Burnout: estratégias de educação alimentar e nutricional para lidar com a síndrome do esgotamento emocional
Em 2019 a Síndrome de Burnout entrou na 11º revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID). Somente em 2022 a OMS passou a considerar a síndrome como uma doença ocupacional caracterizando-a como: Resultado do estresse crônico no ambiente de trabalho sem sucesso no seu gerenciamento.
Joel Goh et al. (2015) estimaram que o estresse no local de trabalho é responsável por até 8% dos gastos nacionais em saúde e contribui para 120.000 mortes por ano.
Dos 70% de brasileiros que sofrem com estresse estima-se que 30% sejam vítimas do Burnout, atingindo de forma mais frequente as mulheres do que os homens. Especula-se que possa ser devido a várias questões como diferenças salariais, acúmulo de tarefas (casa e trabalho), pressão da sociedade, isto quando comparadas aos homens.
Sinais e sintomas
A síndrome de Burnout aborda 3 dimensões: Sensação de esgotamento físico e exaustão; Sentimentos de negativismo em relação ao trabalho e distanciamento mental (apatia, cinismo); Perda do desempenho profissional.
Sintomas físicos também são comuns com início leve e agravando ao longo do tempo, como dores de cabeça, fadiga crônica, distúrbios gastrointestinais, alterações do apetite, elevação da pressão arterial, dificuldade de concentração e distúrbios do sono, entre outros. O burnout apesar de ter sinais e sintomas muito similares à depressão, tem como principal diferença estar relacionado estritamente ao trabalho.
Impactos na vida pessoal e profissional
Se não for tratado, o Burnout pode levar a depressão, ansiedade e distração, o que pode afetar não apenas suas relações de trabalho, mas também suas interações pessoais. Com o nível de estresse atingindo picos alarmantes é mais difícil regular emoções como tristeza, raiva e culpa, o que pode resultar em ataques de pânico, explosões de raiva e uso de substâncias como álcool, drogas ilícitas, medicamentes, entre outros.
Estratégias para prevenção e manejo da síndrome de Burnout
A má alimentação, sono inadequado e sedentarismo, em conjunto, aumentam o risco de doenças crônicas não transmissíveis e de estresse, sendo importantes áreas para prevenção e manejo da síndrome de Burnout.
A intervenção, portanto, pode ocorrer a nível individual, da equipe de trabalho ou de toda uma organização. Há escassez de estudos principalmente da área de nutrição com relação a essa temática e muitas das estratégias de manejo foram adaptadas de outros trabalhos sobre estresse e distúrbios cognitivos.
Uma alimentação saudável pode estar relacionada a menor incidência do burnout, e indivíduos com excesso de peso e obesidade, que possuam hábitos sedentários, podem estar mais suscetíveis.
Baseado nisto é recomendada uma dieta com propriedades anti-inflamatórias, composta de alimentos in natura e minimamente processados, como frutas, legumes e verduras, grãos integrais e gorduras mono e poliinsaturadas (azeite, sementes, oleaginosas, peixes, entre outros), além de alimentos fonte de triptofano (ovos, leite, banana, chocolate >70%), precursores da serotonina que, dentre outras funções, auxilia na melhor qualidade do sono. Evitando alimentos ultraprocessados e fontes de gordura saturada (embutidos, carnes vermelhas, óleo de coco e palma, azeite de dendê, manteiga, margarina, banha de porco, entre outros).
Entram na alimentação e como parte do cuidados os compostos bioativos, que são classificadas como “substancias químicas que conferem as propriedades funcionais aos alimentos e apresentam inúmeras atividades biológicas à saúde humana.” Esses compostos são metabólitos secundários das plantas produzidos principalmente como mecanismos de defesa e possuem propriedades anti-inflamatórias como pela sua ação na neutralização das espécies reativas de oxigênio.
A biodisponibilidade desses compostos pode ser afetada a depender de alguns fatores como: processamento dos alimentos (enlatatamento e refinamento); aquecimento, refrigeração, congelamento; Forma de cultivo da planta.
Alguns alimentos com propriedades funcionais devido a seus compostos são:
- Canela
- Cacau
- Sugestões: Maçã cozida salpicada com cacau em pó e canela; Leite batido com cacau e canela.
- Chás, em especial o chá-verde
- Camellia sinensis L. (chá verde, branco, oolong, preto);
- Camomila, erva-cidreira, capim-limão, entre outros;
- Linhaça
- Oleaginosas
- Sugestões: Fruta + farinha linhaça ou oleaginosas + iogurte integral; Quiche com farinha de linhaça; Kibe com farinha de linhaça
- Cúrcuma
- Sugestões: Ovo mexido com cúrcuma; Arroz integral com cúrcuma,
- Aveia
- Sugestões: Mamão com aveia; Hamburguer veg. com aveia; Mingau de aveia
Além das mudanças na alimentação é necessário procurar suporte profissional (psicólogos e psiquiatras) para prevenção, diagnóstico e tratamento adequado da síndrome de Burnout.
Sono adequado
Para um sono adequado em tempo e qualidade:
- Evitar cafeína após às 18h (café, chá verde, pré-treinos);
- Estabelecer rotina regular na hora de dormir (banhos quentes, chás calmantes, pouca luz, música, meditação, ler livro, entre outros);
- Evitar utilizar aparelhos eletrônicos que emitem luz.
Exercício e atividade física
Os benefícios da atividade física e do exercício são enormes. Além das adaptações cardiovasculares, eles podem aumentar o fluxo sanguíneo cerebral, regular os fatores neurotróficos (por exemplo, fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF)), apoiar a função cognitiva. Além disso, a atividade física pode facilitar o “desligamento” psicológico do trabalho, o que reduz o estresse e aumenta o desempenho no trabalho. Como as pessoas acometidas pelo Burnout têm níveis reduzidos de BDNF, aumento do estresse no trabalho e diminuição da função cognitiva, os benefícios da atividade física acima mencionados podem reduzir o risco de Burnout.
Microbiota intestinal
A microbiota intestinal conhecida como “segundo cérebro” tem também papel nesse cuidado. Para evitar uma disbiose intestinal e garantir uma saúde adequada, a ingestão de fibras solúveis e insolúveis (frutas, legumes e verduras, cereais integrais, etc), a ingestão hídrica adequada são imprescindíveis. Já o uso de probióticos, como kefir, kombucha, iogurte, suplementos, não há conclusão sobre melhores cepas, tempo de uso e isso será avaliado caso a caso.
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