Nutrição além das calorias

Nutrição além das calorias e o terrorismo nutricional

Rotinas corridas, longas jornadas de trabalho, ausência de qualidade de sono, falta de tempo para autocuidado. Todos esses fatores afeta a saúde individual, tanto mental quanto física. E no que tange a alimentação, a relação de uma pessoa com esse padrão de vida com a comida, acaba ficando comprometida.

O organismo possui uma boa capacidade de autorregulação, poupando ou gastando mais energia conforme demanda, mas isso não é sinônimo de equilíbrio. Um exemplo clássico, é o desenvolvimento de ansiedade e crises compulsivas em relação à alimentos, por conta da rotina atribulada. Posteriormente, a busca pela redução do ganho de peso de forma abrupta. Assim, dietas restritivas extremas são realizadas, bem como a demonização de alimentos, especialmente os carboidratos.

Contudo, esse terror formado em cima da alimentação, gera impactos profundos na saúde, como pensamentos obsessivos sobre comida e alimentação, contagem de calorias, maior risco de depressão e excessos em resposta a emoções negativas e estresse, além do desenvolvimento de uma relação de culpa e fobia alimentar.

Essas respostas adversas à perda de peso podem explicar em parte o peso recuperado após intervenções restritivas. E é nesse ponto que a Nutrição pode fazer toda a diferença. Existem diretrizes sobre obesidade que sugerem o uso de abordagens nutricionais de natureza não restritiva e que podem incluir uma combinação de estratégias dietéticas e comportamentais.

São exemplos: a Health at Every Size (HAES), a dieta mediterrânea, mindful eating ou estratégias dietéticas que se concentram na saciedade e nos alimentos que aumentam a saciedade.

O programa HAES, por exemplo, é baseado em uma não-dieta, que propõe uma mudança da abordagem tradicional que seria centrada no peso para uma mais focada na saúde, mostrando que os hábitos de vida são determinantes-chave da saúde e podem ser otimizados independentemente do peso.

Sendo assim, a alimentação não deve se basear apenas em números de calorias totais do dia, e nem deve ser vista dessa forma pelo paciente. A Nutrição cuida do indivíduo como um todo, avaliando sua rotina, seu convívio social, seus horários, preferências, hábitos e cultura, visando sua saúde integral: física, emocional e mental.

Mas o que é o terrorismo nutricional?

Esse é o termo utilizado para descrever a prática de promover alimentos como “saudáveis”, “milagrosos” ou o contrário, como “prejudiciais”, sem evidências científicas suficientes para apoiar tais afirmações. Isso pode levar as pessoas a adotarem dietas restritivas ou exageradas em determinados alimentos ou grupo de alimentos, o que pode ser prejudicial à saúde e contribuir para o desenvolvimento de transtornos alimentares.

Alguns exemplos de terrorismo nutricional são a dieta do ovo, a restrição do leite devido ao seu suposto efeito inflamatório, restrição de alimentos com glúten sem indicação clínica, dieta do gelo, a famosa dieta de batata doce e frango, além de várias outras.

Por exemplo, a promoção da ingestão exagerada de ovos cozidos como uma fonte de proteína saudável pode levar ao aumento da ingestão de gorduras totais, colesterol total e consequentemente, mais calorias. Embora seja verdade que os ovos são uma boa fonte de proteína, devemos ter atenção e equilibrar as fontes de lipídios da dieta, pois o excesso de gordura saturada leva ao aumento do risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Outro exemplo é a promoção da ingestão excessiva ou exclusiva de batata doce como uma alternativa saudável ao arroz ou à massa. Embora a batata doce seja rica em vitaminas e minerais, restringir a ingestão de carboidratos a uma única fonte pode limitar a ingestão de micronutrientes, levar a possíveis deficiências e prejudicar a adesão ao planejamento.

Resumo:

É importante ter cuidado com as afirmações nutricionais exageradas e não confiar em alimentos específicos como a solução para uma dieta saudável.

Uma dieta equilibrada e variada, com moderação em todos os alimentos, é a chave para uma boa saúde e você, como Nutricionista, deve orientar seus pacientes sobre esses conceitos e ajudá-los a alcançar uma dieta saudável e equilibrada que atenda às suas necessidades individuais.

É interessante ressaltar que o Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado em Novembro de 2014, é uma ótima ferramenta para orientar e educar os pacientes sobre práticas alimentares saudáveis.

Referências:

  1. Iceta S, Panahi S, García-García I, Michaud A. The Impact of Restrictive and Non-restrictive Dietary Weight Loss Interventions on Neurobehavioral Factors Related to Body Weight Control: the Gaps and Challenges. Curr Obes Rep. 2021 Sep;10(3):385-395. doi: 10.1007/s13679-021-00452-y. Epub 2021 Jul 27. PMID: 34318394.
  2. Bremner JD, Moazzami K, Wittbrodt MT, Nye JA, Lima BB, Gillespie CF, Rapaport MH, Pearce BD, Shah AJ, Vaccarino V. Diet, Stress and Mental Health. Nutrients. 2020; 12(8):2428. https://doi.org/10.3390/nu12082428
  3. Gershuni VM. Saturated Fat: Part of a Healthy Diet. Curr Nutr Rep. 2018 Sep;7(3):85-96. doi: 10.1007/s13668-018-0238-x. PMID: 30084105.
  4. BRASIL. Ministério da Saúde. Guia alimentar para a população brasileira. Brasília: Ministério da Saúde, 2ª edição. 1ª reimpressão. Brasília — DF. 2014.
  5. Ulven SM, Holven KB, Gil A, Rangel-Huerta OD. Milk and Dairy Product Consumption and Inflammatory Biomarkers: An Updated Systematic Review of Randomized Clinical Trials. Adv Nutr. 2019 May 1;10(suppl_2):S239-S250. doi: 10.1093/advances/nmy072.
  6. Bordoni A, Danesi F, Dardevet D, Dupont D, Fernandez AS, Gille D, Nunes Dos Santos C, Pinto P, Re R, Rémond D, Shahar DR, Vergères G. Dairy products and inflammation: A review of the clinical evidence. Crit Rev Food Sci Nutr. 2017 Aug 13;57(12):2497-2525. doi: 10.1080/10408398.2014.967385.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Back To Top