um papel fundamental em auxiliar as mães durante esse período tão especial, contribuindo com a promoção da sua saúde e do seu bem-estar.

Referências:

  • Ballard O, Morrow AL. Human milk composition: nutrients and bioactive factors. Pediatr Clin North Am. 2013 Feb;60(1):49-74. doi: 10.1016/j.pcl.2012.10.002. PMID: 23178060; PMCID: PMC3586783.
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  • Ministério da Educação. Amamentação. 2022. Disponível em:

A campanha “Agosto Dourado” conscientiza sobre a importância do aleitamento materno

 

  • Ministério da Saúde. Mês do Aleitamento Materno no Brasil e Semana Mundial da Amamentação. Disponível em:

Mês do Aleitamento Materno no Brasil e Semana Mundial da Amamentação

  • Ministério da Saúde. Amamentação. Disponível em:

Amamentação

 

  • Sociedade Brasileira de Pediatria. Como colher e estocar o leite materno. Disponível em: https://www.sbp.com.br/especiais/pediatria-para-familias/nutricao/como-colher-e-estocar-o-leite-materno/.
  • Uvnäs Moberg K, Ekström-Bergström A, Buckley S, Massarotti C, Pajalic Z, Luegmair K, Kotlowska A, Lengler L, Olza I, Grylka-Baeschlin S, Leahy-Warren P, Hadjigeorgiu E, Villarmea S, Dencker A. Maternal plasma levels of oxytocin during breastfeeding-A systematic review. PLoS One. 2020 Aug 5;15(8):e0235806. doi: 10.1371/journal.pone.0235806. PMID: 32756565; PMCID: PMC7406087.
  • Westerfield KL, Koenig K, Oh R. Breastfeeding: Common Questions and Answers. Am Fam Physician. 2018 Sep 15;98(6):368-373. PMID: 30215910.
  • WIKIPEDIA. World Alliance for Breastfeeding Action. Disponível em:

World Alliance for Breastfeeding Action

 

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