Descomplicando a bioquímica

Descomplicando a bioquímica

Quem não se lembra das marcantes aulas de respiração celular? Glicólise, ciclo de Krebs, fosforilação oxidativa, aquele processo complexo em que ocorrem quebras de ligações de carbono, são gerados ATPs e uma infinidade de sequências e termos para memorizar.  A bioquímica é, sem sombra de dúvidas, o terror de muitos estudantes de Nutrição, só que ela pode se tornar mais simples! Por isso, respire fundo e muita calma nessa hora! Vamos começar a descomplicá-la juntos?

VIA GLICOLÍTICA

  • Primeiramente, o que é a glicólise?

Pode ser definida como o centro do metabolismo dos carboidratos, já que praticamente todos os glicídios podem ser, no final, convertidos em glicose. Sendo assim, durante esse processo, uma molécula de glicose é convertida em duas moléculas de piruvato, gerando pequenas quantidades de ATP e NADH.

Nós temos a glicólise anaeróbia e a aeróbia. Na primeira, sem a necessidade de oxigênio, a glicose pode ser convertida em piruvato, sendo reduzido pelo NADH para formar lactato.

Essa forma de glicólise, permite a produção contínua de ATP em tecidos que não apresentam mitocôndrias (por exemplo, os eritrócitos) ou em células em que o oxigênio esteja em quantidade insuficiente.

Já na segunda, o oxigênio é necessário para reoxidar o NADH formado durante a oxidação do gliceraldeído-3-fosfato, preparando as condições necessárias para a descarboxilação oxidativa do piruvato à acetil-CoA, que é o principal combustível do ciclo do ácido cítrico.

  • E quais são os seus objetivos?

Principalmente a produção de ATP e a geração de precursores metabólicos para outras vias metabólicas. Além disso, a glicólise fornece intermediários que são utilizados na síntese de compostos importantes para a célula, como: nucleotídeos, aminoácidos e ácidos graxos.

  • Quais vitaminas e minerais atuam como cofatores enzimáticos?

Durante esse processo, algumas vitaminas e minerais desempenham papéis muito importantes como cofatores enzimáticos, auxiliando na catalisação das reações. São eles:

Vitamina B1 (Tiamina): é necessária para converter a glicose em piruvato, contribuindo assim para a produção de ATP.

Vitamina B3 (Niacina): essencial para a atividade de enzimas na glicólise, como a gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase. Essa enzima catalisa a conversão do gliceraldeído-3-fosfato em 1,3-bisfosfoglicerato, gerando NADH no processo, a qual é uma molécula crucial na produção de ATP.

Vitamina B5 (Ácido Pantotênico): Desempenha um papel essencial como parte da coenzima A (CoA), que é um cofator necessário para a atividade de várias enzimas envolvidas na glicólise. A CoA está diretamente envolvida na conversão do piruvato em acetil-CoA.

Magnésio: O magnésio é um mineral que atua como cofator enzimático em várias etapas da glicólise. Ele está envolvido na atividade de enzimas como a hexoquinase e a fosfofrutoquinase, que catalisam reações-chave na via glicolítica. O magnésio desempenha um papel importante na estabilização das estruturas e na regulação da atividade enzimática.

Em resumo, a glicólise é um processo metabólico essencial para a obtenção de energia nas células, especialmente em situações de baixa disponibilidade de oxigênio.

A via glicolítica, portanto, é utilizada em todos os tecidos para a quebra da glicose, com o objetivo de fornecer energia (na forma de ATP) e intermediários para outras vias metabólicas.

 

CICLO DE KREBS

  • O que é o ciclo de Krebs?

É uma etapa da respiração celular que ocorre na mitocôndria. Tem seu início a partir da conversão dos piruvatos (obtidos na glicólise) em Acetil Co-A. A partir daí, uma sequência de reações químicas ocorre, combinando o Acetil Co-A com o oxaloacetato, formando o citrato. E com isso, o citrato sofre uma série de transformações para produzir intermediários, até que o oxaloacetato seja regenerado para reiniciar o ciclo. Essas reações geram NADH, FADH2 e ATP, que são utilizados na produção de energia.

  • Qual a sua importância?

Desempenha um papel fundamental na produção de energia, pois é responsável por fornecer elétrons para a cadeia transportadora de elétrons, que produz adenosina trifosfato (ATP), a molécula de energia utilizada por todas as células do organismo.

  • E quais as vitaminas e minerais envolvidos nesse ciclo?

