O que você precisa saber sobre Cálculo Energético

O que você precisa saber sobre o cálculo energético do seu paciente

O cálculo das necessidades energéticas, ou apenas cálculo energético, faz parte do atendimento nutricional, servindo como base para a prescrição do planejamento alimentar.

Para assertividade nos cálculos é indispensável saber o que, quando e para quem usar. Sem isso em mente, pode ocorrer a subestimação ou superestimação das demandas energéticas, afetando os objetivos propostos e o tratamento.

Para a construção dos cálculos energéticos são necessários alguns dados, como peso, altura, idade e sexo biológico, e ainda, em alguns casos, a massa livre de gordura (MLG), dependendo da fórmula a ser empregada.

Dificilmente uma fórmula se encaixará perfeitamente a um indivíduo, sendo fundamental o conhecimento sobre as características da população que a fórmula foi criada, a fim de adequar-se a realidade do paciente.

Uma fórmula grandemente conhecida é a de Harris Benedict, que possui sua versão original de 1919, outra revisada de 1984 e utiliza o peso, altura, idade e sexo para o cálculo. Além dessa, outras fórmulas são muito usadas, como: FAO/WHO (1985/2004) e a EER/IOM (2005). Ambas utilizam peso, idade e sexo, com acréscimo da altura na fórmula da IOM.

As equações citadas acima são voltadas para indivíduos com composição corporal mediana, levando em consideração que usam somente o peso total no cálculo. Baseado nisso, pode haver subestimação das necessidades energéticas em indivíduos treinados fisicamente, por exemplo, e superestimação em indivíduos com excesso de peso.

Existem ainda, outras equações que empregam em seus cálculos a massa livre de gordura, como a de Mifflin (1990), que pode ser aplicada a indivíduos com excesso de peso, e as fórmulas de Cunningham (1980) e Tinsley (2018), utilizadas para indivíduos ativos fisicamente e que possuem baixo percentual de gordura.

A maior parte das fórmulas de estimativa de gasto energético foram criadas com base em populações norte-americanas e europeias, representando um certo impasse, devido as diferenças étnicas, climáticas e de estilo de vida local, nos quais podem ter um impacto nas necessidades energéticas e, portanto, subestimar ou superestimar os resultados calculados.

Por exemplo, as equações da FAO/WHO indicadas para uso internacional, tendem a superestimar a taxa metabólica basal, principalmente em populações de regiões tropicais. Tal fato tem sido explicado pelo reconhecimento da inadequação do banco de dados utilizado na geração das equações, tornando questionável a utilização universal.

A equação de Henry e Rees (1991) foi desenvolvida para populações tropicais e, geralmente, fornece estimativas menores e mais próximas de valores gerados por calorimetria indireta, do que aquelas derivadas de populações norte-americanas e europeias. Como a maioria das equações superestima as necessidades energéticas, essa costuma chegar mais próximo dos valores fornecidos pela calorimetria indireta para essa população.

Na população brasileira ainda são escassos os estudos de validação e, ainda assim, por ser um país de grande dimensão e de diferenças étnicas seriam necessários diversos estudos espalhados pelo território para chegar a uma estimativa representativa da população.

Já foi demonstrado, por estudos feitos no Brasil, que as equações existentes superestimavam e/ou subestimavam as necessidades energéticas, quando comparadas aos métodos de medição indireta (calorimetria). Logo, deve-se ter consciência das limitações, observar para quem está sendo utilizado a fórmula e se esse poderia ser um dos motivos que leve o indivíduo a estagnação do peso.

 

Referências:
1) Harris JA, Benedict FG. A biometric study of basal metabolism in man. Boston: Carnegie Institution of Washington; 1919.
2) Henry CJK, Rees DG. New predictive equations for the estimation of basal metabolic rate in tropical peoples. Eur J Clin Nutr 1991;45:177-85
3) FAO/WHO/UNU. Energy and protein requirements. Geneva: World Health Organization, 1985. [WHO Technical Report Series, 724].
4) SCHOFIELD, W. N., 1985. Predicting basal metabolic rate, new standards and review of previous work. Human Nutrition: Clinical Nutrition, 39(Sup. 1): 5-41.
5) Roza AM, Shizgal HM. The Harris Benedict equation reevaluated: resting energy requirements and the body cell mass. Am J Clin Nutr. 1984 Jul;40(1):168-82. doi: 10.1093/ajcn/40.1.168. PMID: 6741850.
6) Wahrlich V, Anjos LA. Rev Saude Publica. 2001;35. Doi: 10.1590/S0034-89102001000100006

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