O álcool é a substância recreativa mais amplamente utilizada. Além de já serem conhecidos os diversos efeitos deletérios ao organismo, vale a pena entender como esta bebida afeta a reprodução humana, dado que uma parcela substancial da população que ingere álcool está em idade reprodutiva. Vale ressaltar que o uso de álcool está associado a múltiplos riscos reprodutivos, incluindo Transtorno do Espectro Alcoólico Fetal, aumento do risco de perda fetal e redução da chance de nascimento vivo.
A ingestão crônica de álcool e em altas quantidades (mais que 5 dias, nos últimos 30 dias) pode levar a alterações na ovulação, na regularidade do ciclo menstrual, assim como reduzir o potencial reprodutivo da mulher. Por outro lado, a relação entre o uso leve a moderado de álcool e a infertilidade feminina ainda não foi totalmente esclarecido. Porém, as mulheres que já procuram tratamento para infertilidade devem ser encorajadas a minimizar o consumo de álcool, pois mesmo níveis moderados podem afetar negativamente sua capacidade de conceber.
Já em relação a fertilidade masculina, o uso pesado de álcool a longo prazo também demonstrou reduzir a capacidade reprodutiva, com diminuição da produção de testosterona e esperma, assim como a redução da qualidade do sêmen.
Além disso, algumas evidências demonstram que o abuso de álcool e a intoxicação aguda estão associados à disfunção sexual, incluindo problemas de excitação e desejo, bem como disfunção erétil e ejaculatória, o que pode levar a dificuldades em conceber se os homens não conseguirem ter relações sexuais efetivas. Os efeitos do consumo baixo a moderado de álcool, no entanto, não parecem ser clinicamente significativos.
Dada a consequência da ingestão excessiva de álcool, deve ser evitada a ingestão por quem deseja engravidar. Pode-se considerar a ingestão excessiva como mais de 14 doses/semana para homens e mais de 7 doses/semana para mulheres, sendo uma dose padrão de bebida alcoólica no Brasil equivalente a 14g de álcool puro. Isso corresponde a 350 mL de cerveja, 150 mL de vinho ou 45 mL de destilado (vodca, uísque, cachaça, gin e tequila, por exemplo).
Referências:
1) Van Heertum K, Rossi B. Alcohol and fertility: how much is too much? Fertil Res Pract. 2017 Jul 10;3:10. doi: 10.1186/s40738-017-0037-x. PMID: 28702207; PMCID: PMC5504800.
2) Duncan BB, Schmidt MI, Giugliani ERJ, organizadores. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseada em evidências. 3a Ed. Porto Alegre: Artmed Editora; 2004.