Vitamina B1 (Tiamina): é essencial para a atividade da enzima piruvato desidrogenase, que converte o piruvato em acetil-CoA.

Vitamina B2 (Riboflavina): componente essencial das enzimas conhecidas como flavoproteínas. A flavoproteína mais importante no ciclo é a succinato desidrogenase. Ela utiliza a riboflavina como parte de seu grupo, permitindo que a enzima catalise a reação de conversão do succinato em fumarato;

Vitamina B3 (Niacina): é necessária para a conversão do isocitrato em alfa-cetoglutarato.

Vitamina B5 (Ácido pantotênico): é um componente fundamental da molécula de coenzima A (CoA), essencial para a transferência de grupos acil (como o acetil) durante o ciclo de Krebs.

Vitamina B7 (Biotina): essencial para o funcionamento de enzimas carboxilases, incluindo a piruvato carboxilase, que é uma enzima importante na via que fornece o substrato (oxaloacetato) necessário para iniciar o ciclo de Krebs.

Fósforo: Durante o ciclo, ocorrem várias reações de fosforilação que levam à formação de ATP. Essas moléculas de fosfato de alta energia desempenham um papel importante na transferência de grupos fosfato para a formação de ATP.

Magnésio: também desempenha um papel crucial como cofator para várias enzimas envolvidas no ciclo;

Ferro: está presente em enzimas chave do ciclo, como a citrato sintase e a succinato desidrogenase.

  Em resumo, o ciclo de Krebs é uma via metabólica essencial para a produção de energia e para a síntese de precursores metabólicos. Ele requer a participação de várias vitaminas e minerais como cofatores enzimáticos e desempenha um papel fundamental na manutenção do metabolismo celular.

 

CADEIA RESPIRATÓRIA

  • O que é a cadeia respiratória?

A cadeia respiratória corresponde a uma série de reações bioquímicas que ocorrem nas membranas mitocondriais, sendo composta por complexos proteicos, sendo eles: complexo I (ubiquinona oxidorredutase), II (succinato desidrogenase), III (citocromo c redutase), IV (citocromo c oxidase) e V (ATP sintase), além de transportadores de elétrons, como o citocromo c e ubiquinona.

Esses complexos são responsáveis por bombear íons H+ para o espaço intermembranar das mitocôndrias, criando um gradiente eletroquímico, que é utilizado pela ATP sintase para a síntese de energia (ATP).

  • Qual é a sua importância e objetivos?

A cadeia respiratória atua produzindo energia nas células, sendo responsável por gerar a maior parte do ATP, que é utilizado em processos metabólicos essenciais, como a contração muscular, a síntese de proteínas e a manutenção do potencial de membrana celular.

   Um dos principais objetivos da cadeia respiratória é garantir o fornecimento de ATP para as células e a formação de água como produto final, sendo a sua atividade regulada pelas necessidades energéticas das células.

  • Vitaminas/minerais importantes na cadeira respiratória:

Existem várias vitaminas e minerais que atuam como cofatores enzimáticos e desempenham um papel importante na cadeia respiratória.

A tiamina (B1) é essencial para a descarboxilação oxidativa de complexos multienzimáticos de cadeia ramificada do ciclo do ácido cítrico. A riboflavina (B2) é necessária para as flavoenzimas da cadeia respiratória, enquanto o NADH é sintetizado a partir da niacina (B3) e é necessário para fornecer energia para a fosforilação oxidativa. O ácido pantotênico (B5) é necessário para a formação da coenzima A e também é essencial para a oxidação de ácidos graxos. A biotina (B7) é a coenzima das descarboxilases necessária para a gliconeogênese e oxidação de ácidos graxos. O ferro possui papel importante no transporte de elétrons através dos Complexos I, II e III para o citocromo c.

Alguns minerais também são necessários como cofatores na cadeia respiratória. O ferro possui papel importante no transporte de elétrons através dos Complexos I, II e III para o citocromo c.  Uma metaloenzima contendo cobre, a citocromo c oxidase mitocondrial (COX), é a receptora final de elétrons na cadeia de transporte de elétrons mitocondrial e é necessária para a produção aeróbica de ATP.

A Cadeia Respiratória é um processo vital para a produção de energia nas células, especialmente nas mitocôndrias, sendo fundamental para a manutenção das funções celulares e do organismo como um todo. Ela cria um gradiente eletroquímico que leva à criação de ATP em um sistema completo denominado fosforilação oxidativa.

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